Houve apenas um compasso de espera quando as projeções do Livre aparecerem na televisão, assim que se ouviu que o partido poderia subir ouviram-se alguns aplausos na pequena sala no Teatro Thalia, em Lisboa. Viam-se vários sorrisos aliviados entre os rostos, na maioria jovens, após Rui Tavares ter garantido que estavam “serenos e de consciência tranquila”. No dia em que a esquerda tombou, o Livro foi a exceção, mas o partido garante que a noite foi "agri-doce" e que estará no Parlamento para ser oposição à maioria de direita.

Rui Tavares não esconde que a noite acabou por não ser apenas de festa.Com uma maioria de direita, o lugar do Livre é na oposição. Uma oposição séria, uma oposição vigorosa, mas uma oposição sempre otimista e construtiva para o nosso país”, afirmou.

O resultado da esquerda, com uma descida abrupta do PS e do Bloco de Esquerda não aconteceu “por falta de aviso”. Rui Tavares voltou a defender que “não bastava dizer às pessoas que o Luís Montenegro não deveria continuar pelas confusões em que se meteu e nos meteu”, mas que “a esquerda tinha de ter uma alternativa de governação muito clara, que deixasse as pessoas descansadas em relação ao que iria acontecer na saúde, na habitação e na educação e que as mobilizasse para o futuro”.

Com os olhos postos no futuro, o partido reforça que “Portugal pode ser muito mais que isto”, mas para isso é preciso diálogo. “O primeiro passo para os partidos de esquerda se entenderem é ninguém obrigar o outro a ser aquilo que não é”, salienta. Nas próximas eleições, garante que o partido continuará a crescer até ultrapassar a Iniciativa Liberal e “esvaziar” o Chega. Apesar do crescimento, algumas metas não foram alcançadas como um deputado em Aveiro ou ultrapassar a IL (ficou a três deputados de empatar). Também a possibilidade de formar governo com o PS ficou muito aquém do esperado com apenas 64 mandatos em conjunto dos 116 necessários, ou dos 98 conquistados pela AD em conjunto com a IL.

Uma festa comedida

Às 21h, havia cerca de 10.500 mil votos a mais do que à mesma hora em 2024 e esse número apenas continuaria a crescer. De 3,26% subiram para 4,20%. Foi a essa hora que Isabel Mendes Lopes, co-porta-voz do Livre expressou “preocupação” pelo crescimento em “maré alta” da “direita radicalizada” e prova disso é que, assim que André Ventura falou aos jornalistas, o som do ecrã da sala foi de imediato reduzido. Mas também agradeceu pela confiança do voto no Livre, que “nunca” abandonará os seus eleitores" e que irá continuar “a trabalhar pelo país” que sabem “ser possível”. "Sabemos que um país não se constrói com base no ódio, na polarização, na desconfiança", por isso, o partido quer "recuperar" um país baseado na democracia e nos direitos humanos.

O primeiro momento feliz da noite aconteceu pouco após as 22h com a eleição de Jorge Pinto, pelo círculo eleitoral do Porto, logo seguida da eleição de Rui Tavares no círculo eleitoral de Lisboa. “Não quero que sobrevivam, quero que vivam”, afirmou ao pedir para os militantes continuassem de “olhos postos” numa vitória.

A tal vitória foi alcançada poucos minutos antes das 23h com a eleição de Paulo Muacho pelo círculo eleitoral de Setúbal. Contudo, foi a novata Filipa Pinto que começou a mostrar o crescimento do partido ao ser eleita pela primeira vez pelo círculo eleitoral do Porto. No agregador de sondagens do Instituto Superior Técnico, previa-se que o máximo de mandatos alcançados pelo partido fosse cinco, no final conquistaram seis.

Com mais dois deputados do que o ciclo eleitoral anterior, este resultado mostra que o Livre “consegue crescer” mesmo em situações adversas, como o crescimento da direita. “O Livre ainda vai crescer muito mais quando dermos a volta a esta situação política”, afirmou Rui Tavares.

Com a promessa de que será um “orgulho” para os mais de 250 mil eleitores que depositam a sua confiança no partido, o porta-voz garante que vão “dinamizar um grande movimento democrático e progressista” no país, no que “é o início de uma reviravolta” face à radicalização da direita. O Livre foi o único partido da esquerda que conseguiu assegurar o crescimento, mostrando que “não é um partido de nicho” e que é um partido de “vocação maioritária, que tem de ser materializada em conjunto”.

Rui Tavares reforçou ainda que o foco está agora nas eleições autárquicas, nas quais o partido quer começar a mudar o panorama e apresentar o “máximo de listas progressistas” com lideranças “locais” e “jovens”. Também as eleições presidenciais ganharam, “a partir de hoje, ainda mais importância” com a vontade de colocar o Livre no “centro da eleição”.