Alejandro Davidovich Fokina acabou como a personificação do desconsolo em Washington. Sentado no banco, já sem o boné e com fios de cabelo desmantelados para todos os lados, tinha os olhos avermelhados de tanto chorar, enxaguados enquanto Alex de Minaur o amparava com um braço sobre os seus ombros. O australiano tentava confortá-lo após o vencer sensacionalmente, mas dolorosamente para o espanhol: o adversário salvara três match points, o que de outro prisma se pode descrever como um triplo desperdício na hora H da parte de Fokina. Ciente dessa interpretação, o tenista desmanchou-se num pranto.

A final do ATP 500 de Washington foi quase há três semanas, a cumplicidade entre os jogadores viralizou e ficou do torneio a lição de que é possível um vitorioso dedicar-se a consolar um devastado antes de pensar em celebrar. Apesar do pranto, o espanhol levou dos EUA algo maior. Acho que as pessoas agora veem que jogo com confiança. Sei o nível que consigo ter no court ao ser consistente e, simplesmente, ser feliz e desfrutar, disse no rescaldo do torneio, refeito da desolação.

Ouvir de Davidovich Fokina, ou 'Foki' no diminutivo que carinhosamente o ténis lhe aplicou, que o espanhol confia nele próprio foi uma novidade de aplaudir face ao mergulho de cabeça no desconforto ao qual se dedicou desde o ano passado. Após mais de uma década com o treinador de sempre, o jogador separou-se de Jorge Aguirre no final de 2024, compôs uma nova equipa em seu redor e a custosa adaptação traduziu-se no seu jogo. Estava fora do top-60 em janeiro último vindo de uma época assim-assim, a perder bastante à primeira, visivelmente a custar-lhe conjurar o que em 2022 admitiu ser fulcral à Tribuna Expresso, quando esteve no Estoril Open: O que te fará jogar bem é o estado em que está a tua cabeça.

Feitas todas as mudanças, dobrado o ano, Fokina está a ter a sua melhor temporada, apesar das imagens que têm sido mediatizadas em relação ao seu percurso - as finais e as derrotas. Agora, vieram as lesões.

No sábado, o potente espanhol, capaz de ser um canhão do fundo do campo ou de adocicar toques perto da rede com a sua técnica, desistiu da partida contra João Fonseca na segunda ronda do Masters de Cincinnati, por culpa de uma lesão que pouco o deixou movimentar-se no piso rápido quando vencia o segundo set, por 4-0, após ganhar o primeiro (7-6). O espanhol ainda insistiu, mas, quando o brasileiro fez o 4-4 ao atropelar um adversário que só responder se a bola fosse na sua direção, dirigiu-se à rede para o cumprimentar e comunicar a desistência.

Já na semana anterior, no Masters de Toronto, se retirara da partida frente a Andrey Rublev, nos oitavos de final, primeiro sinal de que o corpo de 'Foki', de 26 anos, parece querer tocar no travão na época que o fez entrar, pela primeira vez (em agosto), nos dez melhores do ranking mundial.

Porque a cabeça do tenista de Málaga, tão comentada, de fora, por haver sinais de o trair nos momentos de maior pressão e que faz tempo o levou a jogar com uma meia de cada cor a bem da superstição, aparentava estar a conceder-lhe alguma paz. Davidovich Fokina parecia tê-la domada, apesar dos resultados que as notícias quiseram destacar. Em 2025, o espanhol perdeu três finais, mas verdade é que lá chegou em Delray Beach (ATP 250), em Acapulco (500) e Washington (500). Como chegara à do Masters de Monte Carlo, em 2022, onde este ano atingiu as meias-finais para ser superado por Carlos Alcaraz, algo impossível de lhe apontar.

Em maio, Fokina confessou ao site Clay que agora sabia lidar melhor com as derrotas, explicando que estar sempre a perder no último tramo da temporada passada o "tornou mais forte. O espanhol referia-se ao estado da sua cabeça. O que agora o faz periclitar parece ser o estado em que tem o corpo