

Surpreendendo um total de zero pessoas, Tadej Pogacar foi a estrela maior da primeira semana do Tour de France, somando já duas vitórias de etapa, ganhando tempo a todos os adversários e estando até ainda na luta pela camisola verde.
Porém, o sumo todo bem espremido não amonta assim tanto e, com a alta montanha ainda por chegar, o esloveno está bem longe de ter o Tour na mão. Tanto mais que o abandono de João Almeida após queda fragiliza bastante o seu apoio na muita dureza que falta percorrer. Por isso, o Tour entra na sua segunda metade ainda em aberto.
Fechada está a primeira semana e com vários apontamentos a merecer destaque.
O começo de sonho da Alpecin
Ao terceiro dia do Tour, Jasper Philipsen, vencedor de múltiplas etapas em várias edições da prova gaulesa e camisola verde em 2023, caiu na disputa de um sprint intermédio e foi forçado a abandonar. O que para outras equipas seria um desastre foi apenas uma nota de rodapé numa semana inesquecível para a Alpecin – Deceuninck.
Tudo começou logo na etapa inaugural. Com o vento a fazer cortes no pelotão, Jasper Philipsen esteve sempre entre os melhores e faltou concorrência ao seu nível nos metros finais, permitindo ao belga acelerar para a etapa e para a amarela.
No dia seguinte, chegaram as colinas e o protagonista foi outro, mas o resultado semelhante. Mathieu van der Poel bateu os homens da geral ao sprint e também ele chegou à vitória de etapa e à amarela. Essa liderança seria mantida por mais dois dias, perdendo-a no crono.
Mas, isso não foi o fim. O ex-campeão do mundo dedicou-se então às fugas. A etapa seis valeu-lhe tempo na estrada para vestir mais um dia de amarelo, enquanto a etapa nove o viu numa jornada a dois com o seu colega de equipa Jonas Rickaert. Após 170 quilómetros em fuga, van der Poel só seria alcançado já dentro dos últimos mil metros. Já Rickaert cumpriu o sonho de subir ao podium no Tour, reclamando o prémio de combativo do dia.
A festa dos sprinters
À partida para este Tour, três sprinters dominavam as previsões para as etapas planas desta edição da Grande Boucle, Jasper Philipsen, Jonathan Milan e Tim Merlier. Esta primeira semana tinha quatro etapas disponíveis para os velocistas e, se já vimos que Philipsen não demorou a aproveitar a oportunidade, também Milan e Merlier não tardaram em erguer os braços em celebração, com o belga a fazê-lo por duas vezes.
As expectativas eram altas para este confronto a três e, até ao momento, os velocistas não têm desapontado, mesmo depois da saída de Philipsen. E, os restantes também têm estado a bom nível, contribuindo para finais sempre interessantes de acompanhar. O touro De Lie está cada vez mais próximo dos melhores, Kaden Groves conta com o apoio certo para disputar a vitória e o vencedor da verde na edição transata, Biniam Girmay, parece agora mais lento, mas a sua regularidade ainda o mantém na luta pela classificação por pontos.
Healy, o rei das fugas
Depois do podium de Richard Carapaz no Giro d’Italia, a EF Education First aparecia no Tour com ambições mais modestas nos ombros de um grupo de ciclistas oportunistas. Ora, um deles não deixou créditos por mãos alheias: o irlandês Ben Healy. Duas vezes foi para a fuga e duas vezes fez esse esforço contar.
À sexta etapa, a primeira aparição. Uma escapada de oito ciclistas que rapidamente ganhou uma vantagem interessante e cedo se percebeu que disputaria a vitória de etapa. Healy não esteve por meias medidas e lançou-se a solitário a mais de 40 quilómetros, abdicando do conforto da companhia. Em poucos tempo já tinha uma diferença saudável para os ex-companheiros de jornada e, até ao fim, foi sempre a crescer, triunfando com quase três minutos de avanço sobre os perseguidores mais próximos.
O segundo ato deu-se ao décimo dia, mesmo antes do descanso. Desta feita, num grupo dianteiro muito mais numeroso e com vários colegas de equipa. A EF percebeu que havia a possibilidade de levar o irlandês à liderança e trabalhou o dia todo com Powless, Sweeney e Baudin. No final, ele próprio se expôs para ir em busca da amarela e isso custou-lhe as forças para responder ao ataque final de Simon Yates, que juntou uma etapa no Tour à Rosa do Giro para continuar com um ano memorável. Healy ainda fez terceiro na etapa, mas isso era secundário, o que realmente importava era a diferença para o pelotão e essa manteve-se mais que suficiente para ir para o dia de descanso como líder do Tour.
Pogacar só sabe ganhar
Já são 100. Ao quarto dia desta edição, Tadej Pogacar sprintou mais rápido que van der Poel e Vingegaard para alcançar a centésima vitória da carreira com apenas 26 anos. O campeão em título é um fenómeno da modalidade e nas etapas acidentadas desta primeira semana ainda foi triunfar mais uma vez (no icónico Mûr-de-Bretagne) e fazer um outro segundo lugar.
Todavia, o resultado mais importante poderá mesmo ter sido o seu outro segundo posto, no contrarrelógio de Caen. Foi o único dia em que se fizeram reais diferenças entre os favoritos à geral final e, se Remco Evenepoel mostrou o porquê do estatuto de campeão do mundo da especialidade para triunfar na jornada, Pogacar teve um dia exemplar, minimizando perdas para o belga e colocando os restantes rivais já a alguma distância, em particular Jonas Vingegaard, que cedeu mais de um minuto para o esloveno.
Ainda assim, parece pouco. Mesmo tendo Pogacar dominado uma primeira semana bem ao seu jeito e vestido de amarelo por quatro dias, a marca que mais fica é que ainda não foi capaz de fazer Jonas Vingegaard descolar da sua roda. Com a chegada à alta montanha e uma equipa da Visma que parece cada vez mais em forma, veremos se não será o dinamarquês quem primeiro deixará para trás o rival dos últimos quatro Tours.