— Referiu que pendurou o fato e a gravata de advogado pela paixão de ser treinador de basquetebol. Foi difícil?

— Em termos familiares não, tive sempre muito apoio. Bem,  foi mais ou menos. Tive muito apoio, sobretudo da minha mãe, alguém que estimo bastante. É o meu role model. Dar-me essa força e apoio foi muito importante, mas, ao mesmo tempo, difícil porque significava estar longe. No caso da Romênia significava que só cá vinha uma vez por época, no fim da temporada. Lá as competições não param, nem durante as festas natalícias. Resumindo, foi fácil nesse aspecto, difícil na questão da saudade.

Depois, mais difícil, o lado social e humano. Significa afastarmo-nos daquilo que temos no nosso dia-a-dia e que também nos faz: o grupo de amigos, as vivências que temos com eles… Tomar a decisão de passar ao lado de tudo isto não foi fácil. Tive sempre muito apoio e houve amigos que me foram visitar para me fazer sentir perto. Na altura foi uma decisão difícil, mas hoje voltaria a tomá-la.

Por isso não foi difícil, embora o risco de correr mal e depois não ter hipótese de voltar atrás era uma preocupação grande. Mas aí não podemos pensar duas vezes: é tomar a decisão, ir em frente e fazer tudo que está ao nosso alcance para que corra bem.

No que toca à questão de fechar o escritório e pendurar o fato e a gravata, não era sequer a escolha entre dois amores, mas entre um amor e uma obrigação. Entre aquilo que achava que podia ser para além da minha paixão/ganha-pão e aquilo que era exclusivamente uma questão profissional. Tinha-me licenciado, portanto era quase uma noblesse oblige, tenho que fazer aquilo que está destinado. Por isso não foi difícil, embora o risco de correr mal e depois não ter hipótese de voltar atrás era uma preocupação grande. Mas aí não podemos pensar duas vezes: é tomar a decisão, ir em frente e fazer tudo que está ao nosso alcance para que corra bem.

Tenho que respirar fundo sempre que falo na minha mãe porque é algo que me emociona bastante... É alguém que está muito presente nos jogos.

— Daquilo que sei, a sua mãe está em todos os jogos sempre a apoiá-lo. Como é que é ter essa fã? É muito crítica?

— Não, ela é... [emociona-se] tenho que respirar fundo sempre que falo na minha mãe porque é algo que me emociona bastante…. [curta pausa] É alguém que está muito presente nos jogos. Aqui em Lisboa nem tanto porque já tem 84 anos e não é fácil andar de um lado para o outro, mas sempre que pode vem cá. Quando vamos jogar ao norte, agora nem tanto a Coimbra, mas a Aveiro, Ermesinde, Porto… está em todos os jogos. É crítica no sentido de, quando sente que estou um bocadinho mais abatido, porque as coisas nem sempre correm bem, de me picar. Quando lhe ligo é crítica ao ponto de dar a opinião dela sobre a partida, de me dizer: ‘Olha, estive a ver o jogo contra quem vais enfrentar na semana e tem atenção que aquela equipa…’.

Dentro do seu conhecimento acaba por ser engraçado. É crítica nesse ponto porque, não era preciso mas, se porventura me passasse a ideia de abaixar os braços, não permitia. Depois é também um exemplo de vida para mim. Exemplo de resiliência, de lutar contra tanta coisa e educar dois filhos sendo viúva… [volta a emocionar-se e quase lhe falta a voz]. É alguém que me ajuda continuar no dia a dia, a vencer, a lidar com coisas menos boas que muitas vezes acontecem.

Viver os jogos de fim de semana e as conquistas que o filho ajuda a ter para o clube — ela também é benfiquista — foi algo que lhe deu um novo alento e mais um motivo de estar saudável e lúcida

— A sua mãe já era assim quando jogava basquetebol? Ia aos seus jogos?

— Não, é uma história interessante. Diria que começou a acompanhar os meus jogos a partir dos Europeus que fiz com a Seleção sub-20, em Matosinhos. Por uma questão de proximidade. Até então nunca tinha ido ver um jogo meu. Eu próprio não fazia questão de a levar porque não queria que ficasse escandalizada com a minha forma mais intensa de trabalhar e estar no encontro. Nunca calhou… Mas, a partir daí, por volta de 2010, foi um bichinho que entrou nela e hoje sei que é algo que a move e a alimenta no dia a dia. Viver os jogos de fim de semana e as conquistas que o filho ajuda a ter para o clube — ela também é benfiquista — foi algo que lhe deu um novo alento e mais um motivo de estar saudável e lúcida para também me ajudar a ter sanidade mental porque para mim também é importante que ela esteja bem.