Foi na manhã de 25 de fevereiro, acabado de chegar ao Porto para participar na segunda Gala Michelin em Portugal, que Ljubomir Stanisic foi informado que não iria renovar a estrela Michelin no restaurante 100 Maneiras. Recorde-se que o espaço no Bairro Alto, em Lisboa, mantinha a distinção desde a primeira atribuição em 2000. Na sala, e antes do início da cerimónia, muito se especulou sobre a ausência do mediático chef e a razão acabou por ser conhecida e confirmada no final da gala: o restaurante 100 Maneiras, em Lisboa, perdera a estrela Michelin. Este ano, foi o único “despromovido”, relativamente à lista de premiados de 2024.
Contactado pelo Boa Cama Boa Mesa, Ljubomir Stanisic foi pragmático nas respostas: “O nosso objetivo não são os prémios, sendo somente um reconhecimento do trabalho feito diariamente. E este ano, como nos outros anos, foi feito muito trabalho e muito investimento de todos os que integram o projeto 100 Maneiras. Foi – e está a ser – um ano particularmente difícil para a restauração em Portugal. Por isso, foi uma surpresa e uma notícia menos boa no meio de outras bem piores, como o fecho de muitos restaurantes, sobretudo os de gestão independente e sem grupos económicos de suporte”.
Relativamente a uma possível reconquista da estrela Michelin já na próxima edição do guia, o chef nascido em Saraievo e naturalizado português, prefere abordar a questão de um ponto de vista diferente: “O nosso foco nunca pode estar nos prémios, mas sim, em continuar a trabalhar para sermos cada vez melhores. Não para voltar a ter a estrela ou qualquer outro prémio, mas porque devemos isso aos nossos clientes, à nossa equipa e a nós mesmos”.
“Estrela Michelin é como Dodot”
Bastante comentada nos bastidores, como justificação para a não renovação da estrela pela Michelin, foi a entrevista dada pelo chef a Daniel Oliveira, no programa Alta Definição transmitido pela SIC, no final de setembro de 2024, na véspera da estreia de mais uma edição de Hell’s Kitchen. “A Estrela Michelin é como Dodot, serve para limpar o cu. Dá estatuto, é útil, mas agora só serve para pagar contas”, afirmou, então, o líder do grupo 100 Maneiras.
Confrontado sobre se esta questão poderia ter influenciado a decisão do “guia vermelho”, Ljubomir Stanisic considera a mera possibilidade como “inacreditável e até anti-ética”, reforçando que o trabalho de um restaurante nunca pode ser “avaliado pelo que o chef diz ou faz fora dele”. A resposta a esta dúvida somente poderá ser esclarecida pela direção e inspetores do Guia Michelin, a quem cabe "responder sobre os critérios de avaliação”.
O restaurante 100 Maneiras (Rua do Teixeira, 39, Lisboa. Tel. 91091818) abriu em fevereiro de 2019 e apenas nove meses depois já integrava os 50 Best Discovery, uma lista compilada pela organização dos The World’s 50 Best. Apresenta três menus de degustação, o “História” (€170), o “Conto” (€140) e o “Eco do 100” (€150). O primeiro é uma viagem à terra onde nasceu o chef com 17 momentos. Já o segundo é de 11 momentos com algumas novidades e o último é dedicado à cozinha vegetariana. O restaurante foi distinguido em 2020, 2021 e 2022 com Garfo de Prata do Guia Boa Cama Boa Mesa.