
O caso continua a dar que falar desde a manhã desta sexta-feira. A decisão por parte da Câmara Municipal de Lisboa em fechar todos os estabelecimentos comerciais nos arredores de Alvalade no dia em que os leões se podem sagrar bicampeões é motivo da revolta que, convém lembrar, tal como A BOLA adiantou até já motivou contatos por parte de Frederico Varandas, presidente dos leões, junto com o autarca Carlos Moedas para reverter esta decisão. Pois bem, na sequência desta decisão, um grupo de adeptos, entre os quais constam nomes como Nuno Mourão ou Rodrigo Roquette, enviaram uma carta com vários destinatários na qual dão conta da revolta por parte de uma decisão que consideram uma «medida desastrosa».
Leia a carta:
Exmo. Sr. Presidente Carlos Moedas
Exmo. Sr. Vereador Rui Cordeiro
Exmo. Sr. Vereador Diogo Moura
Exmo. Sr. Superintendente-chefe Luís Carrilho
Exmo. Sr. Comandante José Carvalho Figueira
ASSUNTO: CONTESTAÇÃO VEEMENTE À DECISÃO DE ENCERRAMENTO DO ESPAÇO PÚBLICO E ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS NAS IMEDIAÇÕES DO ESTÁDIO JOSÉ ALVALADE
Venho, por este meio, manifestar a minha profunda indignação e repúdio absoluto face à decisão inqualificável de encerrar o espaço público e estabelecimentos comerciais nas imediações do Estádio José Alvalade no dia 17 de maio.
Esta medida, tomada de forma precipitada e sem qualquer consideração pelos impactos reais, revela uma incompreensível falta de visão estratégica e um desrespeito flagrante pelos cidadãos, comerciantes e adeptos que fazem parte integrante da vida da cidade.
Amanhã será um dia histórico para Lisboa. Um dia de celebração, de emoção partilhada, de comunhão cívica. E a resposta das autoridades é fechar, proibir, restringir? É esta a visão que têm para a capital do país? Uma cidade que se fecha perante a alegria dos seus habitantes?
A decisão tomada não só é profundamente lesiva dos interesses económicos dos comerciantes locais — que contavam com este dia para compensar meses de dificuldades — como constitui um erro crasso em matéria de segurança pública, revelando um desconhecimento alarmante das melhores práticas internacionais.
Ao encerrar estabelecimentos regulados, supervisionados e com condições adequadas, V. Exas. estão deliberadamente a empurrar milhares de pessoas para espaços informais, sem controlo, sem infraestruturas sanitárias, sem segurança. O resultado será precisamente o oposto do pretendido: maior concentração de pessoas em menos espaços, consumo desregulado de álcool na via pública, potencial aumento de tensão e conflitos.
É absolutamente incompreensível que, em pleno século XXI, as autoridades lisboetas optem por uma abordagem tão retrógrada, quando todas as evidências científicas e experiências internacionais apontam noutra direção.
A UEFA, no seu regulamento de segurança, recomenda expressamente planos de dispersão e acolhimento com espaços de permanência definidos — não a concentração forçada. A Sports Grounds Safety Authority do Reino Unido afirma categoricamente que a coordenação com comunidades locais e negócios é essencial para o planeamento de segurança. O modelo CPTED, implementado com sucesso em dezenas de cidades europeias, demonstra inequivocamente que a presença de comércio ativo, iluminação adequada e circulação natural de pessoas é o que verdadeiramente contribui para a segurança urbana.
Em cidades com vasta experiência na gestão de eventos desportivos de elevada intensidade emocional — como Dortmund, Glasgow, Manchester ou Barcelona — as autoridades reforçam a presença policial, organizam zonas de encontro seguras e mantêm o comércio a funcionar como parte integrante da solução. Nunca, em circunstância alguma, optam pelo encerramento e pela criação artificial de "zonas mortas" na cidade.
Esta decisão, para além de revelar uma preocupante falta de conhecimento técnico, transmite uma mensagem devastadora: a de que os cidadãos não são bem-vindos à sua própria cidade num dos dias mais significativos do calendário desportivo e social. É uma mensagem de medo, de desconfiança, de incapacidade governativa.
Exijo, com a veemência que a situação impõe, que V. Exas. reconsiderem urgentemente esta decisão desastrosa. Que tenham a humildade de reconhecer o erro e a coragem de o corrigir. Que demonstrem estar à altura das responsabilidades que os cidadãos vos confiaram.
Amanhã, milhares de lisboetas irão demonstrar — com a elevação e o civismo que sempre os caracterizou — que estavam profundamente equivocados ao temer a festa. Que a cidade não se deve fechar quando os seus habitantes a querem celebrar. Que a segurança se constrói com inteligência, planeamento e confiança nos cidadãos — não com medidas cegas, desproporcionadas e contraproducentes.
Lisboa merece melhor. Os comerciantes merecem respeito. Os adeptos merecem dignidade. E todos nós merecemos autoridades que estejam à altura dos desafios do nosso tempo.
Aguardo com expectativa uma resposta urgente que demonstre que as nossas instituições são capazes de aprender, de evoluir e de servir verdadeiramente o interesse público.
Com a maior veemência,
Nuno Mourão