São vários os efeitos na saúde das populações vítimas de exposição prolongada ao fumo dos incêndios que lavram no país, sublinhou Carlos Robalo Cordeiro, diretor de Pneumologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra.

Os incêndios provocam um aumento das temperaturas, que afetam "do ponto de vista respiratório e cardiológico as pessoas com mais idade, as pessoas com doenças respiratórias e cardiovasculares", começou por enumerar o pneumologista, lembrando a habitual maior afluência de pessoas às urgências durante os picos de calor.

Ao calor soma-se a inalação de fumos com "consequências bem mais complexas, por que aumentam as substâncias que dificultam uma respiração normal", alertou, referindo-se ao dióxido de carbono e monóxido de carbono.

Além destes gases, acrescentou, os fogos e os ventos podem trazer muitos outros componentes associados, especialmente quando os incêndios ocorrem em zonas industriais ou urbanas onde ardem componentes perigosos.

O especialista salientou que quem mais sofre é quem tem problemas respiratórios, cardiovasculares e os idosos e são precisamente estes últimos quem está mais presente entre as populações que nas últimas semanas têm sido fustigadas pelos incêndios.

Portugal continental tem sido afetado por múltiplos fogos rurais desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração de situação de alerta desde 02 de agosto.

"Estas pessoas com idades avançadas e com problemas crónicos têm de ser mais protegidas, têm de sair das zonas de risco, de concentração de fumos e poeiras", alertou, explicando que a medida permite prevenir agudizações das doenças ou descompensações.

Mas Carlos Robalo Cordeiro sublinha que "o ambiente que se gera nestas situações de incêndio é agressivo para todo o tipo de pessoas".

"Este ambiente inflamatório que se gera com a inalação destes fumos e vapores pode dar origem ao agravamento das doenças pré-existentes, que se tornam mais graves pela exposição intensa durante um período de tempo. Mas, dependendo do tipo de material que está a ser inflamado, também pode dar origem, do ponto de vista pulmonar, não apenas à clássica bronquite e coisas mais ligeiras, mas patologias mais graves", disse.

Para reduzir esses perigos, a população deve abandonar as zonas de maior fumo, deve usar máscaras e toalhas ou panos húmidos e até respiradores para diminuir o contacto com as substâncias mais agressivas, sublinhou o especialista.

O diretor do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra reafirmou que a exposição prolongada a incêndios pode ter efeitos significativos na saúde tanto a curto quanto a longo prazo.

Portugal está em situação de alerta desde 02 de agosto, tendo os incêndios já provocado dois mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, na maioria sem gravidade, segundo balanço da proteção civil.

Até 17 de agosto arderam 172 mil hectares no país, mais do que a área ardida em todo o ano de 2024, segundo dados oficiais provisórios, que mostram que os fogos destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.

Portugal ativou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, ao abrigo do qual deverão chegar hoje dois aviões Fire Boss para reforço do combate aos incêndios.