"Apesar de o país ser soberano, a dependência do apoio externo coloca-nos numa situação em que se não vamos a favor das obrigações internacionais [em matéria de redução da emissão de gases poluentes], corremos o risco de perder o financiamento para outras áreas", disse Francisco Sambo.

Em declarações à Lusa à margem do primeiro Seminário de Energia e Clima, que decorreu na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa, o governante explicou que o país está a enfrentar pressões para reduzir a exploração de carvão e de gás, dois dos principais recursos naturais do país, sendo difícil o acesso a financiamento para instrumentos que possam mitigar a emissão de gases poluentes durante o processo de exploração destas duas matérias-primas.

Questionado sobre quais as entidades que estão a pressionar para que Moçambique contribua para a redução de emissões, deixando de explorar estas as suas riquezas naturais, Francisco Sambo respondeu: "Eu prefiro dizer que é investimento multilateral e bilateral, ao nível do país, mas põe em risco os grandes investimentos que temos no país por estarmos a embarcar nisto".

Questionado sobre se estava a referir-se aos financiamento do Grupo Banco Mundial ou do Fundo Monetário Internacional, Francisco Sambo escusou-se a responder e vincou que a ameaça nunca vem diretamente dessas instituições, mas sim de entidades que obtêm fundos de grupos financeiros multilaterais, apontando que "corre-se o risco de perder financiamento para outras áreas", como a agricultura, que é o principal meio de subsistência da maioria da população moçambicana.

O governante acrescentou: "há várias obrigações ao nível da convenção-quadro sobre as mudanças climáticas que não são vinculativas [as Contribuições Nacionalmente Determinadas], e o país é soberano de cumprir ou não, mas para os países em desenvolvimento, o risco é maior, porque se não cumprem com determinado mandato ao nível da convenção, existem mecanismo para os pressionar a cumprirem; a maneira mais fácil é cortar o financiamento, fecha-se a torneira e automaticamente ficamos numa situação em que ou cumprimos ou perdemos financiamento".

Perguntado sobre se o Governo vai manter a exploração de carvão mineral, uma das principais exportações de Moçambique, e a intenção de apostar no gás natural, nomeadamente no norte do país, Francisco Sambo respondeu que sim e apontou que, apesar de serem ambas indústrias poluentes, há tecnologia que permite reduzir as emissões, desde que Moçambique consiga aceder ao financiamento para conseguir adquirir e implementar soluções que minizam a poluição.

"Temos gás, mas precisamos de tecnologia e meios financeiros para serem implementados mecanismos, se implementados, produziriam menos gases poluentes que os combustíveis fósseis".

O gás, concluiu, "é a base do desenvolvimento de Moçambique, se vamos banir o gás, o que seria de uma economia emergente como a nossa, ficava em risco".

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