Não é que as situações sejam comparáveis, mas por esta altura Kylian Mbappé estará a pensar como raio de novo perdeu um jogo em que marcou por três vezes. Aconteceu na final do Mundial de 2022, perdida nos penáltis para a Argentina. E, este domingo, repetiu-se o filme num jogo que o Real Madrid tinha absolutamente de ganhar para continuar a sonhar com o título espanhol.

Só que o hat-trick de Mbappé não chegou. Aliás, os dois golos sem resposta do Real Madrid ainda antes dos 15 minutos de jogo não chegaram perante a máquina de ataque do Barcelona, que até ao intervalo não só deu a volta ao jogo como ainda chegou aos 4-2, aplicando doses generosas de pressão alta ao rival, com Raphinha e Lamine Yamal endiabradamente loucos. Novo golo do Real Madrid na 2.ª parte, quando ainda faltavam 20 minutos para jogar, prometiam ainda mais drama e espectáculo num jogo que os teve a rodos. E as oportunidades apareceram, sem que o ainda campeão espanhol em título as conseguisse aproveitar.

No final, o triunfo por 4-3 do Barcelona alarga a vantagem para 7 pontos e deixa o título à distância de uma pequena viagem de comboio até Cornellá de Llobregat, onde na quinta-feira os blaugrana jogam com o Espanyol. Em caso de vitória, há festa em Barcelona.

Golos e erros

Um dos grandes clássicos do futebol mundial tem dado jogos especiais esta época. O Barcelona venceu na 1.ª volta por 4-0, em pleno Santiago Bernabéu, e venceu também na Supertaça e na final da Taça do Rei, na primeira competição por 5-2 e na segunda por 3-2, num jogo só resolvido no prolongamento.

Este domingo, voltou a haver muitos golos, futebol de requinte em certos momentos. O Real Madrid, encostado às cordas, marcou logo aos 5’, de penálti, depois de Szczesny abalroar Mbappé, que se isolou após um erro de Cubarsí, deitando por terra, por momentos, a pressão asfixiante que o Barcelona ia servindo. O próprio Mbappé tratou de marcar o penálti e bisou aos 14’, aproveitando um ataque rápido e um passe de trivela na esquerda de Vini Jr.

A reação do Barcelona foi rápida e forte. Mantendo a sua ideia, o primeiro avisou chegou de um remate de meia-distância de Gerard Martín. Eric García, num canto, reduziu, fechando 20 minutos de insanidade na cidade condal. Não ficaria por aí a loucura: aos 32’, Lamine Yamal fez mais um dos seus golaços, inventando um espaço para o seu remate quando todos os outros tentavam, sem sucesso, sair da cabine telefónica criada pelo Real, e Raphinha imitou Mbappé, bisando antes do intervalo.

Soccrates Images

No seu primeiro, o Barcelona tirou proveito de um quase cómico encontrão entre Ceballos e Mbappé a meio-campo, que deixou a defesa dos merengues descompensada e com uma clareira para o brasileiro marcar. E a momentos do descanso, um penálti revertido para o Real Madrid tornou-se, na jogada seguinte, no 4-2 para o Barcelona, com Raphinha a pressionar Lucas Vázquez, roubando-lhe a bola, para combinar depois com Ferrán Torres para mais um golo da equipa da casa. Desde 1943 que um clássico espanhol não tinha seis golos numa 1.ª parte.

A 2.ª parte, jogada a outro ritmo, não deixou de ter oportunidades para os dois lados. Ainda assim, o golo de Mbappé, aos 70’, surgiu em contra-ciclo, após um erro na saída do Barcelona. No meio de tantas críticas, para o francês são 27 golos na La Liga, na sua época de estreia. Nada mau. Victor Muñoz, jovem da academia merengue, mas catalão com passagem em La Masia, quase se estreava na primeira equipa do Real Madrid com um golo ao Barcelona na primeira vez que tocou na bola, mas a pressão foi maior: o remate, aparentemente fácil, saiu muito torto. E já nos descontos Mbappé teve nos pés um impressionante póquer mas, isolado, terá optado pelo remate cedo demais.

Agora, está tudo nas mãos do Barcelona, que na primeira época de Hansi Flick se prepara para voltar a ser campeão nacional, depois da desilusão da eliminação na Liga dos Campeões, a meio da semana, frente ao Inter. As quatro vitórias e 16 golos marcados ao Real Madrid numa só época são, por si só, uma marca.