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*com Rodrigo Costa
Há quem olhe para o quotidiano sobre o ponto de vista da Lei de Murphy, isto é, sobre a fórmula de que «se algo pode correr mal, vai correr mal». No entanto, já conheceu a ideia totalmente oposta, em que «tudo o que pode correr bem, vai correr bem»? Trata-se da Lei de Yhprum e é precisamente sobre este preceito que o protagonista desta história pretende conduzir o futuro da sua carreira futebolística.
Outrora comparado a Éder por ter marcado o golo que deu um Campeonato da Europa a Portugal, Pedro Correia, mais conhecido como Pedro Martelo, vive atualmente a melhor época de sempre enquanto sénior, no caso ao serviço do Leça FC.
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Com 11 golos e uma assistência em 19 jogos, o ponta de lança tem sido uma das peças fundamentais na máquina dos leceiros, que seguem na primeira posição da Série B do Campeonato de Portugal.
Depois de uma conversa com o avançado em 2021- altura em que voltava do empréstimo ao Badajoz -, o zerozero aproveitou este bom momento para falar novamente com o atleta de 25 anos, que quer ajudar a equipa a alcançar a segunda promoção consecutiva.
Após ter passado por algumas dificuldades para assentar noutros clubes, Pedro explicou o que tornou Leça o local ideal para singrar: «Tem a ver com uma grande época da equipa e com o facto de eu estar a ter o meu espaço. Tudo isso isso ajuda a que as individualidades sobressaiam. Desde o início que fomos um grupo muito forte e isso tem sido a chave para o todo o sucesso que temos tido nesta época», acrescentou o internacional jovem por Portugal que, na época passada, saiu da Península Ibérica para viver uma breve experiência na Irlanda, ao serviço dos Sligo Rovers.
Em busca do trevo de quatro folhas
Com pouco espaço encontrado na formação da costa irlandesa, o atleta português contou-nos as dificuldades que atravessou: «O futebol é completamente diferente do nosso e o as coisas também não estavam a correr muito bem porque na altura que eu entrei, venderam vários jogadores que eram importantes e a equipa a partir daí começou a descer um pouco.»
Natural de Évora, habituado ao calor da região alentejana, Pedro realçou ainda as diferenças climáticas dos países. «Passava mesmo muito mal por causa do frio e fazia-me alguma confusão. Foi um fator para eu não andar nos maiores ânimos; claro que isso depois afeta em tudo», vincou.
De regresso a Portugal, Martelo recebeu várias propostas, mas preferiu esperar até ao mercado de verão, altura em que foi abordado pelo Leça: «Sem dúvida que encontrei aqui o equilíbrio e a confiança que precisava para me sentir mais jogador, que é aquilo que todos ambicionam.»
Sete anos depois de marcar na final do Europeu sub-19 frente a Itália aos 109 minutos – o mesmo minuto em que Éder marcou na final de 2016 frente à França – Martelo recordou a conquista que o deixou com um «rótulo».
«Quando era mais novo, sempre que chegava a um sítio era "o campeão europeu" ou o "miúdo que fez o golo na final". Senti que as pessoas esperavam mais de mim do que aquilo que fui capaz de dar», confessou o atleta.
Depois de uma final com muita emoção à mistura, que também contou com golos de Jota e Francisco Trincão, Pedro Martelo acreditou que poderia tocar o céu:
«Depois daquilo que aconteceu, era praticamente impossível pensar negativamente e que as coisas iriam correr como correram até agora. Não estou a dizer que correram mal, mas também não correram como eu esperava.»
Um novo horizonte
Mesmo com a viagem atribulada que fez nas últimas temporadas, o foco positivo de Pedro Martelo, digno da lei de Yhprum, parece continuar presente: «O futebol é muito giro porque nem todos fazemos o mesmo caminho. Uns vão à volta, outros vão diretamente... Custou-me um bocadinho a assimilar tudo aquilo que tinha acontecido porque foi algo mesmo muito grande, ainda para mais tão cedo na minha carreira.»
Sem desânimo na luta por jogar em palcos maiores, Pedro agarra-se ao gosto por aquilo que faz e ao bom espaço «sem pressões» que tem no plantel orientado por Filipe Mesquita para voltar ao mais alto.
«Se há sete anos estava entre os melhores, o que é que me pode levar a não estar outra vez entre os melhores? É mais ao menos a isto que eu me agarro em cada dia para dar o máximo de mim e voltar a estar entre os melhores», referiu o jogador com grande entusiasmo.
Atualmente cimentado como o melhor marcador da Série B do Campeonato de Portugal, Pedro considerou que ser ponta de lança é muito mais do que simples números: «Cada um tem de se focar no que é, dar o melhor de si e ajudar ao máximo a equipa. Depois, os golos vêm por acréscimo. Foi algo em que me ajudaram muito aqui: não ter essa pressão do golo e sim de fazer as coisas como devem ser feitas para ajudar a equipa.»
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Com a cabeça no presente e focado em conseguir a promoção, Pedro Martelo despediu-se abordando um objetivo bem claro que tem pela frente: «Quero ir escalando para chegar cada vez mais longe na minha profissão, que é o que mais gosto de fazer. Ou seja, subir os escalões que forem precisos. Se for no Leça, é no Leça. Se não for no Leça... É uma coisa que não depende de mim nem do clube, só futuro saberá...»
Teremos então de esperar pelo futuro para saber o desfecho do Leça e de Pedro Martelo, que já passaram por tempos difíceis, mas esperam reerguer-se juntos até ao mais alto do futebol.