Três dias depois da passagem do Ian, que arrasou o extremo oeste da ilha e causou três mortos e elevada destruição material, Cuba apenas recuperou do apagão total que sofreu na terça-feira.

A maior parte dos 11,1 milhões de habitantes não tem eletricidade, disponibilizada apenas algumas horas por dia, a maioria dos estabelecimentos e estações de serviço está encerrada, o abastecimento de água corrente suspenso e a internet e os telemóveis só funcionam de forma intermitente.

Neste contexto, verificaram-se concentrações e 'caçaroladas' em diversos locais, como em Guanabacoa, no oeste, e nos bairros de Vedado, La Palma e Bacuranao, em Havana. "O problema é que as pessoas estão muito tempo sem luz", comentou à Efe um dos participantes nestes protestos.

Os protestos de sexta-feira seguem-se aos que se desenrolaram na quinta-feira em Camagüey, no leste, Batabanó, no oeste, e em bairros pobres de Havana, como El Cerro, Arroyo Naranjo e San Miguel del Padrón.

Luis Antonio Torres Iribar, primeiro secretário del Partido Comunista de Cuba, o único legal, em Havana, comentou que "protestar é um direito", como noticiou a agência noticiosa estatal Prensa Latina.

Todos estes protestos cessaram com a chegada da polícia, seguida, em alguns casos, pela de técnicos da empresa estatal de eletricidade.

A causa dos protestes de agora é ao apagão dos últimos dias, mas as queixas são antigas e visam o governo, responsabilizado pela situação geral do país.

Cuba atravessa uma crise grave desde há dois anos, devido à conjugação da pandemia do novo coronavirus, ao endurecimento das sanções dos EUA e às opções de política económica e monetária seguida.

Neste período, tem-se relatado a escassez de alimentos e medicamentos, a multiplicação das filas, a desvalorização da moeda -- de 24 por dólar para os 200 no mercado informal -- e o acentuado crescimento da inflação.

Os apagões tornaram-se frequentes: entre julho e setembro, apenas em dois dias houve dois dias sem cortes em alguma parte do país. Algumas localidades chegam a estar sem energia 12 horas consecutivas.

O sistema energético cubano já estava com fortes problemas antes do Ian. Sete das oito centrais termoelétricas terrestres (existem outras seis flutuantes) têm mais de 40 anos, quando a sua vida estimada é de 30.

Acresce que as centrais sofrem um prolongado défice de investimento e manutenção.

Os protestos cresceram de forma paralela aos apagões. Nos últimos três meses registaram-se dezenas, incluindo Santiago de Cuba, no leste, e Havana. Em Nuevitas, no leste, houve mesmo dois dias seguidos de manifestações.

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