O Budismo nasce no século quinto antes de Cristo. Não tem datas fixas para as principais celebrações, porque se rege por um calendário diferente daquele a que estamos habituados: o calendário lunar.
"Diria que o principal evento do calendário budista é o Vesak, que acontece no que se designa a lua cheia do quinto mês, que normalmente calha em Maio (...) é a celebração do nascimento, da iluminação e da morte do Buda", conta o Monge Appamado do Mosteiro Budista Sumedharama.
O Buda é figura central nesta fé - um homem que terá nascido no atual Nepal e que, de acordo com os budistas, alcançou a verdade a partir da introspeção.
"Depois de muitos anos de prática teve uma experiência a que chamamos iluminação, em que percebeu o que descreveu como as quatro nobres verdades (...) a primeira nobre verdade (...) o mundo material é insatisfatório em si, não nos pode dar uma satisfação intemporal (...) a segunda nobre verdade é que há uma origem para essa insatisfação (...) a terceira nobre verdade é que há uma saída (...) e a quarta nobre verdade é uma descrição do caminho".
Atingir o Nirvana
O caminho proposto pelo Budismo passa por reencarnações até ser atingido o Nirvana - fora do tempo e do espaço. "O ser que atinge a iluminação não voltará a reencarnar", sublinha o Monge Appamado.
Depois da morte de Buda houve divisões entre os crentes. No Mosteiro Sumedharama, na Ericeira, praticam o Budismo Theravada. Vivem 10 monges neste local de culto, sendo que três são portugueses. Com o Natal à porta, querem fazer o melhor uso de cada época.
"Neste caso se é uma época natalícia vamos exatamente perceber o que é essa época natalícia: celebra-se o nascimento de Jesus (...) ou celebra-se também todo o ensinamento que Jesus trouxe e, portanto, as questões que se falam do amor, da paz, da compaixão".
Nos dias de Natal é costume receberem no Mosteiro crentes que podem pertencer a outras fés. Chegam à procura de um dia dedicado à meditação e os monges não se coíbem de desejar "Bom Natal".
"Sim, faz parte da cultura (...) é desejar bem à outra pessoa (...) tem a ver exatamente com esta questão de introspeção, cultivar paz, de cultivar amor, de cultivar sabedoria, de cultivar compaixão".
Se desejar Bom Natal até pode ser prática, dar presentes é uma história diferente: ou, pelo menos, presentes que possam ser comprados.
"Nós não podemos ingerir nada que não tenha sido oferecido"
"Podemos dar, mas como os monges não têm dinheiro é muito difícil adquirir alguma coisa, podemos dar os livros que temos para distribuição gratuita (...) o que podemos mais dar na verdade é o nosso tempo e a nossa atenção e esse é um aspeto do Natal que pode ou poderia ou poderá ser muito mais enfatizado (...) o Natal na sua base tem essa vertente do amor, essa vertente do dar incondicionalmente (...) pode ser o dar atenção, o dar amor, o dar carinho (...) podemos visitar a família e é natural sendo a família de um contexto cristão ter esse gesto de dar presentes (...) nós somos de uma tradição mendicante (...) nós não podemos sequer ingerir nada que não tenha sido oferecido".
Neste mosteiro tudo é doado, incluindo plantas tão tradicionais como a comumente chamada "Estrela de Natal".
Nos últimos Censos, em 2021, mais de 16 mil pessoas dizem ser budistas a viver em Portugal.