Paulo Fernandes é o tipo de pessoa que aproveita todas as oportunidades que outros imploram. E não, não é exagero. A vida sorriu-lhe desde a nascença. Cresceu numa família ligada aos Serviços Prisionais. A D. Manuela, sua mãe, teve um papel discreto mas relevante na transição do Estado Novo para a Democracia. Em todos os processos em que participou, mostrou que não há espaço para discriminação quando está em causa a dignidade humana. Uma mulher à frente do seu tempo, que ajudou a construir “Abril”. O Sr. António, seu pai, foi subordinado da esposa, um “crime público” de lesa-masculinidade nos anos 70! Poucas lições de vida são tão poderosas como esta, que lhe ensinou que a igualdade entre mulheres e homens nasce do reconhecimento das capacidades, não apenas de obrigações legais.

As origens maternas trouxeram-no para o Fundão, concelho rural onde, quando alguém batia à porta, era costume convidar a entrar antes mesmo de perguntar quem era. Aqui, Paulo fez como Guterres: deixou-se ‘corromper’ por pessoas simples que, com gestos pequenos, mostram o que é ser grande.

Na viragem do século, foi convidado por Manuel Frexes para assumir os pelouros da Ação Social, Cultura e Desporto. O contexto era favorável. As expectativas, baixas. A cultura local quase se limitava à FACIF 1.0 e o desporto resumia-se ao futebol e atletismo. Os fundos comunitários jorravam como água na Gardunha. Mais tarde, herdou a liderança do município com maioria absoluta e uma equipa de vereadores competentes. O tempo deu-lhe razão.

Uns viram os seus projetos reconhecidos nacional e internacionalmente; outros visitaram países como a Coreia do Norte ou a Rússia, a convite de organizações internacionais.

Mas a sorte não o poupou aos testes mais duros. Em 2017, os incêndios colocaram-no no centro da atenção mediática. Surgiu na televisão carregando bens. A história repetiu-se em 2025, quando prestou declarações com parte do rosto chamuscado. Imagens poderosas e paradoxais que, por um lado, o humanizaram e, por outro, mostraram como é diferente do político comum. Naquele momento poucos sabiam que o sósia de Gustav Klimt interrompeu férias na Jamaica e que teve de pedir autorização especial para fazer escala nos EUA, a fim de chegar a tempo de ter um papel decisivo. Apenas verificaram que nunca fez um discurso oportunista e que só usou os holofotes para exercer pressão política e garantir meios aéreos fundamentais para travar o fogo na Gardunha. Para ele, o protagonismo é ferramenta, não objetivo. Talvez por isso não tenha recorrido às redes sociais para anunciar que fez “mais do que podia”.

É aqui que a ironia dá lugar à verdade: a sorte só resulta quando há quem trabalhe por ela. Paulo não teve apenas oportunidades! Soube agarrá-las. Aprendeu cedo que a ausência dos pais, que punham os reclusos à frente da família, não era abandono, mas lição: autonomia e compromisso. Mergulhou nas comunidades, democratizou a cultura, meteu as mãos nas Aldeias do Xisto e Históricas, e arranjou dinheiro para “quimeras” como a Biblioteca Eugénio de Andrade e A Moagem. No futebol, a Atalaia andou pelos quadros nacionais. Castelejo, Silvares, Soalheira e Vale Prazeres passaram a ter equipas seniores de futsal, e a AD Fundão chegou à 1.ª divisão.

Neste percurso, Paulo esteve sempre a aprender, mesmo com alguns maus exemplos. Deu um cunho pessoal à sua ação política. Concedeu autonomia aos vereadores, ajustando a equipa consoante as necessidades. Mostrou que liderar não é mandar, é confiar e delegar. Envolveu até os vereadores da oposição num projeto comum. Uma lição que poucos políticos parecem ter aprendido. E passou muitas noites em claro para evitar que a asfixia financeira esmagasse o modelo de desenvolvimento que sonhou para o concelho. Soube, com a sua equipa, abrir as portas da “Terra de Acolhimento” aos migrantes que hoje ajudam a combater os fogos. Fê-lo mesmo contra os novos-velhos do Restelo, que sopram medos atrás de perfis falsos nas redes sociais. A sua capacidade de inovar, delegar e dar autonomia está a dar frutos, até na agricultura. A reflorestação estratégica com castanheiros é mais do que uma medida: é criatividade ao serviço do território. Foi assim que nasceu o rebanho de cabras sapadoras com coleiras eletrónicas que monitorizam e definem a sua área de ação. Começaram por ser 50 cabras para 5 hectares. Em breve serão 300 para 200 hectares. Os resultados são tão claros que até os OVNIs da Gardunha podem testemunhar a sua eficácia!

Como se depreende, Paulo Fernandes é um tipo cheio de sorte. Mas isso só acontece porque, enquanto excelente aluno de matemática, soube interiorizar uma equação simples:
Sorte = Oportunidade + Trabalho.

E que sorte a nossa de termos o Paulo.

Artigo de opinião de Sérgio Mendes