O Banco Montepio está num processo contínuo de transição digital, com vista a melhorar a experiência dos seus clientes, a reforçar o alcance do seu serviço e a aumentar a eficiência interna. Segundo o relatório e contas de 2024, o número de transações realizadas através do serviço Montepio24 registou um aumento de 18% face ao período homólogo. E o número de clientes ativos utilizadores do serviço registou um aumento de 7%. Neste período, também o número de clientes digitais ativos utilizadores do canal mobile (Montepio24 app) registou um crescimento de 9% face ao período homólogo.

O banco destaca como inovação, no último ano, o lançamento de uma nova jornada online que permite a abertura de conta bancária com recurso à chave móvel digital, de forma 100% digital, em cinco minutos, sem necessidade de submeter manualmente documentos comprovativos.

Para Jorge Baião, Chief Technonolgy Officer (CTO) do Banco Montepio, a transição digital traz inúmeras oportunidades, mas também desafios, como a cibersegurança ou a necessidade de adaptar sistemas legados. Ao Jornal PT50, o também professor convidado de várias pós-graduações no ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão destaca a inteligência artificial e automação como ferramentas que podem melhorar o exercício da atividade bancária. Essenciais, na sua perspetiva, para os bancos conseguirem competir com a agilidade das fintechs e das bigtech. Destaca também a computação em nuvem, o ‘banking-as-a-service’, o blockchain e a tokenização de ativos como soluções emergentes que deverão ter um impacto significativo no setor bancário.

Quais os principais desafios tecnológicos do Banco Montepio na atualidade?

O setor bancário está a atravessar uma fase de grande transformação, o que traz consigo vários desafios tecnológicos significativos. Um dos maiores é a modernização dos sistemas legados. Muitas instituições ainda dependem de sistemas que foram desenvolvidos há décadas e que não estão preparados para as exigências atuais, como escalabilidade, integração e segurança.

Além disso, a pressão regulatória está a aumentar, com o quadro regulamentar europeu a exigir que os bancos tenham uma gestão de dados e riscos mais abrangente e sofisticada. Isso implica que precisam de impulsionar a transformação digital e adotar tecnologias emergentes que fortaleçam a sua resiliência operacional.

A cibersegurança também representa um desafio crítico. O número de ataques cibernéticos contra instituições financeiras tem vindo a crescer em sofisticação e complexidade. Estes ataques estão a tornar-se cada vez mais industrializados, obrigando o setor a investir continuamente em defesas e arquiteturas resilientes.

Por último, mas não menos importante, a experiência do cliente e a automação estão em foco. Os consumidores atuais esperam interações bancárias rápidas, fluidas e disponíveis em múltiplos canais. Para competir com fintechs e grandes empresas de tecnologia, os bancos precisam acelerar a adoção de inteligência artificial, automação e serviços baseados na nuvem.

Como a IA e a automação estão a ser integradas nas operações bancárias?

A inteligência artificial (IA) e a automação estão a desempenhar um papel fundamental na modernização das operações bancárias, e o seu impacto continua a crescer de forma significativa. O setor está a integrar estas tecnologias em várias áreas-chave.

Na automação de ‘compliance’ e nos relatórios regulatórios, por exemplo, os sistemas baseados em IA ajudam a monitorizar transações suspeitas e a gerar relatórios automaticamente. Esta automação não só reduz o risco de erro humano, como também melhora a eficiência operacional.

Na avaliação de crédito e na gestão de risco, algoritmos de ‘machine learning’ analisam o comportamento financeiro dos clientes, permitindo prever riscos de incumprimento e ajustar as taxas de crédito de forma personalizada. Estudos recentes indicam que essa abordagem pode aumentar a precisão na concessão de crédito em até 30%.

Além disso, a deteção de fraudes em tempo real utiliza modelos avançados de IA, que analisam transações e padrões de comportamento, facilitando a identificação quase imediata de fraudes e permitindo o bloqueio de operações suspeitas antes que possam causar danos. É crucial que os bancos adotem soluções de IA que forneçam explicações claras e auditáveis dos seus resultados, o que contribuirá para aumentar a confiança dos consumidores.

Os ‘chatbots’ e assistentes virtuais estão a revolucionar o atendimento ao cliente, reduzindo custos e melhorando a experiência do utilizador ao possibilitar suporte 24/7 sem necessidade de intervenção humana. Por fim, muitas tarefas repetitivas, como a verificação de documentos e a reconciliação de pagamentos, estão a ser automatizadas, permitindo que as equipas se concentrem em atividades de maior valor acrescentado.

Como o banco se adapta tecnologicamente para garantir conformidade com novas regulações, como é o caso do DORA e do Basileia?

A adaptação dos bancos às novas regulamentações exige investimentos estratégicos em tecnologia. Um exemplo é o DORA (Digital Operational Resilience Act), uma nova regulamentação europeia que exige que os bancos reforcem as suas estratégias de cibersegurança. Para isso, adotam arquiteturas Zero Trust, implementam a monitorização contínua de ameaças e realizam testes de penetração periódicos.

Com o Basileia III, que introduz novas exigências de capital e liquidez, as instituições financeiras estão a considerar plataformas avançadas de análise de risco que utilizam modelos de redes neuronais e métodos de regressão com aprendizagem reforçada. Esses modelos têm como objetivo prever oscilações financeiras e melhorar a alocação de capital, contribuindo assim para uma gestão mais eficaz.

Além disso, há uma crescente ênfase nos princípios de ESG (ambiental, social e de governança), com os reguladores a exigir que os bancos sejam mais transparentes quanto ao impacto ambiental dos seus investimentos. Para tal, as instituições estão a considerar a adoção de ferramentas de reporting e análise, que permitem medir e comunicar esses indicadores de forma precisa.

Por fim, a computação em nuvem está a facilitar a escalabilidade dos sistemas de ‘compliance’, assegurando que os relatórios e auditorias exigidos pelos reguladores sejam automatizados e acessíveis em tempo real.

Que tecnologias emergentes acredita que terão maior impacto no setor bancário?

Há várias tecnologias emergentes que se prevê tenham um impacto significativo no setor bancário. A computação em nuvem e o ‘banking-as-a-service’ destacam-se como exemplos claros. Cada vez mais, os bancos estão a migrar para infraestruturas baseadas na nuvem, permitindo-lhes lançar novos produtos de forma ágil e reduzir custos operacionais. De acordo com a Gartner, espera-se que 85% das empresas do setor financeiro utilizem a nuvem até 2025, o que reflete a crescente adoção desta tecnologia.

Outra tecnologia revolucionária é o blockchain, que e a tokenização de ativos estão a transformar o setor financeiro, tornando as transações mais rápidas, seguras e transparentes. O setor já apresenta alguns MVP (produtos mínimos viáveis) explorando contratos inteligentes, e os estudos para o Euro Digital demonstram o potencial desta tecnologia para reduzir custos e aumentar a eficiência.

A IA explicável também está a ganhar destaque, especialmente na vertente generativa, pois os reguladores exigem maior transparência nos algoritmos de decisão. Os bancos deverão adotar soluções de IA que ofereçam explicações claras e auditáveis dos seus outputs, aumentando assim a confiança do consumidor.

Tecnologias como identidade digital e autenticação biométrica estão a ser implementadas para melhorar a segurança e reduzir fraudes, usando métodos como reconhecimento facial e blockchain para autenticação digital. Por último, o Open Banking e as API estão a permitir que bancos e fintechs criem ecossistemas financeiros inovadores, oferecendo serviços personalizados e melhorando a experiência do cliente.

Quais são os maiores desafios de segurança cibernética para o setor bancário?

O setor bancário enfrenta desafios significativos na área de segurança cibernética, com os ataques a tornarem-se cada vez mais sofisticados e frequentes. As ameaças de ‘ransomware’ são um grande problema; a sua industrialização permite que exploradores de vulnerabilidades bloqueiem sistemas bancários e exijam elevados resgates. Um relatório da Cybersecurity Ventures estima que os danos globais causados por ataques de ‘ransomware’ podem chegar a 265 mil milhões de dólares até 2031.

Além disso, fraudes digitais e técnicas de engenharia social, como ‘phishing’ e ‘deepfakes’, são frequentemente utilizadas para enganar clientes e funcionários, roubando credenciais e acessos. O panorama de segurança em Open Banking também representa um desafio, já que a interligação com fintechs e terceiros através de API expande a superfície de ataque, exigindo encriptação robusta e monitorização contínua.

Olhando para o futuro, a computação quântica poderá comprometer os métodos tradicionais de encriptação, obrigando os bancos a desenvolver novas estratégias de segurança. Para lidar com estas ameaças, muitos bancos estão a investir em estratégias de defesa proativa, recorrendo a modelos de IA para deteção de anomalias, autenticação multifator avançada e arquiteturas de segurança Zero Trust.

Quais os perfis tecnológicos que estão a ser mais requisitados pelos bancos?

A transformação digital e as novas exigências regulatórias estão a impulsionar a procura por profissionais com competências tecnológicas especializadas. Os perfis mais requisitados incluem especialistas em cibersegurança, que se focam em resiliência operacional, gestão de ameaças e segurança em cloud. A procura por cientistas de dados e engenheiros de IA também está em alta, especialmente aqueles com experiência em ‘machine learning’ e IA explicável, essenciais para áreas como ‘compliance’, apoio à decisão de crédito e personalização de serviços.

Arquitetos de cloud, DevOps e engenheiros de SRE (Site Reliability Engineering) são fundamentais para escalar infraestruturas bancárias e aumentar a fiabilidade operacional. Há também uma crescente procura por analistas e programadores de API e Open Banking, que criam interfaces seguras para a integração de serviços financeiros.

Assim, o setor bancário está num momento de intensa transformação, e os profissionais que combinam conhecimento técnico com uma visão estratégica terão um papel crucial nesta nova era digital.

Nota: Este artigo faz parte de uma série que explora os principais desafios e estratégias dos CTO dos bancos nacionais para fazer face à transformação digital do setor financeiro.