Turbulento, instável e pouco auspicioso. O FC Porto vive um período muito complicado - há 16 anos que não assistia uma sequência tão negativa - e tornou-se imperativo dar uma resposta cabal em casa do Anderlecht (historicamente, uma casa de pesadelo para os dragões).
Do outro lado, vive-se um momento completamente distinto: cinco jogos sem perder, 11 golos marcados nos últimos dois jogos (!), campanha europeia a roçar a perfeição e o conforto (importante) de jogar em casa.
David Hubert [n.d.r: conheça aqui melhor o jovem técnico do emblema de Bruxelas] desvalorizou a senda de maus resultados dos portistas e apontou mesmo que, independentemente do adversário, o objetivo é ser «dominante em casa».
Para compreender melhor esta equipa do Anderlecht - os perigos, mas também as debilidades -, o zerozero foi à conversa com Jurgen Geril, jornalista belga do Het Nieuwsblad, que explanou ainda a mudança de treinador no emblema de Bruxelas.
«Com Hubert, a equipa joga um futebol mais atraente»
Primeiro, a mudança. Depois de duas temporadas completas [39 triunfos em 76 jogos], Riemer abandonou o Anderlecht e seguiu para o comando técnico da seleção da Dinamarca. Para Jurgen, a decisão não passou apenas pelos resultados, pelo que, com o novo treinador (David Hubert), a equipa passou a jogar um «futebol mais atraente».
«Com o Brian Riemer a época não começou muito bem. É um treinador que prioriza mais o lado defensivo do jogo/boa organização/estabilidade e o problema começou precisamente do ponto de vista ofensivo: o Anderlecht apresentou muitas dificuldades em criar ocasiões e a mudança no corpo técnico passou por aí», começou por introduzir ao nosso portal.
«Com o David Hubert o estilo de jogo mudou. A equipa joga com linhas mais avançadas, mais perto da área adversária e conseguem criar muitas mais oportunidades. É, na minha perspetiva, um futebol mais atraente. Ainda assim, esta forma de jogar tem sido mais vista contra equipas 'mais pequenas', o que levanta algumas dúvidas sobre a postura que irá adotar contra o FC Porto. Não me acredito que regresse ao período mais defensivo do Riemer, mas a pressão, por exemplo, não deverá ser muito alta», sublinhou.
Com o jovem treinador, o emblema belga tem feito um percurso quase perfeito na Europa - três triunfos e um empate - e, segundo o jornalista, a «identidade» deverá se manter intacta.
«Um empate/vitória é bom e, mesmo em caso de derrota, há margem de erro, até porque já estão praticamente qualificados. Penso que deverão manter a mesma identidade, mas com muito respeito pelo FC Porto», apontou.
«A lesão do Vertonghen foi muito difícil para a equipa»
Sobre os principais perigos/debilidades do Anderlecht, Jurgen Geril atirou que Dolberg e Stroeeykens são os principais jogadores a ter em conta, ainda que, do lado defensivo, a história seja diferente.
«O Kasper Dolberg tem sido o mais preponderante do ponto de vista ofensivo, contudo, o jogador que tem estado em melhor forma - na minha perspetiva - é o Mario Stroeeykens. Joga como uma espécie de número 10, mesmo não sendo o mais criativo/driblador. É um jogador que sabe os espaços que deve ocupar, tem um bom remate e é forte fisicamente», explicou.
«Tem sido a chave do Anderlecht, principalmente com a mudança de treinador, uma vez que foi o Hubert quem decidiu colocar o médio mais adiantado no terreno. Na minha opinião, é o jovem jogador que parece estar melhor preparado para dar o salto já na próxima temporada», patenteou.
Questionado sobre as ausências de Vertonghen [lesionou-se no início da temporada] e Debast [foi transferido para o Sporting no verão], o jornalista belga admite que é precisamente aí onde residem os principais problemas da equipa de Bruxelas.
«A lesão do Jan Vertonghen foi muito complicada para a equipa, porque - para além da questão desportiva - estamos a falar do capitão, de um jogador experiente e de um líder. Na época passada, a equipa funcionava muito bem com a dupla Debast - Vertonghen, complementavam-se muito bem. Esta época, essa dupla desapareceu: Debast está no Sporting e o Jan está lesionado.»
«Agora, os centrais do Anderlecht, para ser muito sincero, não são muito fortes, apesar da complementaridade ser semelhante: um central mais jovem e outro mais experiente. O Jan-Carlo Simic (19 anos) tem potencial, mas ainda está 'verde' e o Zanka Jorgensen (34 anos) tem sido um desastre. É lento, tem cometido muitos erros... para o FC Porto poderá ser uma vantagem a explorar», finalizou.