
A 5.ª edição do Festival de Música dos Capuchos vai decorrer de 30 de maio a 27 de junho, em Almada, "Entre Mundos" que se revelam através da música, na sua "diversidade, fascínio e diálogo". A proposta é expressa pelo diretor artístico, o pianista Filipe Pinto-Ribeiro, em declarações à agência Lusa, sobre a programação deste ano.
O violinista Benjamin Schmid, o pianista Dang Thai Son, o guitarrista Pedro Caldeira Cabral, o bandoneonista argentino Marcelo Nisinman são alguns dos músicos do cartaz desta edição, assim como a Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) e o Concerto Atlântico, a orquestra de câmara sueca Musica Vitae, o Naghash Ensemble da Arménia, a orquestra de época Tra Noi, e o DSCH-Schostakovich Ensemble.
Será recordado o centenário do nascimento do compositor e maestro francês Pierre Boulez (1925-2016) e homenageado o pianista e regente argentino-israelita Daniel Barenboim, fundador da West-Eastern Divan Orchestra, com o ensaísta de origem palestiniana Edward Said (1935-2006), num concerto que conta com solistas da Academia Barenboim-Said e da Divan Orchestra. Entre as novidades, o festival traz ainda "ópera para crianças" e um concerto sinfónico ao ar livre, no Parque da Paz, em Almada, que marcará o encerramento do festival "em apoteose", antes de um "poslúdio" nos Capuchos. Além do Convento dos Capuchos, o Festival, este ano, leva programação ao Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB) e ao Auditório Lopes Graça (ALG).
A OML, sob a direção de Pedro Neves, o maestro titular, protagoniza o concerto ao ar livre, no solstício de verão, 21 de junho, com um programa de mobilização popular: abertura da ópera "Guilherme Tell", de Rossini, Danças Húngaras n.ºs 5 e 6, de Brahms, e a Sinfonia "Do Novo Mundo", de Dvorak. A escolha desta sinfonia "espelha o encontro entre o Velho e o Novo Mundo, fundindo influências americanas e checas numa obra que se tornou símbolo da interculturalidade musical". "Um programa apoteótico que celebra a música como lugar de encontro entre mundos", segundo Filipe Pinto-Ribeiro.
Toda a programação foi aliás desenhada segundo o tema "Entre Mundos", propondo "uma reflexão artística sobre a interculturalidade, a diversidade, o fascínio e o diálogo entre múltiplas dimensões --- civilizacionais, temporais e espirituais --- que se entrelaçam e se revelam através da Música, linguagem universal presente em todas as sociedades", disse o diretor artístico. A orquestra de câmara sueca Musica Vitae, que se estreia em Portugal, traz dois programas de concerto ao TMJB, ambos dirigidos pelo violinista austríaco Benjamin Schmid, que também será solista: o concerto de abertura, em 30 de maio, "Entre Mundos: Mozart e Tchaikovsky", que inclui o 5.º Concerto para violino e orquestra, "Turco", do compositor de Salzburgo, e "Souvenir de Florence", do compositor russo; e o "Jazz Violin Concertos", no dia seguinte, com obras de Herbert Berger ("Metropoles Suite" e Concerto para violino), Friedrich Gulda ("Wings", Concerto para violino, orquestra e secção rítmica) e ainda peças de Kroll, Provost, Ponce, Drigo, Vale, Tchaikovsky e Khachaturian.
Numa incursão pela música antiga, em 01 de junho, na Capela do Convento, o Concerto Atlântico, liderado por Pedro Caldeira Cabral, interpretará "A Música da Lírica Camoniana", assinalando os 500 anos do nascimento do poeta. The Naghash Ensemble of Armenia, com o testemunho de "Songs of Exile", atua no TMJB em 07 de junho, num programa que cruza música sacra medieval arménia com influências contemporâneas, jazz e pós-minimalismo. Em 08 de junho, o bandoneonista argentino Marcelo Nisinman, discípulo de Astor Piazzolla, apresentará uma "História do Tango" no Convento dos Capuchos. O concerto, "um tributo às raízes e à evolução do tango argentino", tem obras de Piazzolla, Pedro Datta, Carlos Gardel, Rosendo Mendizábal e do próprio Nisinman. O músico é acompanhado pelo clarinetista Chen Halevi, o contrabaixista Tiago Pinto-Ribeiro e a pianista Rosa Maria Barrantes.
O trio de João Barradas leva "Aperture", projeto de jazz contemporâneo "de forte componente autoral", ao AGL, em 13 de junho. E o quinteto de metais 100 Caminhos promoverá um "concerto-passeio" (promenade) pelo convento, no dia 14, com obras de Tomaso Albinoni, Isabella Bank, George Dousis, Anthony DiLorenzo e Telmo Marques. Em 15 de junho, também no convento, será a vez de "Telemann goes East", pelo ensemble barroco Tra Noi, com um programa que "explora o diálogo entre o barroco alemão e as tradições populares da Europa de leste".
No piano, sempre nos Capuchos, conta-se o vietnamita-canadiano Dang Thai Son, vencedor, em 1980, do Concurso Chopin de Varsóvia, que interpretará Chopin e Debussy, a 4 de junho; e Filipe Pinto-Ribeiro, com um "tributo ao génio poético e transcendental" de Franz Liszt, em 14 de junho. Na área da música contemporânea, recorda-se o centenário do nascimento do compositor e maestro francês Pierre Boulez, com o clarinetista Jerôme Conte, solista do Ensemble Intercontemporain de Paris, fundado pelo compositor em 1976. O concerto "Boulez 100", em 19 de junho, no Convento dos Capuchos, inclui obras de Boulez, Berio, Donatoni, Grisey e Stravinsky. Daniel Barenboim, 82 anos, será homenageado no dia 20, também no convento, com o programa "Noite Transfigurada", com obras de Brahms e Schoenberg, "símbolos de um romantismo transfigurado e visionário", por solistas da Academia Barenboim-Said e da Divan Orchestra.
O derradeiro concerto, em 27 de junho, num "póslúdio" no Convento dos Capuchos, conta com o DSCH-Schostakovich Ensemble, de Pinto-Ribeiro, que interpretará Dvorák e Schubert, e estreará uma peça para contrabaixo solo, de Sérgio Azevedo. Em paralelo aos concertos vão decorrer as "Conversas dos Capuchos", com curadoria do jornalista Carlos Vaz Marques no El Corte Inglés, em Lisboa, que se iniciam em 07 de maio, antecipando o Festival: o escritor Bruno Vieira Amaral e Carlos Neves, tradutor e colaborador regular do blogue "Certas Palavras", são os primeiros convidados, para conversarem sobre o romancista José Cardoso Pires, assinalando o centenário do nascimento do autor de "Balada da Praia dos Cães". No dia 14, o "Centenário da Publicação de 'O Processo', de Kafka" é tema para uma conversa entre o ex-ministro da Justiça e escritor Álvaro Laborinho Lúcio e a escritora e magistrada do Ministério Público Julieta Monginho. A terceira conversa, sobre "Entre Mundos: diversidade, identidade, diálogo e influência", conta com os escritores Djaimilia Pereira de Almeida e Richard Zimler.
Pela primeira vez no festival há "Ópera para Crianças", no Convento dos Capuchos, sob a direção do barítono António Wagner Diniz. Será em 29 de maio, com "Bastien et Bastienne", de Mozart. A programação inclui conversas pré-concerto moderadas pelo diretor da RTP-Antena 2, João Almeida. Uma caminhada na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, uma visita guiada ao Convento dos Capuchos, construído na segunda metade do século XVI, e 'masterclasses', orientadas por "destacados professores das Universidades de Salzburgo, Oslo e Lucerna", também fazem parte do programa.
Esta 5.ª edição do Festival de Música dos Capuchos, depois do seu ressurgimento em 2021, por iniciativa de Filipe Pinto-Ribeiro, tem um orçamento que "ultrapassa os 300 mil euros", disse à Lusa o diretor artístico. No ano passado, o festival somou 3.500 espectadores.