A distribuidora de papel Inapa prepara-se para ser desmembrada no âmbito do processo de insolvência que está em curso. O administrador de insolvência informou que há propostas de compra por ativos da empresa, uma delas já vinculativa, e com 20 milhões de euros na mão. Só que nesta divisão do grupo há um fator a ter em conta: “não foi recebida nenhuma proposta pela globalidade dos ativos da Inapa IPG”.

O comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) da Inapa IPG, a “holding” que é detida em 45% pela empresa do Estado Parpública e que está em insolvência, deixa claro que foi aberto um processo competitivo para tentar vender a empresa e os seus ativos. Mas nem todos estão a gerar interesse.

Propostas e manifestações de interesse

A súmula do relatório do administrador de insolvência, Bruno Costa Pereira, refere que houve “quatro propostas” de diferentes entidades para diferentes perímetros dentro do grupo, mas “com especial destaque para os ativos localizados em Portugal e em França”. Nenhuma visa todo o grupo.

Nesses perímetros das propostas, nenhuma pretende adquirir as unidades na Alemanha, Espanha, Bélgica ou Turquia. Foi a situação na subsidiária alemã que precipitou a queda, já que o grupo não conseguiu compensar a insuficiência de tesouraria temporária que ali verificou, até porque a Parpública e o Ministério das Finanças recusaram ajudar – iniciando-se, depois, uma queda em cadeia das empresas.

Há, depois, “pelo menos” duas propostas individuais para a compra da unidade de distribuição de papel da Inapa em França (Inapa France SAS) e da unidade de embalagem em Portugal (Inapa Packaging Lda).

Já a Inapa Portugal, a unidade de distribuição de papel no país e que opera também em Angola, recebeu “manifestações de interesse”, que não foram formalizadas. Esta empresa decidiu não seguir para insolvência, pedindo, antes, o processo extraordinário de revitalização, para negociar com os credores a sua salvação.

O administrador da insolvência da Inapa IPG, a "holding", adianta ainda que “existe interesse manifestado por diversos investidores em que seja assegurada a manutenção da atividade da sociedade Inapa Shared Centre”, a área de serviços partilhados.

Compra vinculativa em França

Entretanto, o que é definitivo é já há uma proposta de compra da unidade de embalagem da Inapa em França (Inapa Packaging SAS). É de 20 milhões de euros, parte de uma empresa identificada no relatório por Next Pack SAS e está sujeita a autorização do regulador francês da concorrência.

Uma oferta vinculativa significa que o comprador está, se for cumprida a condição da luz verde concorrencial, comprometido a concretizar a aquisição.

Para a próxima semana, a 27 de setembro, ficou agendada a assembleia de credores da Inapa para autorizar esta transação através da qual serão vendidas também duas outras subsidiárias francesas (Semaq e Manutention D`Aquitaine e Embaltec).

Nessa assembleia, Bruno Costa Pereira espera também autorização dos credores para ter mais tempo para conseguir fechar a venda dos restantes ativos.

Uma empresa internacional a cair

A internacionalização era um dos pontos de honra da Inapa, empresa que se centrou na distribuição de papel depois de ter deixado a área de produção, mas que operava igualmente nas áreas de embalagem e comunicação. A Alemanha e França eram grandes mercados da companhia, onde se tinha expandindo nos últimos anos, tendo igualmente presença relevante em Espanha, e com operações na Bélgica (a partir da qual atuava no Luxemburgo e Países Baixos) e na Turquia. A empresa tinha mais de 1600 trabalhadores.

Os acionistas desta “holding” são a Parpública, a Nova Expressão e o Novo Banco. O BCP e o Novo Banco estão como principais credores.

A antiga gestão da Inapa culpou a Parpública por não a ter salvado e ter contribuído para a queda do grupo. O Governo de Luís Montenegro recusou-se a prestar um financiamento temporário para a ajuda à empresa, que perdeu 90% do valor em bolsa após o anúncio da insolvência. Hoje, toda a Inapa vale 1,8 milhões de euros em bolsa.

A Parpública reconheceu como perdido todo o valor aplicado na Inapa, com a constituição de imparidades de 8 milhões neste ano, segundo o seu relatório e contas relativo a 2023.