"O ministro do Interior do governo do regime deposto, Mohammed [Ibrahim] al-Shaar, dirigiu-se ao Departamento de Segurança Geral", informou o ministério em comunicado.

É uma das figuras mais importantes do anterior regime a render-se às autoridades.

Al-Shaar foi ministro do Interior de 2011 a 2018, no auge da guerra civil na Síria.

Foi também um dos altos dirigentes de Assad atingidos pelas sanções da União Europeia e dos Estados devido à repressão sangrenta dos protestos antigovernamentais em 2011, ano do início da guerra civil que, durante quase 14 anos, fez mais de 500 mil mortos e milhões de deslocados.

Em 2012, um advogado libanês apresentou uma queixa contra Al-Shaar, acusando-o de ordenar centenas de assassínios em Tripoli em 1986, quando era responsável pela segurança na cidade portuária do norte do Líbano.

Nesse ano, foi ferido no ombro num ataque suicida na sede do seu ministério.

O ataque foi reivindicado pelo grupo 'jihadista' Frente al-Nusra, do qual surgiu a Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), que liderou a ofensiva rebelde responsável pelo derrube de Assad em 08 de dezembro do ano passado.

Bashar al-Assad partiu naquela data para a Rússia, país aliado do seu regime, e muitos outros altos dirigentes terão também abandonado a Síria para parte incerta.

O líder do HTS, Ahmed al-Charaa, é desde a semana passada Presidente interino da Síria e defendeu nessa mesma altura que será necessário "processar os criminosos que derramaram sangue sírio e cometeram massacres e crimes", quer estejam presentes no país ou no estrangeiro, ao mesmo tempo que se comprometeu com "uma verdadeira justiça de transição".

A queda de Assad expôs a brutalidade da repressão, após a libertação de milhares de prisioneiros políticos que permaneciam em condições desumanas nas cadeias do país, bem como a descoberta de locais que se suspeita conterem valas comuns de assassínios em massa.

Os investigadores das Nações Unidas acreditam que apesar da destruição de documentos e de outras provas de crimes na Síria sob o regime de Bashar al-Assad há "muitas provas" que permanecem intactas.

"O país é rico em provas e não teremos grandes dificuldades em obter justiça", disse na sexta-feira o membro da comissão de investigação da ONU para a Síria, Hanny Megally.

Em 2022, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma organização sediada em Londres com uma vasta rede de informadores no país, calculou que mais de 100 mil pessoas tenham morrido nas prisões desde 2011, nomeadamente em resultado de tortura.

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