Um entretenimento, porém, com substância, "que não deixe o espectador com o sabor de estar a ver uma tontice", acrescentou.

Protagonizado por Sara Matos, 'O pátio da saudade' é "uma história sobre amizade, resiliência, capacidade de ter um sonho e de não desistir de o concretizar", sublinhou o realizador.

Há dez anos, Leonel Vieira dirigiu 'O leão da Estrela' e 'O pátio das cantigas', duas produções "com um olhar novo sobre filmes dos anos 1940". Em 2016, voltou a insistir no género, com a revisitação d'"A canção de Lisboa", que produziu, entregando a realização a Pedro Varela. A 'sua' versão de "O pátio das cantigas" continua a ser o filme português mais visto desde 2004, nos 'rankings' publicados pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual.

Com 'O pátio da saudade', Leonel Vieira incide sobre o teatro de revista. Para começar, sobre os filmes anteriores, entende "não ter feito 'remakes'", mas longas-metragens "que respeitavam muito o espírito do cinema dos anos 1940, com um olhar novo".

Sobre este "novo pátio", garante ser uma história "sobre a amizade", sobre "as pessoas se unirem para salvar coisas", frisou o realizador durante a apresentação do filme, ocorrida hoje, em Lisboa; unirem-se em torno de "causas, que é uma coisa que está muito em risco nos dias de hoje - as pessoas unirem-se para salvarem causas comuns", acrescentou.

'O pátio da saudade' fala de "valores que hoje estamos a perder um pouco ou que achamos que estamos a perder", disse Leonel Vieira.

A ação do filme centra-se numa atriz (Sara Matos) que herda um teatro de uma tia afastada que quase não conhecia e que era fã de teatro de revista. A viabilidade de herdar aquele antigo palacete vem, todavia, com a condição de o recuperar, pondo em cena uma revista.

Questionado sobre se este filme é uma "espécie de homenagem ao teatro de revista", Leonel Vieira admite tratar-se de "um olhar sobre o passado".

"O passado não se pode perder", afirmou. "Não existe só o que é hoje, o que somos hoje e 'o hoje é tudo (...) e o passado é para apagar, e os velhos são para acabar'". Para Leonel Vieira, isso não pode ser, sublinhando que essa posição perante a vida o "incomoda bastante".

'O pátio da saudade' é, por isso, um filme sobre o "passado que interessa", já que "o passado faz parte do nosso presente e é necessário ser trazido para o nosso presente e ser repensado". E "nada é descartável", reforçou.

Questionado sobre se 'O pátio da saudade' é o filme que de facto pensava fazer, o realizador disse que os filmes "nunca são aquilo" que pensa, mas sim "uma aproximação".

Este filme, em que cada personagem foi pensada precisamente para o ator/atriz que a representa, "está bastante próximo do que achei que se poderia fazer", concluiu.

Questionado sobre se espera um êxito como o que obteve com 'O pátio das cantigas', o realizador afirmou esperar que o novo filme obtenha êxito, recusando-se, todavia, a esperar que se equipare ao que obteve há 10 anos, pois este foi "um fenómeno pontual, que às vezes acontece".

Sobre novos trabalhos, Leonel Vieira adiantou que, em setembro, estreará uma nova série, também com Sara Matos, na plataforma de 'streaming' HBO.

Leonel Vieira tem em pós-produção a série 'Vitória', que dirige, que conta igualmente com a interpretação de Daniela Ruah, e argumento de Alexandre N. Rodrigues e Manuel Prates.

Entre as produções e coproduções recentes de Leonel Vieira contam-se "Vìrgenes", de Álvaro Díaz Lorenzo, filme estreado no Festival de Málaga, na primavera passada, e a série "Favàtrix", lançada em maio em Espanha.

'O pátio da saudade' tem interpretações de José Raposo, José Pedro Vasconcelos, Gilmário Vemba, Alexandra Lencastre, José Pedro Gomes e Ana Guiomar, entre outros atores. O argumento é de Aldo Lima, Manuel Prates, Alexandre N. Rodrigues e do próprio Leonel Vieira; a banda sonora, de Manuel Palha e Tiago Perestrelo, segundo a ficha técnica disponível na net.