Depois da queda polémica do Governo, António Costa chega ao topo de uma instituição europeia para assumir um cargo mais bem pago e menos stressante do que ser primeiro-ministro. Numa altura em que a União Europeia (UE) se vê obrigada a repensar o papel no mundo e no xadrez geoestratégico.
Conta menos de um mês no cargo e duas viagens de comboio à Ucrânia e a um ex-Estado membro. Nas duas horas de viagem até ao Reino Unido finalizam a declaração conjunta que sairá da reunião com o primeiro-ministro britânico. Depois do divórcio, há vontade dos dois lados de melhorar as relações e a cooperação.
António Costa levava um convite e Keir Starmer aceitou - ir a Bruxelas em fevereiro - participar numa das inovações do novo presidente do Conselho Europeu - um retiro de líderes para refletirem sobre defesa.
Como será a dinâmica "Costa/Von der Leyen"?
Este é um dos principais testes ao mandato do novo presidente do Conselho Europeu, sobretudo porque correu muito mal com o antecessor Charles Michel, com que a alemã mal falava. Agora os dois presidentes almoçam a cada 15 dias e os gabinetes estão em contacto permanente para preparar as cimeiras e evitar mal entendidos.
Ursula Von der Leyen é conhecida por ser controladora, uma máquina de dar boas notícias e ganha-lhe em popularidade. Já António Costa beneficia de mais anos à mesa dos líderes. Agora passou a cadeira a Luís Montenegro e aprende uma nova coreografia.
Pela frente tem muitas caminhadas até a sala de imprensa. Na estreia, esta quarta-feira, prestou contas sobre a Cimeira entre os 27 e os Balcãs ocidentais. Só que os seis países querem mais do que uma foto de família e é preciso gerir as frustrações.
Costa invoca as regras do novo cargo para se afastar da política nacional
A conversa com o chefe do Governo espanhol acontece, na manhã de quinta-feira, na reunião dos Socialistas Europeus. António Costa continua a marcar presença nas reuniões da família política, mas invoca as regras do novo cargo para se afastar da política nacional.
O encontro entre socialistas serve para alinhar posições antes do Conselho Europeu, só que António Costa já não tem poder de decisão. Fala menos em nome próprio e mais em nome dos 27. Um equilíbrio difícil e o risco é de defender posições que não defenderia como primeiro-ministro.
"Espero que isso não aconteça. Se isso acontecer, espero relembrar, reviver os meus tempos de advogado, onde tinha uma causa para defender e era essa a causa que eu defendia. A convicção de um advogado é sempre na causa que tem para defender", afirmou António Costa.
Os 27 chegaram a acordo sobre o texto final ainda antes de a cimeira começar. O que não acontecia desde 2012, mas a discussão política mais interessante, incluindo sobre Donald Trump, ficou fora no papel.
As expectativas são elevadas. A questão é se consegue manter a mesma eficácia quando houver decisões difíceis para tomar nas migrações, no apoio à Ucrânia e da sempre polémica negociação dos fundos europeus.