A 30ª jornada da Liga Portugal Betclic começa em Faro, na próxima sexta, com um duelo que coloca frente a frente os dois últimos classificados: Farense e Boavista.
Estão separados por apenas três pontos, com vantagem para a equipa do Algarve, que leva 21 pontos neste momento. Ambas as equipas somam apenas quatro vitórias em 29 partidas, com a diferença a estar nos três empates a mais - e consequentemente três derrotas a menos - que o conjunto algarvio leva em relação aos boavisteiros.
| P | J | V | E | D | |||
|---|---|---|---|---|---|---|---|
| 15 |  |
Est. Amadora | 26 | 29 | 6 | 8 | 15 |
| 16 |  |
AFS | 23 | 29 | 4 | 11 | 14 |
| 17 |  |
Farense | 21 | 29 | 4 | 9 | 16 |
| 18 |  |
Boavista | 18 | 29 | 4 | 6 | 19 |
A partida que se avizinha acaba por ter um cariz decisivo e fundamental na luta pela manutenção dos dois emblemas. Com apenas cinco jornadas por disputar, cada ponto torna-se crucial e qualquer deslize nesta fase pode comprometer seriamente as aspirações de permanecer no principal escalão do futebol português.
Dificuldades algarvias
O Farense apresentou dificuldades desde o início da época, onde somou seis derrotas nas seis primeiras jornadas, ainda com José Mota no comando técnico. O treinador de 61 anos acabou despedido e rendido por Tozé Marreco, devido aos maus resultados e - na altura - por ocupar o último lugar da tabela classificativa.
O começo com o novo treinador foi bastante promissor, com um empate a zeros frente ao AFS e uma vitória pela margem mínima sobre o Estoril. Seguiram-se duas derrotas de uma assentada contra Braga (2-0) e Benfica (1-2), antes de nova sequência invicta. Foram quatro jogos sem perder: o empate com o Casa Pia (1-1) e os triunfos sobre Arouca (1-2) e Estrela da Amadora (1-0).
Curiosamente, o último adversário desta sequência foi o próprio Boavista, no Bessa. Num jogo marcado pelo equilíbrio, parecia que os leões de Faro iam levar a melhor sobre as panteras. Contudo, uma grande penalidade convertida por Miguel Reisinho aos 90+5', deixou o jogo empatado (1-1) e cada equipa somava assim mais um ponto na luta pela manutenção.
A turma de Faro parecia estar em boa forma, mesmo tendo perdido em casa com o Gil Vicente (0-1), antes de ir a Famalicão roubar os três pontos (1-2). Só não contavam que essa seria a última vitória em muito tempo... Isto porque o Farense entrou numa fase muito negativa, em que não conseguiu somar qualquer triunfo em 15 jogos para o campeonato.
Foi de facto a fase mais negra desta temporada - onde também foi eliminado da Taça de Portugal -, que culminou na penúltima posição na Liga, depois de ter somado apenas seis pontos durante esse período.
Mais um capítulo na epopeia axadrezada
A temporada do Boavista resume-se a uma palavra: confusão. Desde o arranque da preparação para esta época, que já eram conhecidas as várias dificuldades que o clube do Bessa enfrentava.
A começar desde logo, a proibição de inscrever novos jogadores no plantel principal, o que fez com que as panteras tivessem de ir à luta com as garras pouco afiadas. Cristiano Bacci, treinador boavisteiro na altura, tinha uma tarefa hercúlea pela frente. Ainda assim, conseguiu começar com o pé direito e surpreender, com uma vitória no terreno do Casa Pia por 0-1.
A animação e a ilusão criada com esse triunfo foi solo de pouca dura, visto que se seguiu uma série de oito jogos sem vencer para o campeonato - e a eliminação inesperada da Taça de Portugal com o Varzim -, onde se registaram apenas três pontos devido a empates.
Os triunfos estariam de volta à 10ª jornada, com as panteras a superiorizarem-se ao Gil Vicente em Barcelos, por 1-2. Contudo, a esperança de voltar aos trilhos foi rapidamente desfeita, com uma nova sequência de jogos sem somar os três pontos. Foram 13 partidas seguidas sem conhecer o sabor da vitória, com oito derrotas desde a jornada 16 até à 23.
Pelo meio, deu-se o mercado de transferências de inverno e num abrir e fechar de olhos, o Boavista conseguiu levantar os impedimentos impostos pela FIFA. Ao fim de cinco janelas de transferências sem poder inscrever novos jogadores, eis que a equipa axadrezada apresentou um caminhão de novos reforços, com alguns nomes sonantes: Van Ginkel, Vaclik, Steven Vitória e Kurzawa.
No entanto, o que parecia ser um balão de oxigénio, tornou-se em mais um revés, uma vez que Bacci decidiu colocar o lugar à disposição e abandonar o comando técnico dos boavisteiros, depois da derrota caseira com o Famalicão (0-2). O substituto encontrado foi Lito Vidigal, conhecido por ser um especialista em garantir manutenções.
As coisas não correram nada bem ao treinador angolano, que teve um curto regresso ao clube do Norte, somando apenas um triunfo - em casa sobre o Santa Clara (1-0), colocando assim um ponto final na tal sequência de 13 jogos sem vencer - em seis encontros realizados.
O interino Jorge Couto acabou por assumir nos últimos dois encontros realizados e até venceu o primeiro (0-2 em Vila do Conde). Seguiu-se mais uma derrota (0-1 com o Nacional), antes do anúncio do novo treinador axadrezado: Stuart Baxter, escocês de 71 anos.
Quis o destino que o jogo de estreia fosse fundamental, mas nesta fase da época e com o momento do clube, todos os momentos seriam cruciais.
Tudo ou nada na 30ª jornada
O São Luís vai receber uma autêntica final, pelo menos para os lados boavisteiros. Uma derrota condena praticamente - não de forma matemática - a equipa visitante. Mas o histórico em Faro favorece quem?
O Farense tem feito valer o seu reduto sobre os axadrezados, com 13 vitórias nos 29 jogos em que as duas equipas defrontaram-se. Para além de onze empates, o Boavista conseguiu apenas roubar os três pontos no Algarve por cinco ocasiões. O registo de golos é obviamente favorável à equipa da casa, que apontou 41 e sofreu 28 tentos.
Vale ressalvar que muitos destes encontros são, sobretudo, referentes às décadas de 80 e 90. Por isso, torna-se mais pertinente assinalar apenas as duas partidas mais recentes. Em 2020/21, ano que os leões de Faro voltaram à elite do futebol português, venceram os axadrezados por 3-1 à sétima jornada, com destaque para o golo e assistência de Ryan Gauld. Nesse ano, o Farense acabou despromovido depois de ter ficado na penúltima posição.
O outro jogo aconteceu na época passada e também terminou com uma vitória caseira. Na jornada 28, o Boavista voltava a perder no Algarve, desta feita por 2-0. Foi um ano em que o Farense respirou algum conforto e saúde, tendo mesmo terminado na décima colocação, com mais cinco pontos que os axadrezados, que ficaram em 15º.
Este ano, ambas as equipas estão às portas da descida e com tendência para não conseguirem fugir desta luta. Contudo, o Farense tem todas as condições para embalar. Isto porque vem de uma vitória sobre um concorrente direto (0-1 ao Estrela da Amadora) e vai agora enfrentar outro, logo o último classificado em casa! Uma vitória pode mesmo colocar os algarvios em posição de play-off, ultrapassando o AFS.
Já o Boavista vai tentar beneficiar da chicotada psicológica e do efeito surpresa, jogando o tudo por tudo neste encontro. Uma derrota implica ver a diferença pontual aumentar para algo praticamente impossível de recuperar, enquanto um triunfo relança-os na luta.
* por Bernardo Castro