No passado dia 28 de abril, pelas 11h33, registou-se um apagão elétrico que afetou Portugal e Espanha. O problema foi técnico, limitado no tempo, felizmente sem consequências graves no nosso país, mas deu origem a algo que nos deve preocupar: a propagação da desinformação.

Num primeiro momento, nas redes sociais, surgiram rumores e teorias da conspiração. Num segundo momento, entraram em cena os comentadores e “especialistas” de ocasião – com alguns responsáveis políticos à mistura – que se apressaram a apontar o dedo às energias renováveis e à interligação com Espanha. É neste segundo momento que me pretendo focar neste artigo. Por estes dias, voltou-se até a falar com saudade das centrais a carvão e, em certos casos, a defender soluções nucleares, como se isso fosse uma resposta simples para o que aconteceu.

É importante esclarecer: o apagão não aconteceu por falta de produção. Àquela hora havia sol, vento e barragens com boa capacidade de resposta. A falha foi na rede, na forma como o sistema reagiu a um desequilíbrio súbito. E mesmo aí, importa sublinhar que o sistema foi restabelecido em cerca de 10 horas – um tempo aceitável tendo em conta a dimensão do evento. Esse restabelecimento só foi possível graças à central hidroelétrica de Castelo de Bode e à central de ciclo combinado da Tapada do Outeiro, a gás natural.

As teorias de que “com carvão teria sido mais rápido” não têm fundamento. As centrais a carvão, face à produção de outras fontes naquele dia, não estariam operacionais àquela hora, demorariam a arrancar e não servem para restabelecimentos rápidos (“black start”), até porque também precisam de energia para serem ativadas. Ou seja, uma central a carvão não evitaria o apagão, nem garantiria um restabelecimento mais rápido. Aqui está o primeiro ponto em que devemos atuar: como garantir, face a acontecimentos semelhantes, um restabelecimento ainda mais rápido.

Por outro lado, também se espalhou a ideia de que a interligação com Espanha foi um erro. Pelo contrário: essa ligação tem sido uma vantagem clara para os consumidores portugueses. Permite partilha de recursos, garante segurança no abastecimento e ajuda a baixar preços. Devemos é continuar a insistir para que a interligação vá além da Península Ibérica e nos ligue à rede europeia. Por isso é um erro atribuir culpas a essa interligação, o verdadeiro debate deve ser outro: por que razão, num dia com sol, vento e barragens cheias, Portugal estava a importar cerca de um terço da sua eletricidade? Como é possível que a energia produzida cá seja mais cara do que a que vem de fora?

Isto sim exige respostas e soluções. A resposta ao que aconteceu não passa por regressar ao passado, com fontes caras, lentas e poluentes. Aqui chegamos ao segundo ponto onde devemos atuar: investir em redes mais modernas, reforçar a nossa capacidade de resposta e garantir um mercado que valorize verdadeiramente a produção limpa, local e segura.

O verdadeiro apagão não foi técnico. Foi informativo. E é esse que mais nos deve preocupar.

Rui Vilar,
Diretor de Desenvolvimento de Negócio na Macwatts