
Coruche prepara-se para viver, no próximo dia 17 de agosto, uma das maiores celebrações da sua identidade cultural e comunitária com a realização do Cortejo Histórico e Etnográfico, integrado nas Festas em Honra de Nossa Senhora do Castelo. Organizado pela Câmara Municipal de Coruche, este evento emblemático assinala também o Dia do Campino e o feriado municipal, sendo considerado um dos maiores e mais autênticos cortejos do Ribatejo. Com mais de mil participantes, provenientes das oito freguesias do concelho, bem como de várias associações e coletividades locais, o cortejo é uma manifestação coletiva de memória, partilha e orgulho.
Criado em 1946, o Cortejo Histórico e Etnográfico de Coruche tem vindo a afirmar-se como um dos mais importantes legados culturais da região, reunindo anualmente a comunidade num gesto de celebração da vida, da história e das tradições locais. Esta edição decorre sob o mote “Brindar à vida e à saudade, entre gerações”, mergulhando nas heranças afetivas e simbólicas que ligam avós, pais e netos; evocando rituais de fé, ofícios tradicionais, vivências rurais, costumes familiares e expressões culturais que definem a identidade coruchense. Em cada quadro desfilam fragmentos de uma história partilhada: do pão ao vinho, dos casamentos de antigamente às oferendas religiosas, das artes do ofício aos gestos de cuidado entre gerações.
A riqueza do cortejo está na diversidade dos quadros apresentados por cada freguesia. Na vila de Coruche, a Sociedade Instrução Coruchense dá o tom à abertura com o hino a Nossa Senhora do Castelo, seguido da evocação de nascimentos em casa, das comadres e vizinhas que se apoiavam, dos laços de afeto entre padrinhos e afilhados, e das cerimónias religiosas que marcavam o início da vida comunitária. A Branca recorda os foreiros e o aforamento das terras que permitiu a construção da igreja de Nossa Senhora da Conceição, um gesto coletivo de fé e pertença. No Couço, o cortejo mergulha no património natural e imaterial: os encontros junto às fontes, a lavoura, a cocaria e os saberes passados de geração em geração.
Vila Nova da Erra dá destaque à tríade simbólica do azeite, pão e vinho, elementos fundamentais da vida e da fé, enquanto a Fajarda recria os casamentos de antigamente com a preparação das bodas e os bailes que atravessavam noites inteiras, unindo famílias e aldeias. No Biscainho, os quadros evocam a maternidade e os cuidados prestados pelos vizinhos, tendo São João de Deus como padroeiro da proteção e da solidariedade. A Lamarosa traz o património da floresta e da carpintaria, com destaque para os mestres que transformaram a madeira em móveis e casas, construindo com as mãos o abrigo de tantas gerações. Por fim, em Santana do Mato, o cortejo torna-se mais íntimo e afetivo, com imagens ternas de avós que embalam netos, num ciclo de ensino, afeto e continuidade.
O cortejo não é apenas um desfile, mas um verdadeiro manifesto cultural que liga o passado ao presente e projeta o futuro de Coruche. A música, a religiosidade, o trabalho, a família e os afetos cruzam-se neste espetáculo coletivo que, ano após ano, mobiliza toda a comunidade e atrai visitantes de vários pontos do país. Para a Câmara Municipal de Coruche, trata-se de um momento alto da vida do concelho, que reafirma a força da identidade coruchense e o papel fundamental da cultura na coesão social e no desenvolvimento local.
A partir das 11 horas do dia 17 de agosto, as ruas de Coruche serão, mais uma vez, o cenário vivo desta celebração única. O Município convida todos os que vivem, sentem ou querem descobrir Coruche a participar e a testemunhar este momento de comunhão, onde o passado se torna presente e o presente se faz herança. O Cortejo Histórico e Etnográfico é, assim, mais do que uma tradição. É uma expressão viva de quem somos, uma homenagem às nossas raízes e um brinde coletivo à vida, à memória e ao futuro que se constrói com todos.