
O mais bem-sucedido presidente da história do Sporting não pára de surpreender aqueles que em setembro de 2018 desconfiavam das suas capacidades para recuperar um clube traumatizado pela invasão de Alcochete e pelos anos loucos de Bruno Carvalho.
Quando foi eleito pela primeira vez, Frederico Varandas teve menos gente a votar na lista D (8717) do que João Benedito na A (9735) mas isso não o impediu de discursar vitória graças a uma percentagem superior (42,3% contra 36,8%) no mapa de escolhas dos sportinguistas.
Criticado logo na altura pela inabilidade revelada precisamente na leitura de um discurso ou na improvisação de uma declaração, até nisso o líder leonino tem feito progressos espantosos, bem espelhados em todo o plano da comunicação e na forma como os media trataram o que parecia ser o desfecho da novela Gyökeres.
Nenhum órgão ligado à informação desportiva ignorou a inteligente maneira como o clube fez sair o fumo branco (?) e verde resultante das negociações das últimas horas com o Arsenal. As manchetes de ontem coincidiram numa venda respeitadora dos 70 milhões de euros impostos desde o primeiro momento como a verba mínima para o acordo, sublinhando a heroica resistência do presidente à pressão efetuada pelo próprio jogador quando recusou apresentar-se no estágio de Lagos.
Feitas as contas com base no que tem sido publicado, os bicampeões nacionais preparavam-se para receber “imediatamente” 59,2 milhões de euros (aos 63,5 teriam de ser subtraídos os 4,3 que cabem ao Coventry City), com os restantes 10 milhões a ficarem dependentes da concretização de objetivos por parte do goleador da máscara durante a etapa ao serviço dos londrinos. Ou seja, o poder argumentativo de Varandas valeria um bónus de 5,2 milhões de euros, já que se tivesse aceitado a proposta arsenalista de 65 + 15 (estes 15 milhões em variáveis), não teria visto o agente de Gyökeres abdicar dos 6,5 milhões ajustados à comissão de 10% e dessa forma o lucro da transferência situar-se-ia numa etapa inicial em “míseros” 54 milhões de euros.
No futebol português, um capricho de 5 milhões de euros pode ter impacto, sendo curioso verificar que para o empresário do internacional sueco um montante superior, aparentemente, não significa obstáculo incontornável. Hasan Çentinkaya ter-se-á revelado disponível para prescindir da tal comissão de 10 %, contentando-se, como referiu esta segunda-feira o diário “Record”, com a verba que lhe cabe enquanto parte responsável pelo acerto do salário anual do “gunner” Gyökeres.
Se o escandinavo iria auferir até 2030 uma cifra de 8,3 milhões de euros/ano, parece que o generoso Çentinkaya estaria confortável com a perda de 2,4 milhões de euros, pois poderia ganhar no (recusado) acordo de 65+15 os já referidos 6,5 milhões e na nova versão não poderá fazer cálculos a mais de 4,1 milhões (ordenado total de 41,5 milhões no Emirates para o Bota de Prata europeu).
Enfim, notícias não desmentidas também deram a conhecer a disponibilidade do camisola 9 em retirar dois milhões à remuneração posta sobre a mesa pelo Arsenal, o que denuncia mais uma estranha jogada nos bastidores de um caso logo à nascença intrigante ou pelo menos desde que foi tornada pública a cláusula que obrigava o Sporting a pagar… 10 por cento a Hasan Çentinkaya caso rejeitasse uma proposta na fasquia dos 60 milhões de euros.
Talvez um dia o ex-diretor desportivo Hugo Viana possa ser esclarecedor sobre a matéria, enquanto o seu sucessor em Alvalade se desdobra em esforços para contratar em regime de urgência o substituto do imponente Viktor… na eventualidade de o processo ser mesmo oficializado para contento de Arteta.
O que é certo é que no meio do braço de ferro entre leões e Andrea Berta (o novo… diretor desportivo do Arsenal), fica a sensação de que ninguém se preocupou em apresentar um Luís Suárez destas andanças em tempo útil a Rui Borges.
Ainda por cima considerando a recusa do Sporting em adiar a data da disputa da Supertaça com o Benfica, resta saber se o capricho de 5 milhões de euros não pode sair muito caro à equipa que somou a Taça de Portugal ao (bi)campeonato. Tudo dependerá em boa parte da maneira como o esquecido mister de Mirandela afinar uma máquina que trabalha sem a peça prometida para alimentar o poder de fogo, seja ela nórdica ou colombiana.
Com tantos avanços e recuos, só no próximo dia 31 se perceberá verdadeiramente quanto ganhou ou perdeu Varandas no jogo de póquer com os vice-campeões de Inglaterra. Caso vença o Benfica na segunda final em três meses, o presidente pensará como em 2018. Menos Gyökeres ou mais Harders ou Suárez, o que interessa é quem discursa vitória apurados todos os votos que entram na baliza adversária.