A sinistralidade rodoviária agravou-se em 2024, com mais acidentes e feridos graves face ao ano de referência de 2019, apesar de se verificar uma redução no número de vítimas mortais e feridos ligeiros. Os dados constam do Relatório Anual de Sinistralidade e Fiscalização Rodoviária, divulgado esta semana, que espelha um país ainda longe das metas traçadas para 2030 em matéria de segurança rodoviária.

Segundo o documento, foram registados 38.037 acidentes com vítimas em território nacional, dos quais resultaram 477 mortos, 2.756 feridos graves e 44.618 feridos ligeiros. Embora o número de mortes tenha descido 8,3% em relação a 2019, o aumento dos feridos graves em 8,8% e dos acidentes em 2,1% acende o alerta quanto à gravidade crescente dos sinistros nas estradas portuguesas.

No Continente, contabilizaram-se 36.338 acidentes, com 463 mortos, 2.576 feridos graves e 42.683 feridos ligeiros. Comparando com 2023, o número de mortes baixou ligeiramente (-0,9%), mas os acidentes subiram 3,9%, os feridos graves aumentaram 5,7% e os ligeiros 4%.

Apesar da redução do índice de gravidade — número de mortos por 100 acidentes — de 1,34 para 1,27, os especialistas alertam para a elevada severidade dos sinistros, especialmente fora das localidades, onde o índice atinge 2,73, mais do triplo do valor registado dentro das localidades (0,88). Ainda assim, foi dentro das localidades que se registou o maior número de mortes (253), tendência que subiu 11,9% em relação a 2019 e 14,5% face a 2023.

Colisões e despistes dominam acidentes mortais

As colisões representaram mais de metade dos acidentes (53,6%) e causaram 41,5% das mortes. Já os despistes, embora menos frequentes, foram os mais letais, com 44,3% das vítimas mortais. A maioria dos sinistros ocorreu em arruamentos (62,6%), seguidos das estradas nacionais (19,9%), onde se registou um aumento preocupante de mortes: +19% face a 2019 e +9% em relação a 2023.

Por categorias de utentes, os condutores representaram 73,2% dos mortos, seguidos de peões (14,9%) e passageiros (11,9%). Em 2024, o número de peões mortos aumentou 21% face a 2023, apesar de ter descido em relação a 2019.

A nível de veículos, os ligeiros estiveram envolvidos em 70,8% dos acidentes. Em contraciclo, cresceu o número de sinistros com motociclos (+34,4%) e velocípedes (+53,7%) face a 2019. Quanto às vítimas, 21,7% circulavam em motociclos, um salto de 35%, e 7,7% em velocípedes, com aumento de 58% face a 2019.

Infraestruturas de Portugal associada a mais de 40% das mortes

As vias sob gestão da Infraestruturas de Portugal concentraram 41,3% das vítimas mortais em 2024. No total, 51,8% das mortes ocorreram na rede rodoviária nacional, incluindo as concessões privadas, enquanto 49,7% aconteceram em vias sob alçada dos municípios.

Fiscalização aumentou 47,7%, mas infrações diminuíram

O reforço da fiscalização rodoviária foi evidente: 262,5 milhões de veículos foram fiscalizados, mais 47,7% que em 2023, graças ao aumento da vigilância automática. O sistema SINCRO da ANSR e a GNR quase duplicaram a sua atuação. Ainda assim, o número de infrações caiu 10,1%, totalizando 1,5 milhões de autos. O excesso de velocidade manteve-se como a principal infração (60,5%), embora com menos 5,9% que no ano anterior.

Destaca-se ainda a queda expressiva nas infrações por álcool (-23,1%) e uso do cinto de segurança (-23,2%), mas o número de condutores apanhados sem seguro disparou 54,6% e sem inspeção obrigatória aumentou 26,9%.

A criminalidade rodoviária também baixou 31,2%, com 27.900 detenções. Mais de metade das detenções deveram-se à condução sob efeito de álcool, enquanto 30,4% resultaram da falta de carta de condução.

Mais de 3 mil condutores perderam a carta desde 2016

Até final de 2024, 757.300 condutores já tinham sido penalizados com perda de pontos. Desde a entrada em vigor do sistema de carta por pontos, em 2016, 3.425 condutores ficaram com a carta apreendida.

Os números mostram que, apesar dos avanços na prevenção e fiscalização, Portugal ainda enfrenta desafios sérios no combate à sinistralidade. A meta de reduzir significativamente mortos e feridos graves até 2030 continua distante, com especial preocupação nos acidentes com veículos de duas rodas e sinistros em contexto urbano.