Os protestos do grupo, composto também por oleiros e proveniente do bairro 1.º de Maio, em Moatize, terão interrompido as operações da Vale naquela parte da mina por quase 10 horas na quarta-feira e os camponeses só abandonaram o local após a chegada de uma equipa da direção para negociações, segundo uma nota da organização não-governamental (ONG) Justiça Ambiental.

"Estes oleiros e camponeses viram recentemente o seu acesso ao rio cortado pela mineradora Vale, no âmbito do processo de expansão das atividades da empresa", refere a organização, destacando que se trata de um rio "fundamental para as atividades de subsistência e sobrevivência que os camponeses realizam desde 1994".

"É inaceitável que a Vale continue com esta postura hostil em Tete, e que mais uma vez tenha vedado o acesso a um rio fundamental para a subsistência das famílias que vivem no seu entorno, sem que tenha negociado", acrescenta a ONG.

Numa nota de reação enviada hoje à Lusa, a Vale afirma que mantém os "canais de comunicação com as comunidades abertos", com o objetivo de "compreender as suas reivindicações e encontrar soluções sustentáveis".

"A empresa confia num diálogo aberto e transparente e cumpre todas as obrigações legais, sustentada nas melhores práticas de gestão social internacionais", frisa a empresa, lembrando que investiu 37 milhões de dólares (30 milhões de euros) em projetos de desenvolvimento para as comunidades, num valor em que, pelo menos, 3 milhões de dólares (2,4 milhões de euros) foram aplicados especificamente no bairro do grupo que organizou o protesto (1.º de Maio).

O carvão é um dos principais produtos de exportação de Moçambique, destinado sobretudo à Ásia, e a Vale emprega cerca de 8.000 pessoas, perto de 3.000 trabalhadores próprios e os restantes subcontratados.

Em janeiro, a Vale anunciou a intenção de vender a exploração de carvão no país, justificando-se com o objetivo de ser neutra ao nível das emissões de carbono até 2050 e de reduzir algumas das suas principais fontes de poluição daquele tipo até 2030.

A empresa já assinou um princípio de entendimento com a parceira japonesa Mitsui, "permitindo a ambas as partes estruturar a saída da Mitsui da mina de carvão de Moatize e do Corredor Logístico de Nacala (NLC, sigla inglesa), como primeiro passo para o desinvestimento da Vale no negócio de carvão.

Atualmente, a mineira brasileira tem capacidade instalada para produzir 12 milhões de toneladas de carvão por ano, mas tem ficado aquém do valor: em 2018 produziu 11,5 milhões de toneladas e em 2019 produziu oito milhões de toneladas.

Em 2020, o valor deverá ter sido ainda mais baixo devido à quebra na procura de carvão, causada pelo abrandamento da economia global face à pandemia.

EYAC // JH

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