
Em comunicado, a empresa municipal Faz Cultura refere que a estreia daquela peça se insere na celebração dos 110 anos do Theatro Circo e constitui o terceiro momento do Supracasa, programa de apoio à criação artística da Braga 25 - Capital Portuguesa da Cultura.
Acrescenta que a peça se apresenta como "uma viagem sensível, crítica e profundamente teatral pelas vidas, reais e imaginadas, de atrizes portuguesas dos séculos XIX e XX".
Trata-se de um monólogo "que se multiplica em vozes, memórias e corpos".
Há só atriz em cena, mas a peça convoca centenas de vidas de atrizes esquecidas, divas imortalizadas, mulheres que ousaram fazer do palco um lugar de afirmação e resistência.
A partir de uma "extensa" investigação, que cruza documentos, biografias, fotografias, memórias e rumores, o espetáculo constrói uma 'história falsa' das atrizes em Portugal, numa ficção que serve para pensar a realidade do teatro português, ontem e hoje.
"Comecei a interessar-me por estas figuras quando percebi que, por trás dos tiques, dos exageros e das lendas, havia mulheres que conquistaram o seu lugar à força. Muitas fundaram companhias, dirigiram teatros, exigiram ser ouvidas. Outras desapareceram na sombra. Este espetáculo é também sobre elas", refere Raquel S., dramaturga, encenadora e diretora artística da peça.
O espetáculo convoca o excesso como matéria poética e o humor como forma de rever o passado com distância crítica.
A imagem da "grande atriz" é desconstruída e reinscrita numa história que mistura o riso e a ferida, a pompa e a precariedade, o aplauso e o silêncio.
Ao lado de Raquel S., a equipa artística conta com Pedro Azevedo na cenografia e figurinos, Odete na criação sonora, Rui Monteiro no desenho de luz, e Inês Maia na direção de produção.
A comunicação visual é assinada por Nuno Matos, e inspira-se nas fotografias de atrizes do início do século XX, imagens que o espetáculo recria e reinterpreta.
"'Hei de reparar' não é apenas um espetáculo sobre o passado. É uma tentativa de entender o que resta dessas mulheres no presente do teatro. Uma pergunta sobre como se constrói uma memória coletiva e quem fica, tantas vezes, fora dela", frisa o comunicado.
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