Empreendedores e business angels foram vistos no passado como pertencentes a universos completamente separados. Contudo, uma outra forma de ver o fenómeno angel é através de um contínuo empreendedor, em que ser um angel é apenas o próximo passo numa carreira empreendedora. Pesquisa passada sobre angels diz-nos que os business angels e os empreendedores partilham bastantes semelhanças no seu pensamento e comportamento. Ambos os grupos são proativos, demonstram um apetite e uma paixão pela inovação, tomam riscos, e exibem um alto nível de autonomia no que toca à tomada de decisão.‍

De acordo com um estudo científico de Fauchart & Grubber (2011), existem três tipos “puros” de identidades para fundadores empreendedores: Darwinianos, Comunitários e Missionários. Hoje é possível entender que estes são igualmente aplicáveis às identidades de business angels, entendendo que o empreendedorismo é um fator motivacional em ambas as personalidades.

Os Darwinianos focam-se mais na competição com outras organizações, e é maioritariamente impulsionada pelo interesse económico. Business angels darwinianos priorizam um retorno nos seus investimentos, sendo guiados por um alto nível de certeza e profissionalismo.

‍Os Comunitários veem as suas organizações enquanto objetos sociais: as startups são instrumentos que servem um objetivo específico, sendo suportados para desenvolver relações mutuamente benéficas. Angels comunitários procurariam comportar-se de forma autêntica com as suas comunidades, investindo na conexão da sua carreira com os seus valores, desenvolvendo o seu ecossistema e apoiando empreendedores locais. ‍

Os Missionários acreditam que as suas organizações são objetos políticos que podem avançar uma causa particular para benefício da sociedade e estão ligadas a resolver problemas mundiais. Angels missionários preocupar-se-ão mais com viver o “ethos” do empreendedorismo, investindo em empreendedores com um sentido de missão de mudança global positiva e de resolução de grandes problemas. Missionários também irão atrair mais angels para a causa angélica e alargaram a missão empreendedora.

Foi anotado que independentemente do tipo de business angel que domine a identidade de cada indivíduo com um maior ou menor grau de pureza, cada business angels tem uma certa dose de paixão pelo empreendedorismo. Esta paixão que tende a desenvolver-se ao longo da vida distingue os angels de outros investidores financeiros mais preocupados com resultados finais e menos com o processo de envolvência com outros empreendedores.

Não é difícil acreditar que indivíduos com uma identidade angel também possuem um forte sentido de “angelpreneurism”, cerrando a sua vida na promoção de valores empreendedores, considerando que angels pertencem a uma elite empreendedora e contribuem para o inspirar de mudanças globais através do empreendedorismo.

Uma forma de tornar esta paixão em ação passa por criar novos angel groups, organizados profissionalmente, e encorajar outros a construir também outras experiências angel bem pensadas. Mas, conseguem diferentes identidades de business angels coexistir harmoniosamente no mesmo grupo?

A resposta não é simples. Depende de como o indivíduo e as experiências de grupo estão relacionadas e dinamizadas pelo angel leader. Existe uma tensão saudável em que a diversidade de identidades é positiva e não compromete a homogeneidade e coerência de cada grupo, mas pode chegar um certo ponto, especialmente em grupos maiores, em que faz sentido que os angel leaders reorganizem angels individuais à volta de grupos menores com propósitos em comum e teses de investimento alinhadas com objetivos e valores em comum.

O mercado angel está em mudança, e nós estamos a viver no tempo e na oportunidade de montar novas formas de organização da indústria angel que vejam o investimento angel enquanto uma atividade nobre e de longa duração, desfrutável profissionalmente e alinhada com os nossos valores empreendedores mais profundos.

Rui Falcão, presidente e cofundador Core Angels International