A professora de Biologia Luísa Muthemba não está impressionada com o novo preço do quilo do açúcar, porque "não baixou quase nada, baixou um pouco".

"Custou-me 80 meticais [1,28 euros], mas há um mês comprei por 85 meticais [1,36 euros] e noutras lojas eram 90 meticais [1,44 euros]. É uma redução mínima", disse hoje à Lusa Luísa Muthemba, sobre o preço do açúcar, transportando sacos de compras de produtos alimentares.

Sobre o óleo alimentar, balança a cabeça antes de afirmar que "melhorou alguma coisa", porque acaba de comprar o garrafão de cinco litros por 750 meticais (12 euros), enquanto adquiria a mesma quantidade por mais de 800 meticais (12,83 euros).

"Posso fazer mais fritos em casa e não viver apenas de cozidos, porque sinto que o óleo baixou mais, mas não é lá grande coisa", sublinhou.

Belartina Massango, funcionária administrativa do Ministério da Saúde, também sente uma ligeira redução nos preços de açúcar, óleo e sabão, mas a inflação dos outros produtos do cabaz, importados da África do Sul, "abafa tudo".

"Nota-se que alguns produtos baixaram um pouco, poupam-se 10 a 20 meticais [0,16 a 0,32 euros] por quilo ou litro, mas os produtos que vêm da África do Sul e que não são produzidos em Moçambique são mais caros", explicou, à saída de uma loja da capital.

E são essas complicações que os homens não entendem, porque "eles não fazem compras", assinalou, numa alusão à tradição de em Moçambique a tarefa de ir ao mercado ser vista como feminina.

Ugome Nhassengo, que revende produtos alimentares num contentor transformado em mercearia na baixa de Maputo, afirmou que o óleo alimentar produzido em Moçambique baixou mais de 100 meticais nos últimos meses, com o impacto da isenção do IVA.

"Cheguei a vender por 850 meticais [13,6 euros] cinco litros de óleo, mas, como vê, está agora a 720 [11,55 euros], é uma redução", destacou.

Também a caixa de 20 barras de sabão é agora vendida a 350 meticais (5,61 euros), mas chegou a custar 420 meticais (6,7 euros), explicou.

Mas o custo elevado dos produtos que importa da África do Sul para o seu contentor anula o efeito da redução dos preços dos bens produzidos em Maputo.

"Por exemplo, a cebola, o caldo e a maionese estão caros", observou.

Micaela Guiole, que compra na baixa alguns produtos para vender no quintal de casa, nos subúrbios de Maputo, fez outra leitura: as isenções do IVA não compensam os aumentos que se vinham registando.

"A queda nalguns preços vem depois de grandes subidas e não se sente que os preços estejam a mudar para melhor", notou Guiole.

"Quem disser que leva mais produtos para casa agora, acho que mente", observou.

Numa análise consultada pela Lusa, a CTA - Confederação das Associações Económicas de Moçambique, a maior associação patronal do país, defendeu um regime de IVA especial para o açúcar, óleo alimentar e sabão, tendo em conta os custos crescentes destes produtos.

A conclusão resulta de uma "monitorização" que a confederação tem realizado para avaliar o impacto da isenção em vigor.

A CTA assinala que, para ser mais eficiente junto do consumidor, o benefício fiscal deve ter incidência sobre todo o circuito económico dos bens abrangidos, recaindo também sobre os custos de importação de matérias-primas.

A inflação homóloga em Moçambique foi de 12,1% em agosto, o valor mais alto dos últimos quatro anos e 11 meses, anunciou o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os setores de alimentação, bebidas não alcoólicas e transportes têm sido as que mais contribuíram para o aumento de preços em Moçambique.

As autoridades moçambicanas têm apontado o impacto combinado da pandemia de covid-19, calamidades naturais, conflito armado em Cabo Delgado e invasão russa da Ucrânia como fatores por trás da espiral altista nos preços dos últimos meses.

PMA // LFS

Lusa/Fim