
O internacional português Diogo Jota morreu na madrugada desta quinta-feira depois de um acidente de viação em Espanha. Tinha 28 anos. Deixou muitos em choque e são várias as reações nas redes sociais tanto de famosos como anónimos. Apesar de não ser alguém que lhe é próximo, um familiar ou amigo, é possível sentir tristeza e fazer luto quando morre uma pessoa que não conhecemos?
Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto em 2023, a psicóloga Teresa Feijão explicou que acabamos por criar laços com determinadas pessoas que podem levar a este tipo de resposta.
"As figuras públicas são elementos em que algumas pessoas se espelham e encontram referências e admiração. E para quem os acompanha com frequência, o seu falecimento passa a ser sinónimo de perda profunda", começa por dizer.
"O luto é uma resposta natural e adaptativa à perda de alguém ou de algo significativo. O ser humano cria vínculos afetivos de vários tipos e, quando são afetados pela morte, surge o sentimento de tristeza", continuou.
Desta forma, pessoas que nos acostumamos a ver no dia a dia, podem acabar por torna-se próximas e levar a este sentimento de admiração. "Tendemos a formar vínculos com estas personalidades que admiramos e a criar memórias positivas associadas. As pessoas sentem-se ligadas a atores, cantores, atletas e apresentadores, mesmo quando não há interação física concreta."
Também, muitas vezes, acabamos por ligar a morte desta figura a outras pessoas da nossa família e círculos mais próximos. "A morte de uma personalidade pública que admiramos pode representar uma perda daquele momento particular do nosso passado representado por uma memória especial, associada a algum ou vários momentos da nossa vida."
E poderá ser este um tipo de luto diferente? Teresa Feijão revelou que podem existir tanto semelhanças como diferenças. Em relação à sensação de familiaridade, à nostalgia e às memórias é algo idêntico.
"Estar de luto pela morte de uma personalidade pública é também uma forma de expressarmos a nossa identidade social e, como consequência, pertencer a um grupo. Existe uma conexão emocional com aqueles que sentem o que nós estamos também a sentir."
No entanto, a falta de uma ligação para com a pessoa torna a questão do luto algo diferente quando se trata de alguém que nos é mais próximo. "Não temos essas memórias entrelaçadas nas quais refletir. Estando essa pessoa fora do nosso real alcance, é difícil criar uma imagem de quem essa pessoa realmente era e o que significa para nós."
Explicou que em vez de termos memórias e de refletirmos perante a relação individual, passamos a ter a experiência de um "luto coletivo", uma dor "partilhada à distância" pelas notícias que vai vendo e pelas publicações a que tem acesso através das redes sociais.
E podem existir momentos em que pode ser precisa ajuda psicológica?
Ao agregador de blogues HuffPost, David Kaplan, da American Counseling Association, revela que existem situações em que o luto por celebridades pode levar à procura de ajuda profissional. "O luto é uma função normal e natural, mas se começar a interferir na sua vida, é aí que precisa ser resolvido."
"Também não há mal nenhum em aproveitar serviços profissionais. Conselheiros, psicólogos e psiquiatras estão disponíveis se precisar de conversar sobre o seu luto." Contudo, há que ter atenção às palavras que usa.
Explica que é importante perceber a diferença entre luto e depressão. "As pessoas usam muito a palavra deprimido. Depressão é um termo clínico e muitas vezes, quando as pessoas dizem que estão deprimidas, na verdade querem dizer tristes. As palavras que usamos são muito poderosas e é importante fazer essa distinção."