Durante muito tempo, falar de imobiliário de luxo era falar de localização, arquitetura, rentabilidade ou exclusividade. Todos estes fatores continuam a ter um peso significativo, mas há uma variável que tem vindo a ganhar cada vez mais destaque e que está a mudar o perfil da procura: o fator emocional, “aquilo a que eu dou valor”.

Cada vez mais, quem compra no segmento de luxo não procura apenas uma boa casa, procura sentir-se bem com a escolha que fez. Este feel good factor tem várias formas: o conforto de um espaço bem pensado, a ligação emocional a uma paisagem, o estilo de vida que o imóvel permite oferecer ou até a tranquilidade que transmite no dia a dia. O luxo, hoje, não é o que impressiona os outros, mas o que faz sentido para quem compra.

Este fenómeno não é exclusivo aos investidores internacionais. Se é verdade que muitos estrangeiros chegam ao mercado português à procura de qualidade de vida, também é verdade que o investidor nacional está mais exigente, mais atento ao detalhe e, acima de tudo, mais interessado em comprar um imóvel que responda a uma ideia muito pessoal de bem-estar. Não basta que seja bonito, tem de ser funcional, confortável e coerente com os seus objetivos e estilo de vida.

Esta mudança de mentalidade está a influenciar tudo: desde localizações improváveis, a projetos arquitetónicos personalizados, e até à forma como os imóveis são apresentados. As pessoas querem viver naquele espaço, estar ali todos os dias. O luxo, nesse sentido, deixou de ser um conceito distante e passou a ser uma experiência concreta.

O que está em causa não é uma desvalorização do investimento racional, mas sim a valorização de um critério bem objectivo que tem impacto real: o bem-estar. Quando um imóvel consegue combinar uma localização privilegiada, qualidade construtiva e este “algo mais” que faz com que nos sintamos imediatamente ligados ao espaço, a decisão de compra deixa de ser apenas estratégica – torna-se natural.

O mercado está a ajustar-se e é um sinal positivo. Já não basta construir bem ou vender bem. É preciso pensar o imóvel como um produto emocional, um ativo que melhora a vida de quem o escolhe.

No fundo, é este o novo luxo: fazer sentido para quem compra, para quem investe, para quem vive.

Rafael Ascenso,
Founder e Partner da Porta da Frente Christie’s