Dois mantos régios usados por Amélia de Bragança vão estar patentes numa exposição sobre o espólio da rainha, na Fundação da Casa de Bragança (FCB), por ocasião dos 160 anos do seu nascimento.

A exposição “Amélia de Orléans e de Bragança. O Espólio da Rainha” é inaugurada no próximo dia 20 de setembro, no Paço Ducal de Vila Viçosa e, além dos dois mantos, inclui diversos objetos da rainha, como as aguarelas que pintou.

“Para organizar esta exposição, nós partimos do espólio à guarda do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança [MBCB], e no último ano intensificámos o trabalho de identificação [dos objetos], conservação e investigação. Cruzando este trabalho com a bibliografia que tem saído sobre a soberana, temos uma dimensão da escala e do espetro da sua atuação, não só em termos políticos, mas também da sua ação cultural e social”, disse à agência Lusa diretora do MBCB, Ana Saraiva, curadora da mostra que estará patente até 30 de agosto do próximo ano.

“A rainha foi uma personalidade de vanguarda, sob vários pontos de vista”, sublinhou a responsável.

Amélia de Bragança foi a última rainha de Portugal. Neta do último rei de França, Luís Filipe I, era filha do conde de Paris, e nasceu a 19 de outubro de 1865 no exílio, em Twickenham, nos arredores de Londres, no Reino Unido. Tornou-se rainha de Portugal em 1889, depois do casamento com Carlos de Bragança, celebrado em maio de 1886, em Lisboa.

O espólio da rainha existente no MBCB “é extenso e diverso”, sendo composto por bens que deram entrada no acervo da FCB, sobretudo em meados do século passado.

“Esta mostra faz parte de um programa mais vasto em torno do legado da rainha, através de um trabalho sistemático de identificação, documentação e conservação dos vários objetos, visando, paralelamente, estimular novos estudos sobre a ação da soberana”, disse Ana Saraiva.

Neste âmbito foram realizadas entrevistas a calipolenses descendentes de pessoas que conviveram com rainha nas suas estadas em Vila Viçosa, registando uma memória coletiva da comunidade dos tempos da monarquia, anteriores a 1910. Um vídeo destas entrevistas é também exibido na exposição.

Ana Saraiva frisou “a importância desta mediação com a comunidade local”.

A rainha tinha “uma relação de proximidade com os moradores da vila tendo até ensinado alguns a ler, e pediu ao pintor Silva Porto para retratar uma jovem local”, cujo quadro estará exposto.

Este programa estende-se ao serviço educativo do Museu-Biblioteca e a um ciclo de concertos inspirado na rainha. O próximo, “Al.Te.ri.da.de – Poesia em Concerto”, realiza-se a 29 de agosto com a pianista e cravista Patrizia Giliberti e o ator Manuel Coelho.

O ciclo de dez concertos iniciou-se em abril, prossegue até ao final do ano, e propõe ouvir músicos contemporâneos de Amélia de Bragança (1865-1951), privilegiando “a relação da rainha com a música e com o próprio paço ducal, e a dimensão do feminino”, disse à Lusa Ana Saraiva.

A exposição pretende “realçar as diferentes facetas da rainha, como artista, mecenas, filantropa social, mas também a sua dimensão mais íntima como mãe e mulher”.

Na exposição, “convidamos o visitante para interpretar e criar a sua própria narrativa em torno desta memória biográfica e do seu legado”.

A exposição reúne cerca de 100 objetos, entre desenhos, aguarelas e uma pintura de autoria de Amélia de Bragança – o MBCB possui “mais de 400” itens nesta categoria.

Fotografias e álbuns de desenhos organizados pela própria, alguns trazidos quendo veio para Portugal, fazem também parte da mostra, assim como dois herbários que organizou, o último poema autografado por João de Deus, condecorações e diplomas que recebeu, além de vários “objetos de uso quotidiano, alguns com um caráter mais ritual, com uma dimensão simbólica muito interessante”.

“Ela guardou bens não apenas dela, mas também dos dois filhos”, Luís Filipe (1887-1908) e Manuel II (1889-1932), o último rei de Portugal.

Dos filhos estão expostas carteiras, a mala de viagem que Luís Filipe levou na viagem a África, em 1907, uma carteira com uma madeixa do cabelo do príncipe, “o que era uma prática cultural potenciada no século XIX, e é nesse contexto que deve ser entendida”.

“Devemos entender estes objetos como referentes de representação cultural que atuam na produção de memória”, afirmou a responsável.

A vivência espiritual da rainha é também focada, nomeadamente através de um terço em prata com uma medalha representando o papa Pio IX, com data de 1875, e o diploma da sua primeira comunhão.

Referindo-se aos diplomas, um deles ilustrado por Rafael Bordalo Pinheiro, Ana Saraiva disse que “reconhecem as suas dimensões social e cultural” e “alguns além do seu período como rainha”. Amélia de Bragança foi rainha de 1889 até 1908.

Quanto aos mantos régios, um deles foi oferecido ao Santuário de Fátima, quando visitou Portugal, a convite de Oliveira Salazar, em 1945.

Este manto do Museu do Santuário de Fátima tem 450X280 centímetros, decorado com ramos de loureiro, é em veludo, com pedrarias e plumas, sendo a cor predominante o dourado.

O outro manto, do MBCB, é em veludo de seda, cor verde, bordado com fio laminado, e tem 331X340 centímetros de área.