Dizem que a pressa é inimiga da perfeição, mas neste contexto podemos concluir que é ao contrário, ou pelo menos deveria ser assim. Quando falamos de transportes, condições de acesso e deslocações em Portugal ficamos sempre com um amargo na boca que é impensável perdurar num país que tem apenas pouco mais de 90 mil km quadrados de área no território continental.

Como pode um português que vive no interior do Alentejo sentir que é mais difícil ir até à capital, que um alemão atravessar todo o seu país num dia? A resposta é obvia: boas condições de mobilidade e celeridade nos processos. Existe um grave problema em Portugal no que toca à mobilidade, é necessária uma modernização nas nossas linhas férreas e isto não é de agora. As próprias infraestruturas carecem de investimento e de requalificação. O plano nacional ferroviário deveria estar já executado.

A melhoria nos transportes teria o efeito de aproximar a zona norte do distrito de Setúbal, aos concelhos do Sul e consequentemente ao baixo Alentejo. Tornar a ligação sul/norte é uma prioridade no que toca à qualidade de vida das populações dos concelhos de Santiago do Cacém e Sines.

A futura A26 (IP8) é um projeto com muito atraso, diga-se, que dá alternativas e realmente aproxima o Alentejo à Área Metropolitana de Lisboa, mas infelizmente demonstra as suas complicações. Como será feita a ligação sem ser por autoestrada? Há mais alguma alternativa ou continuamos a pensar apenas nos carros? E para quem não pode pagar portagens? As estradas nacionais estão degradadas e implicam maior distância para os respetivos destinos. Este projeto não pode ficar por aqui.

Não esquecendo de todo o interior do país que beneficiaria com as mudanças que o comboio pode e deve fazer. Ora num país em que se fala tanto na bipolarização, na litoralização e de um grave problema de despovoamento do interior, claramente é uma matéria fulcral e urgente para o combate destes fenómenos demográficos.

O problema de acessos é também cultural em Portugal, pois raramente se pensa a longo prazo e depois sofremos as consequências. Como podemos explicar os problemas de trânsito e a inacessibilidade em Lisboa não sendo esta sequer uma grande capital no contexto europeu? Por exemplo, a TTT que irá ter travessia rodoviária e ferroviária é urgente para melhorar toda esta situação.

Setúbal, cidade do Sado, capital de distrito, demonstra também algumas deficiências no que toca ao congestionamento em certas áreas e de falta de estacionamento automóvel. Isto revela pouco rigor no ordenamento do território e falta de investimento nos espaços e principais vias da cidade, ou áreas tidas como mais críticas.

A construção da interface junto à estação ferroviária no centro fez todo o sentido em comparação à antiga localizada, mas podemos então cogitar se a nova localização e investimento das condições foi neste caso fórmula para a resolução dos problemas tais como os atrasos nos horários, a sobrelotação dos autocarros e o mau funcionamento geral. Porque não foi, é preciso fazer mais e melhor.

Se nos focarmos no contexto de férias de verão, com a cidade de Setúbal a receber cada vez mais turistas, fica notória a fraca capacidade de resposta à procura que existe no acesso às praias da arrábida. Se no dia-a-dia, quer seja dentro da cidade ou nas ligações à capital, já se verificam atrasos, autocarros lotados, intervalos demasiado grandes nos horários, ou até mesmo casos em que os autocarros não chegam a aparecer, no verão o cenário é igualmente catastrófico rumo à serra.

O projeto “Arrábida sem carros” é no papel excelente porque, protege a área em termos ambientais, evita congestionamentos e garante segurança às pessoas. Mas será suficiente o que se está a fazer? É a forma mais eficiente de retirar o melhor de uma das maiores relíquias de Setúbal? Até pode partir daqui a solução, mas não obstante, mais uma vez, é preciso fazer mais e melhor.

Todas estas nuances devem e necessitam ser revistas tanto a nível regional, como nacional. Portugal precisa de modernizar, investir, pensar em grande para contruir bases duradoras para o futuro na qualidade de vida das famílias e para pelo menos tentar acompanhar a evolução a nível europeu.