“O serviço de urgência será sempre multidisciplinar e não de uma única especialidade.” As palavras são de Luís Duarte Costa, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que reage ao anúncio do Governo de que se avançará com a criação da especialidade de Medicina de Urgência para resolver o problema das urgências.
O responsável considera que, para se fazer urgências, é preciso ter uma visão abrangente, de modo que se possam resolver as situações mais diversas. O médico considera “excessivo” e “totalmente deficitário” criar-se uma especialidade, quando “não há programa de formação capaz de preparar um único médico para identificar sinais de alarme, considerar todos diagnósticos diferenciais e conhecer os vários exames complementares”.
No seu entender, “é preciso conhecer todo o espectro de sintomas e sinais, das doenças mais simples às mais complexas e não o oposto, num serviço em que o médico tem contacto com esse doente uma única vez”.
Além disso, acrescenta, “o problema e o caos da urgência não está na urgência [em si], está no antes e depois”, já que mais de 40% dos casos são de situações não urgentes. “[Esta realidade] coloca em risco a avaliação de doentes graves e emergentes e leva à incapacidade de escoar os doentes com decisão clínica efetivada, por falta de vagas no internamento hospitalar”. Acrescem, ainda, os internamentos sociais que “impedem o funcionamento dos serviços hospitalares (…), com 2164 camas ocupadas indevidamente”.
A SPMI considera que devem ser dadas respostas a estes dois pontos, com medidas a curto prazo, como o reencaminhamento das situações não urgentes para os CSP, telemedicina, consultas abertas, intervenção de enfermeiros ou farmacêuticos na sensibilização e melhoria da literacia dos doentes, transferência de doentes com alta clínica para camas da rede social ou privada ou o reforço das equipas de urgência com médicos de todas as outras especialidades hospitalares.
A longo prazo, acredita na aposta da melhoria dos sistemas informáticos e na redefinição dos modelos de organização hospitalar e dos CSP. “Só assim teremos a capacidade de avaliar cada doente no local certo, pelo médico certo, e não numa urgência, em que há uma desconfiança de parte a parte.”
Concluindo, deixa uma mensagem à ministra da Saúde: “Aproveite esta força motriz dos hospitais e SNS, que é a Medicina Interna e, acredite, conseguirá uma verdadeira mudança em benefício dos doentes e não de um grupo de médicos e gestores afastados da realidade.”
Maria João Garcia
Notícia relacionada