
A firma de advogados norte-americana Cleary Gottlieb Steen & Hamilton tornou-se na semana passada uma das mais recentes empresas a abandonar a China. A empresa informou que vai encerrar em julho o escritório no Fortune Financial Center, uma movimentada zona empresarial de Pequim.
Também na semana passada, um fundo da BlackRock, o maior gestor de ativos do mundo, disse não ter conseguido encontrar um comprador para duas torres de escritórios no Waterfront Place, no distrito financeiro de Lujiazui, em Xangai, mesmo depois de ter oferecido um desconto de 30%.
"Para as multinacionais em geral, [o recuo] é resultado de múltiplos fatores, [e] o principal deles é a sua rentabilidade", disse Guo Shan, sócio da Hutong Research, uma empresa de consultoria independente para empresas multinacionais na China, citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP).
Guo disse que o declínio persistente dos lucros levou a medidas de redução de custos por parte das empresas estrangeiras.
Os lucros das empresas industriais estrangeiras caíram 1,7%, no ano passado, após uma queda de 6,7% e 9,5%, respetivamente, em 2023 e 2022, acrescentou, citando dados do Gabinete Nacional de Estatísticas chinês.
"Para os escritórios de advocacia, o risco geopolítico pode ter sido um problema maior", disse Guo.
De acordo com a unidade de investigação Dealogic, a atividade de fusões e aquisições na China tem vindo a registar uma tendência decrescente nos últimos cinco anos, desde a pandemia da covid-19. No ano passado, o valor total dos negócios de fusões e aquisições foi menos de metade dos 533 mil milhões de dólares (506 mil milhões de euros) gerados em 2020.
"O mercado de escritórios é um barómetro para a indústria de serviços e está intimamente ligado ao fluxo e refluxo do ambiente macroeconómico", disse Vincent Li, chefe de equipa de pesquisa da Savills, uma consultora imobiliária, citado pelo SCMP.
"Independentemente de se tratar de uma empresa estatal, de um gigante da Internet ou de uma empresa estrangeira, face à incerteza externa, a redução de custos e a melhoria da eficiência tornam-se um pré-requisito e a renda dos escritórios é, sem dúvida, uma das maiores e mais óbvias despesas a cortar", descreveu.
Na zona empresarial central de Pequim, onde se situam pontos de referência como o China World Trade Center, o China Central Place e o Beijing Kerry Center, sede de empresas como o Deutsche Bank e a McKinsey, a taxa de desocupação subiu para cerca de 16% no final do ano passado, face a 10% em 2019, de acordo com Li.
As rendas, por sua vez, caíram para menos de 300 yuan (39 euros) por metro quadrado por mês, face a 365 yuan (48 euros) antes da pandemia, disse Li.
Em Xangai, onde a presença de empresas internacionais é ainda mais forte, 22,1% do espaço de escritórios estava vago, de acordo com um relatório da consultora imobiliária CBRE.
Embora uma taxa de desocupação entre 5% e 10% indique um "mercado relativamente saudável", a taxa no segmento de escritórios em 10 grandes cidades da China continental atingiu um nível "perigoso" de 20%, uma vez que a procura não conseguiu acompanhar a oferta, afirmou a Savills, num relatório difundido este mês.
A consultora afirmou que, a nível nacional, a taxa de desocupação deverá aumentar 3,2% este ano.
A taxa de desocupação poderá atingir 25,2% nas principais cidades e 34,8% nas cidades secundárias, até ao final do ano, afirmou a Savills, acrescentando que a renda média nas 10 principais cidades deverá cair até 6%, num mercado onde os inquilinos têm cada vez mais poder negocial.
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