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Nos últimos dois anos, desde que a Gala Michelin se realiza em Portugal, Vítor Matos teve uma ascensão meteórica, tornando-se o chef mais premiado de sempre em Portugal pelo prestigiado guia. De uma estrela no portuense Antiqvvm, passou, em 2024 para as duas no mesmo restaurante e conquistou uma terceira no projeto lisboeta 2Monkeys, onde dividia a cozinha com Francisco Quintas, entretanto saído para a cozinha da Casa da Calçada, em Amarante.
Este ano, a 25 de fevereiro, na Gala que decorreu no Porto, foi anunciado que às duas estrelas no Antiqvvm e uma no 2Monkeys, agora com a presença de Guilherme Spalk, Vítor Matos adiciona ao palmarés duas novas: uma no portuense Blind, com a chef Rita Magro, outra no restaurante Oculto, localizado no hotel The Lince Santa Clara, em Vila do Conde, em colaboração com Hugo Rocha. No total, soma cinco estrelas, em quatro projetos, o que faz dele o chef português com mais estrelas Michelin.
É de forma tranquila, até com um sorriso, que Vítor Matos admite “ser a pessoa mais odiada por alguma da classe gastronómica em Portugal”. Mais a sério, o cozinheiro de 49 anos, acredita que se “alguns podem odiar-me, outros tantos podem gostar de mim”, concluindo que esse é um tema que não o preocupa: ”Durmo cada vez melhor”, garante.
Desunião de cozinheiros
“Juntos somos muito mais fortes. E temos de estar juntos para ganhar mais peso internacionalmente”. Esta é a receita apresentada pelo chef em nome de uma maior divulgação e notoriedade da gastronomia nacional. Ao mesmo tempo, constata que "classe portuguesa dos chefs não é unida", ainda que a Gala do Porto tenha provado, uma forte sintonia dos “cozinheiros do Norte".
“É preciso respeitar o Guia Michelin”
Calmo e ponderado, na conversa com o Boa Cama Boa Mesa, o chef nascido nos arredores de Vila Real, onde vive, regressa aos ódios para afirmar que este ano “percebeu-se claramente que a Michelin não está aqui para favorecer ninguém. Quem tiver bons restaurantes, boa comida, souber receber os clientes, respeitar o guia e não cuspir no prato em que come”, consegue sempre ser distinguido, considera.
“Há muitos restaurantes que não vivem sem a estrela e se a perdem, morrem. Agora, há que respeitar o Guia Michelin”, alerta. E não quer parar por aqui. Assume a vontade de “ter mais estrelas” em nome próprio mas também no país: "Em Portugal há restaurantes que podem ter mais estrelas, mas tudo tem de estar alinhado”.
Fórmula de sucesso
O segredo para conquistar a preferência dos inspetores Michelin é simples e resulta da conjugação de vários fatores: “A maneira de receber o cliente, o estado de espírito das equipas, o sorriso na cara, uma boa mesa, serviço imaculado, a simpatia verdadeira, que pode às vezes abafar o mau serviço”, são alguns dos ingredientes que aponta como essenciais.
Mas o fator crucial da avaliação é “o produto fresco, bem-feito, bem confecionado, pontos certos, equilibrados. Nada de desarmonia, de peixe ou carne mal passados”. E há uma terceira componente que pesa na equação: “as cores, os sabores, o equilíbrio no prato. Não pode comer uma coisa e ter ao lado outra que derruba por completo o produto. Tem de haver, cada vez mais, equilíbrio”.
Sobre as estrelas atribuídas a Portugal pelo Guia Michelin 2025, reconhece que “este ano faltaram, pelo menos, mais três restaurantes com duas estrelas e, no mínimo, dois com três estrelas", que enuncia abertamente: “O Belcanto, de José Avillez, e o Ocean, de Hans Neuner, são restaurantes de três estrelas Michelin. Há mais alguns que podem estar perto e outros, como o Vistas, de João Oliveira, que merecem a segunda”.
Já sobre as razões para que estas distinções não tenham acontecido, admite que possa ter existido uma visita que correu mal: "Basta uma visita menos bem conseguida para que os inspetores não regressem”, conclui.
Nascido na aldeia de Jorjais, em Vila Real, em 1976, Vítor Matos fez o percurso escolar e profissional entre Portugal e a Suíça, para onde se mudou em 1985. Foi chef do restaurante Largo do Paço, na Casa da Calçada, em Amarante, onde ganhou, em 2010, a primeira estrela Michelin. Do percurso profissional constam passagens pelo Tiara Park Atlantic Hotel, Quinta do Pendão, Vidago Palace Hotel Golf & Spa, Grande Hotel das Caldas da Felgueira, Grande Hotel da Cúria e Estalagem Quinta do Paço. A primeira estrela no Antiqvvm foi conquistada em 2016.
Atualmente dá a cara por dez projetos, que além dos galardoados com estrelas Michelin ainda incluem Black Pavillion, no hotel Torel Palace Lisboa, o Hool, no Hote da Oliveira, em Guimarães, o Salã Nobre, no Vidago Palace, e ainda a cozinha do Pedras Salgadas Spa & Nature Park. Mais recentemente, acrescentou ao portfólio os restaurantes Schistó e 16 Legoas, no hotel Torel Quinta da Vacaria, nas margens do Douro, ao qual ainda se vai juntar outro espaço, na adega da propriedade.