
Old Trafford tem sido a casa do Manchester United há 115 anos, desde 1910. O mundo ainda nem presenciara os horrores da Primeira Guerra Mundial e já os red devils jogavam no mesmo recinto que, em 2025, acolhe a equipa de Ruben Amorim.
No entanto, as duas últimas décadas foram de decadência das condições do estádio. A última grande reforma foi em maio de 2006, com um projeto aprovado ainda antes da entra da família Glazer, em junho de 2005. Significa isto que, nos quase 20 anos do clã norte-americano em Manchester, não foi realizado qualquer trabalho profundo de melhoria de Old Trafford.
As consequências desta falta de investimento têm sido visíveis. O tema terá ficado, como nunca, à vista em maio de 2024, quando uma gigante cascata de água caiu do teto do estádio, inundando uma zona das bancadas, durante um jogo contra o Arsenal em maio de 2024. Já com Amorim como técnico, em dezembro de 2024, a conferência de imprensa depois da partida contra o Bournemouth foi interrompida após ter começado a chover dentro da sala. No Euro 2028, que disputar-se-á no Reino Unido e na República da Irlanda, o estádio de Manchester por onde passará o torneio será o do City, não o do United.
Desta forma, é sem surpresa que são anunciados planos para uma nova casa para os 20 vezes campeões ingleses. O que impressionou foi a escala da mudança: o Manchester United revelou um projeto para deixar Old Trafford, construindo um novo estádio com capacidade para 100 mil espetadores. Segundo a BBC, o custo total do espaço, que incluirá o estádio e a renovação da área envolvente, serão cerca de €2,3 mil milhões.
"Será o maior estádio de futebol do mundo", assegura Jim Ratcliffe, o multimilionário que adquiriu, em dezembro de 2023, 25% do United, quantidade que entretanto subiu para 28,9% "Old Trafford serviu-nos brilhantemente durante 115 anos, mas ficou para trás das melhores arenas do desporto internacional", diz o líder da INEOS.
O mesmo Jim Ratcliffe, que numa manhã fala de um projeto megalómano, deu, no final da tarde e noite anteriores, uma série de entrevistas a diversos órgãos de comunicação social britânicos. E, para justificar o despedimento de trabalhadores do clube, o fim das refeições grátis na cantina ou o aumento do preço mínimo dos bilhetes para cerca de €78, Ratcliffe assegurou, à "Sky Sports", que o "Manchester United estaria falido no Natal" caso não fossem estes cortes, aos quais se juntam uma injeção de dinheiro do co-proprietário de cerca de €300 milhões.
"Estamos num processo de mudança, entendo que seja um período desconfortável e disruptivo, consigo empatizar com os adeptos. A resposta simples é que ficaríamos sem dinheiro no Natal caso não fizéssemos estas coisas. No fim deste processo, teremos uma organização mais limpa e eficaz", garantiu Ratcliffe. Ruben Amorim já manifestou desconforto com os despedimentos, que podem chegar a 450 trabalhadores.
O Manchester United tem uma dívida de cerca de €1,19 mil milhões. O clube, atualmente em 14.º da Premier League, não revelou como irá financiar o novo estádio. Omar Berrada, CEO do emblema, disse que o projeto será "uma oportunidade muito atrativa para investidores", mostrando-se "muito confiante em encontrar forma para financiar" o estádio.
Além da nova arena, as obras de renovação da área envolvente irão, segundo estudos apresentados pelo United, criar 92 mil novos postos de trabalho e construir 17 mil novas casas. Jim Ratcliffe garante que não haverá financiamento público para o estádio, mas sim para o projeto de requalificação da zona circundante. O governo britânico disse, em janeiro, que apoiaria essas obras, mas não esclareceu em que medida nem com que valores.
Outra questão que se coloca é o que acontecerá ao atual Old Trafford. Os red devils informam que as obras deverão demorar cinco anos, mas a data de começo é outro ponto que ainda não foi esclarecido. Norman Foster, o arquiteto responsável pelos projetos da nova casa dos tricampeões europeus, descreveu um "grande chapéu de chuva" que haverá por cima do estádio, bem como uma praça envolvente que será "o dobro da Trafalgar Square", em Londres.
A associação de adeptos do Manchester United diz que o plano "levanta mais perguntas do que fornece respostas claras". Reconhecendo que "o investimento é muito bem-vindo", o grupo sublinha que há "dúvidas sobre quais as consequências" da empreitada: "Os preços dos bilhetes continuarão a subir? A dúvida continuará a aumentar? O investimento na equipa será afetado, logo numa altura em que ele é tão necessário?"
“Alguns jogadores não são suficientemente bons, outros recebem em excesso”
Na mesma ronda de entrevistas que deu no dia anterior à apresentação do projeto do novo estádio, Jim Ratcliffe falou sobre a difícil situação desportiva do United. Sobre Ruben Amorim, o britânico elogiou o técnico, classificando-o como "um excelente treinador jovem", que estará "muito tempo" em Manchester.
À BBC, o homem que entrou para a estrutura acionista dos red devils em dezembro de 2023 foi bastante honesto na opinião sobre alguns jogadores: "Quando chegámos, já haviam sido contratados Antony, Casemiro, Onana, Højlund, Sancho. São coisas do passado, quer gostemos ou não, nós herdámo-las e temos de resolver isso. Alguns jogadores não são suficientemente bons, outros recebem em excesso. Demorará tempo até termos um plantel pelo qual possamos ser totalmente responsáveis", sublinhou Ratcliffe, que descreveu Bruno Fernandes como "um futebolista fantástico".
O CEO da INEOS reconheceu que as decisões de renovar com Erik ten Hag, no final da época passada, e de contratar Dan Ashworth, diretor-desportivo que esteve escassos meses em Old Trafford, foram "erros". E garantiu que o objetivo a que o próprio chama "Missão 21" — conquistar o 21.º título de campeão até 2028, data em que o United festeja 150 anos — continua a ser exequível: "Não é uma missão impossível. É bom termos metas e objetivos", disse ao Times.