Todas as sessões às 21h na Moagem, exceto dias 25 e 27

Para a rentrée de setembro temos um pouco de tudo – a última visão abissal sobre a morte por David Cronenberg, uma reflexão sobre o mundo das touradas por Albert Serra, a transgressão e comédia picaresca de Alain Guiraudie… e ainda a habitual colaboração com o festival de música punk Fatela Sónica, com um documentário sobre o pioneiro Jorge Bruto e um filme de Chaplin musicado ao vivo.

THE SHROUDS – AS MORTALHAS é então o primeiro dos filmes que exibiremos, dia 16, na Moagem. É uma proposta e uma visão indizíveis e avassaladoras, que só na sua fruição faz pleno sentido. Assim, damos a palavra ao realizador para tentarmos desvendar só um pouco o véu: «Em inglês, a palavra shroud designa esse véu funerário, mas tem também outros significados. Pode significar encobrir, esconder. A maioria dos rituais funerários serve para evitar o confronto com a realidade da morte e com o que acontece a um corpo.. Diria que, no nosso filme, se dá uma inversão da função habitual de uma mortalha. Aqui, ela serve para revelar, não para ocultar. Escrevi este filme enquanto vivia o luto pela perda da minha mulher, que morreu há sete anos [faleceu em 2017]. Foi uma exploração para mim, porque não se tratou apenas de um exercício técnico — foi um exercício emocional.»

Dois dias depois, excecionalmente a uma quinta-feira, dia 18, e também na Moagem, o último filme do catalão Albert Serra, sempre polémico, sempre divisor. TARDES DE SOLIDÃO, belíssimo e nostálgico título, é um documentário e uma reflexão funda sobre aquele que será a maior estrela mundial da tauromaquia atual – Andrés Roca Rey. Iremos acompanhar Roca Rey em diversas corridas, nos seus rituais, com os seus medos, dramas, e sentir a camaradagem desse mundo e todo o espetáculo garrido e sanguinário em torno. No final, fica a pergunta, que não é de medida pequena: aquilo a que se assiste é arte ou uma grotesca performance?

Antes de irmos a outros mundos e outras esferas, fechamos as sessões na Moagem a 23, com o último petardo de Alain Guiraudie, talvez o maior cineasta francês desconhecido (e conhecido!) da atualidade. Vale a pena convocar a sinopse: «Jérémie chega a Saint-Martial, a cidade francesa onde cresceu, para assistir ao funeral do seu antigo patrão. Depois da cerimónia, pergunta a Martine, a viúva, se pode ficar em casa dela durante alguns dias. As coisas complicam-se quando se vê envolvido no desaparecimento de Vincent, o filho de Martine.» MISERICÓRDIA convoca desejos, segredos, transgressões e regressos a casa num tom burlesco, ambíguo e efabulatório originalíssimo. A mítica revista Cahiers du cinema considerou-o o melhor filme de 2024.

A nossa colaboração com a Associação Cultural Fatela Sónica / Festival Fatela Sónica 2025 inicia-se em jeito de Warm up, num festival que acontece de 26 a 28 de setembro. Portanto, um dia antes, a 25, lá estaremos para uma sessão em que Jorge Bruto será o sujeito principal. «Nome incontornável do rock´n´roll nacional, Jorge Bruto nasce numa família abastada para vir encabeçar o movimento punk e dar à sua alcunha uma importância que ultrapassaria a dos brasões familiares.», assim nos é apresentado. Frontman dos Emílio e a Tribo Do Rum ou dos Capitão Fantasma, é uma figura fascinante que estará presente para uma conversa, juntamente com os realizadores.

No dia 25, sábado à tarde, revelaremos ainda outra faceta de Jorge Bruto, com leituras para miúdos e graúdos do seu livro infanto-juvenil A Princesa Klara, por Marta Ramos.

E ainda neste impagável festival, uma obra-prima do cinema musicada ao vivo: O EMIGRANTE, de Charles Chaplin. 25 minutos fulgurantes, ultra-pessoais para Chaplin e para tantos que tiveram de ir ganhar a vida num país longínquo, um filme genial cada vez mais necessário nestes tempos de intolerância. O coletivo Profound Whatever, também velhos parceiros, acompanhará a narrativa de forma imperdível e surpreendente com a sua furiosa música ao vivo.

Como dissemos, vários mundos e esferas diversas que talvez comuniquem secretamente ou não entre si.