A dívida deixou de ser para gerir, é para pagar. O conceito é inverso ao entendimento político e social que dominou na década passada, mas nos últimos anos não há quem deixe de reconhecer as virtudes de manter contas certas e cumprir os compromissos internacionais. Mas é mesmo preciso excedente? Não poderia ao menos parte dessa receita que fica depois de paga a despesa ser usada para investimento público ou par ajudar a resolver problemas estruturais, como a crise na saúde ou na habitação?

Para o economista João Duque, não há qualquer dúvida de que o excedente está a ser bem usado em pagamento da dívida. No quarto episódio do podcast do SAPO Acerto de Contas, o também presidente do ISEG explica que há momentos em que o endividamento é bem vindo e outros em que, mesmo havendo excedente orçamental, não se deve cair na tentação de usar esse dinheiro. "Há momentos em que se deve tomar medicamentos e noutros não", exemplifica, para explicar: "Quando falamos de contas equilibradas temos de pensar na situação concreta."

"Se estamos a crescer, só devemos endividar-nos para questões muito específicas e aproveitando taxas de juro muito baixas. Se não se tivesse baixado impostos, íamos continuar a ter excedentes cada vez maiores — também não defendo isso. Mas nesta fase há espaço para deixar mais rendimento no bolso dos portugueses, cobrando menos impostos, para que façam com o seu dinheiro o que entenderem, continuando a pagar dívida." Porque com isso estamos a poupar, nomeadamente nos juros que pagamos sobre a dívida, mas também a fazer crescer um capital de confiança que ajudará a mantê-los baixos quando for necessário voltar a contrair dívida.

"Esta é também uma questão de reputação", simplifica João Duque, e uma estratégia que faz ainda mais sentido dada a instabilidade e indefinição do atual contexto internacional. Por outro lado, defende, é fundamental apostar numa economia menos baseada em consumo. "Aumentar a confiança dos investidores vai atraí-los a aqui criar valor acrescentado, permitindo criar mais riqueza", lembra ainda, frisando que quem não cria riqueza apenas poderá distribuir pobreza.

Numa conversa de 15 minutos em mais um episódio do podcast Acerto de Contas, do SAPO, o economista João Duque explica a economia por trás das promessas eleitorais, responde às dúvidas e no final aponta o "pecado capital" e a "subida aos céus" naquilo que são os caminhos desenhados para uma solução.

Em seis episódios, o Acerto de Contas aborda seis temas-chave na campanha às Legislativas 2025 e que vão marcar a governação após as eleições de 18 de maio. Além da habitação, da saúde, da imigração e das contas certas, olhamos caminhos para fazer crescer o país e os rendimentos dos portugueses.

O quinto episódio do Acerto de Contas chega já amanhã, focado na melhoria dos salários. Afinal, andamos a pagar muitos impostos? Ou o problema é a qualidade dos serviços públicos que eles financiam? Veja tudo aqui no SAPO ou no Spotify.