
O movimento organizador dos protestos dos agricultores em 2024 lamentou hoje que tenha sido constituído arguido um dos participantes de um bloqueio da Autoestrada 6 (A6) no Caia, em Elvas, distrito de Portalegre, em fevereiro do ano passado.
Num comunicado publicado na página do movimento nas redes sociais e consultado hoje pela agência Lusa, os responsáveis relatam que o agricultor que foi constituído arguido se apresentou na terça-feira no Tribunal de Elvas para prestar declarações.
“Passado mais de um ano, só agora a Justiça decidiu atuar, demonstração cabal do estado da Justiça portuguesa e do próprio país. No meio de milhares de agricultores, identificaram apenas uma pessoa que, curiosamente, foi e é das pessoas mais ativas nas redes sociais ligadas à defesa dos agricultores portugueses”, criticam.
O movimento vai solicitar uma audiência ao ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, sobre este caso.
“Ao contrário dos governantes anteriores, não deixará [José Manuel Fernandes] de ser sensível a esta tremenda injustiça perpetuada pela mais baixa e abjeta mesquinhez”, lê-se no comunicado.
Os promotores do movimento vão ainda informar a comissão parlamentar de Agricultura, bem como todos os grupos parlamentares da situação.
O movimento cívico exorta ainda os profissionais da classe a apoiarem o agricultor que foi constituído arguido, apelando a que marquem presença da próxima vez que o homem seja chamado a tribunal para depor.
“A próxima vez que for chamado a depor estaremos todos presentes, demonstrando assim a nossa unidade, bem como a solidariedade que tão bem caracteriza os portugueses”, lê-se.
Os organizadores apelaram em maio de 2024 aos deputados que intercedessem para que se pudesse passar “um pano por cima” das notificações da GNR de que estavam a ser alvo alguns participantes.
“Apelo aos deputados para que se mobilizem, junto das instituições e das pessoas que podem, para que ‘passem um pano’ por cima disto, porque é um elemento muito feio da nossa democracia”, afirmava Alexandre Pinto, da comissão instaladora do movimento, numa audiência na comissão parlamentar de Agricultura e Pescas.
“O país passou 40 anos com presos políticos e, depois, passou 50 anos sem políticos presos. Nenhum de nós quer voltar ao regime de presos políticos”, sublinhou o agricultor.
João Dias Coutinho, também da comissão instaladora do movimento, disse aos deputados que diversos manifestantes de Ficalho, no concelho de Serpa, distrito de Beja, e de Vilar Formoso, no concelho de Almeida, Guarda, estavam a “ser notificados aleatoriamente”.