
Experientes, conhecedores de vinhos nacionais, a trabalhar em alguns dos mais premiados restaurantes nacionais ou em garrafeiras de renome, quatro sommeliers apontam as maiores tendências de vinhos para este verão. Brancos salinos, rosés elegantes e tintos frescos estão no topo das preferências.
Nádia Desidério, sommelier e diretora do Belcanto de José Avillez, e Marc Pinto, vencedor do Michelin Sommelier Award 2025, a trabalhar no restaurante Fifty Seconds, são dois dos convidados. A eles, junta-se Augusto Brumatti, Head Sommelier do Vila Vita Parc, e João Chambel, responsável pela Garrafeira Estado D'Alma, onde gere mais de 6000 referências de vinhos nacionais e internacionais.
Frescura, elegância, baixa intervenção e castas desconhecidas (Nádia Desidério)
A frescura domina as propostas de Nádia Desidério, sommelier do premiado restaurante Belcanto, em Lisboa, que aponta como tendência as castas autóctones menos conhecidas, os vinhos de baixa intervenção e os projetos com identidade e sentido de lugar, que se revelam “perfeitos para dias longos, mesas partilhadas e copos descontraídos”.
Três vinhos brancos revelam estas tendências: oriundo da ilha de Porto Santo, o Caracol dos Profetas Branco, de António Maçanita + Nuno Faria (€28), da região de Lisboa,o Viúva Gomes Malvasia Branco, um DOC Colares (€40), e do Alentejo Litoral, o Salino Branco - Cortes de Cima, 100% loureiro (€39).
Nádia Desidério destaca ainda como boas escolhas para dias e noites quentes os vinhos atlânticos, brancos de perfil leve e salino, mas também rosés elegantes e tintos mais frescos, pensados para servir a uma temperatura ligeiramente mais baixa.
Textura, acidez e menos álcool (Marc Pinto)
Para Marc Pinto, do restaurante Fifty Seconds, em Lisboa, o tempo quente pede vinhos com textura e acidez natural para alegrar o verão. O sommelier sugere três estilos diferentes: com apenas nove graus de álcool, o Adega Mayor Esquissos “– É +” (€16,50), um branco 100% Arinto, “mostra como se pode reduzir álcool sem perder sabor”, sublinha, descrevendo-o como “leve, direto e com uma acidez refrescante que pede marisco ou uma tarde de varanda”.
Já o Pitau Clarete (€9,95), com enologia de Hugo Mendes, recupera a tradição do clarete num “perfil minimalista, de fermentação espontânea e sem estabilização, deixando falar a fruta pura das castas” Tinta Roriz, Castelão e Touriga Nacional. Para servir ligeiramente refrescado, o Herdade dos Casarões Vinha da Palhota (€29,85), tinto elaborado com as castas Petit Verdot e Alicante Bouschet, “mostra que a estrutura não precisa de peso”: revela fruta viva, textura firme e camadas elegantes.
Tintos equilibrados e harmonizações com peixe (Augusto Brumatti)
Sobretudo para harmonizar com pratos de verão, em especial o peixe e as sardinhas assadas, o Head Sommelier do Vila Vita Parc, Augusto Brumatti, sugere o Grande Birra Transmission 2020, da Bairrada (€50), do enólogo Miguel Silva. Elaborado com Cercial, Bical, Maria Gomes, Arinto e Rabo de Ovelha, é “um vinho que nasceu da procura de um perfil Bairrada bastante clássico, mas que quase desapareceu, sem açúcar”, destaca. Frescura, acidez elétrica e um paladar equilibrado marcam este vinho de uma só parcela, sem leveduras, enzimas ou bactérias manipuladas, para “expressar ao máximo o seu sítio”.
Para combinar “perfeitamente com pratos regionais, bem como peixes, especialmente sardinhas”, o Morgado do Quintão - Clarete Negra Mole 2023 (€17) do Algarve, com enologia de Joana Maçanita, é “um dos melhores claretes de Portugal”. Revela um corpo médio com suave tonalidade púrpura, frutos vermelhos e bagas no nariz, e elegante com um toque de especiarias na boca.
Do Douro chega o Mourisco 2022 Cão Que Ladra (€40), de António Braga. Como é apanágio local, a cor rubi de tonalidade granada viva combina um aroma com notas nítidas de frutos vermelhos maduros, com destaque para o morango e para a cereja confitada. O estágio em barrica confere-lhe uma “dimensão complexa de aromas de chão de floresta”. Na boca a estrutura é marcada pela elegância, com taninos finos, estruturantes e completamente integrados. Equilibrado, termina com notas aromáticas de frutos vermelhos.
Brancos leves, rosés versáteis e tintos frescos (João Chambel)
Nesta temporada, a tendência “é explorar rótulos descomplicados, que combinam com o clima e os momentos descontraídos do verão”. Em vez de néctares específicos, João Chambel, sommelier da Garrafeira Estado D’Alma, sugere castas que ligam bem com o tempo quente.
No capítulo dos brancos, Alvarinho e Arinto, são castas ideais para dias quentes, especialmente quando harmonizados com saladas e marisco. Sempre uma tendência estival, os rosés continuam em alta, considera, especialmente por oferecerem frescura e versatilidade para diferentes ocasiões, à mesa ou fora dela. Quanto aos tintos, para enfrentar o calor requerem-se referências “mais leves, com menos extração e com grau alcoólico mais baixo”. É o caso de alguns vinhos elaborados a partir das castas Pinot Noir, Negra Mole, Rufete, Bastardo ou mesmo Baga que “podem ser servidos a uma temperatura mais baixa”, revelando-se ideais para as temperaturas quentes do verão.
“E porque não acrescentar um toque festivo com espumantes nacionais?” desafia João Chambel.