Portugal tem uma cultura desportiva baseada no futebol. O desporto na comunicação social, na vida social e na política é o futebol, com prejuízo para as restantes modalidades. No entanto, uma vez por ano, o país fica atento à Volta a Portugal em Bicicleta.

A Grandíssima tem uma longevidade assinável, desde 1927. Por ela, passaram os grandes clubes desportivos do país, como o FC Porto, o Sporting e o Benfica e grandes ciclistas, com grande popularidade, como Alves Barbosa, Joaquim Agostinho, Joaquim Gomes e Cândido Barbosa, entre muitos outros.

Portugal tem uma cultura desportiva baseada no futebol. O desporto na comunicação social, na vida social e na política é o futebol, com prejuízo para as restantes modalidades. No entanto, uma vez por ano, o país fica atento à Volta a Portugal em Bicicleta. A Grandíssima tem uma longevidade assinável, desde 1927.

Por ela, passaram os grandes clubes desportivos do país, como o FC Porto, o Sporting e o Benfica e grandes ciclistas, com grande popularidade, como Alves Barbosa, Joaquim Agostinho, Joaquim Gomes e Cândido Barbosa, entre muitos outros.

A Volta a Portugal – mais do que uma corrida, um símbolo nacional. Todos os anos, durante alguns dias de verão, Portugal pára para ver passar os ciclistas.

A competição velocipédica, carinhosamente chamada de “A Grandíssima”, não é apenas uma competição desportiva: é um fenómeno cultural, um elo de ligação entre gerações, e uma das raras manifestações desportivas, além do futebol, que consegue realmente unir o país. Num país profundamente apaixonado pelo futebol – que ocupa os noticiários, as conversas de café e as redes sociais – o ciclismo parece, durante o resto do ano, viver à sombra.

No entanto, quando chega agosto, há um sentimento quase nostálgico e identitário que envolve a Volta. As estradas enchem-se de pessoas, os sinos das aldeias tocam à passagem do pelotão, e há um reencontro com o país profundo, com as terras do interior e as suas gentes. A popularidade da Volta não se explica apenas pelo desporto.

O fenómeno explica-se pelo que representa: resistência, esforço, superação e orgulho regional. Cada etapa é um palco onde se celebra a beleza do território português, onde a televisão pública mostra as paisagens, a gastronomia e o património que raramente têm destaque e a emoção está presente, seja a assistir na estrada, seja em frente à TV. Trata-se de um Portugal esquecido que ganha, por uns dias, o merecido protagonismo. Contudo, falta representatividade do país todo, com regiões como o Alentejo e o Algarve, frequentemente fora do percurso da Volta.

Além disso, a Volta a Portugal tem uma história rica, feita de nomes que marcaram gerações, como Joaquim Agostinho ou Cândido Barbosa, e de clubes grandes e pequenos que contribuíram para a sua construção. Mesmo quem não é fã de ciclismo, reconhece nestes nomes uma memória coletiva que transcende o desporto. A Grandíssima é uma tradição que não deve apenas ser mantida, mas valorizada e protegida, o que não tem acontecido de forma eficaz. A despromoção de categoria pela União Ciclista Internacional mostra a falta de investimento e pouco interesse em atrair as equipas do World Tour e alguns dos maiores talentos mundiais do Ciclismo, ao contrário da Volta ao Algarve.

Num tempo em que tudo é instantâneo e digital, há algo de profundamente humano e autêntico na forma como esta prova se vive nas bermas das estradas, com aplausos sinceros e olhares de admiração. Por tudo isto, a Volta a Portugal é um verdadeiro património nacional — e merece ser tratada como tal.