«Gosto muito de Portugal e do Sporting. É a minha segunda casa»
Maurício aterrou em Alvalade como um desconhecido, oriundo do segundo escalão do futebol brasileiro (Sport), foi visto, inicialmente, como o quinto central na hierarquia de Leonardo Jardim, mas rapidamente conseguiu encontrar o seu espaço e criar uma história bonita de leão ao peito.
Numa altura de muita turbulência no Sporting - chegou no ano de transição na estrutura leonina, com Bruno de Carvalho a presidente, e após o ano do desastroso (e traumático) sétimo lugar -, o central brasileiro fez parte do grupo que conseguiu restaurar alguma estabilidade e união no seio do clube.
Em 2013/2014, recorde-se, o Sporting - sob o comando de Leonardo Jardim - lutou com o Benfica pelo título (terminou no segundo lugar) e efetivou o regresso à elite europeia. Duas temporadas importantes na vida do leão e na carreira de Maurício.
Em Portugal, o central lutou contra as probabilidades, conquistou um lugar de destaque na defesa do Sporting e, folheando o passado - apesar da Taça de Portugal no currículo -, fica apenas a «mágoa» de não ter conseguido ser campeão pelos leões.
À margem da visita do zerozero a Roma - a propósito do Lazio - FC Porto -, o nosso portal esteve à conversa com o atual jogador do North Esporte Clube e aproveitou para recordar alguns dos momentos marcantes do central no Sporting.
Desde o primeiro contacto - e primeiro contrato - memorável com Bruno de Carvalho, ao «visionário» Varandas, Maurício deixou elogios e assumiu ter «saudades da sua segunda casa».
«'Se quiseres assinas, se não quiseres voltas para o Brasil'»
Zerozero: Saudades de Portugal/Sporting?
Mauríco: Muitas. Gosto muito de Portugal e do Sporting. É a minha segunda casa. Identifiquei-me muito com a cultura, as pessoas - fui sempre muito bem tratado - e quando me perguntam qual o melhor país e clube onde estive, respondo de imediato: Portugal e Sporting.
zz: E nem esteve muito tempo em Portugal.
Maurício: Fui muito feliz no Sporting. Mas, no início, vim para ser, basicamente, o quinto defesa central. O Rojo, Dier, Semedo, Fokobo estavam todos à minha frente na hierarquia, mas, graças ao meu trabalho e dedicação na pré época consegui o meu espaço. Depois, a nível oficial, comecei como titular depois da lesão do Rojo e, a partir daí, agarrei o meu lugar no 11. Foi uma época boa para mim, mas para o clube também, que lutou pelo título e conseguiu regressar à Champions no ano seguinte, o que foi importante.
zz: Mas acabou por não apanhar um Sporting muito estável...
Maurício: Sim... Ainda antes de ir para Portugal, por exemplo, mandaram-me o contrato para o Brasil com umas determinadas condições. Contudo, quando cheguei a Lisboa, apercebi-me que tinha em cima da mesa um contrato diferente e que não era tão favorável para mim. Falei com o presidente [Bruno de Carvalho] que não cumpriu com o que tinham combinado e ele apenas me disse: 'Se quiseres assinas, se não quiseres voltas para o Brasil'.
zz: E assinou.
Maurício: Assinei, mas ele não foi nada correto, ao não ter cumprido com a palavra. Disse logo ao presidente: 'Eu vou assinar porque confio muito no meu trabalho e podem ter a certeza que, daqui a uns anos, irão me vender por milhões'. Ele riu-se, mas no final da temporada já tinha recebido sondagens do Man United, Lazio e Marseille. Seis meses depois da primeira temporada, acabei mesmo por sair.
[N.d.r: Maurício foi vendido pelos leões à Lazio, numa transferência na ordem dos 2.6 milhões de euros]
Maurício 13 títulos oficiais |
zz: Como foi a relação com o presidente [Bruno de Carvalho] a partir daí?
Maurício: Com o tempo a nossa relação melhorou. Começámos a ter melhores resultados [do ponto de vista desportivo], estava a fazer um bom trabalho e isso ajudou. Mas sou muito grato ao presidente pela oportunidade que me deu. Foi-me buscar a um clube pequeno no Brasil.
zz: E o Varandas, estava à espera de o ver como presidente?
Maurício: O Varandas era o nosso médico e falava muito com ele. Era muito inteligente, um visionário que percebia muito de futebol, mas para ser muito sincero não imaginava que ele um dia fosse ser presidente do clube.
zz: O que se lembra dele em concreto?
Maurício: Recordo-me de trocar muitas ideias com o Varandas no balneário, sobre os jogadores, o nosso plantel, tática, etc. Para mim, teria sido muito melhor se Varandas tivesse sido meu presidente. Ainda para mais tinha uma boa relação com ele. Ele gostava muito de participar, de estar no balneário, perto dos jogadores e é algo que no Brasil nós não estamos muito habituados. Os médicos distanciam-se um pouco mais. Lembro-me de pensar muitas vezes para mim: 'Nossa, o médico percebe muito de futebol.'
zz: O Frederico Varandas vai ter de tomar uma decisão importante após a saída de Amorim. [N.d.r: a entrevista foi realizada antes de João Pereira ser oficializado nos leões]
Maurício: Certo, mas vai tomar uma boa decisão. É um homem inteligente, que sabe negociar e certamente irá encontrar a melhor opção para o Sporting. O Amorim, ainda assim, não será fácil de substituir. Fez um trabalho incrível. Estar no Sporting tantos anos não é fácil.
zz: Chegou a jogar contra ele.
Maurício: Sim, e na altura dava para perceber que era um jogador muito inteligente e que tinha uma comunicação com os jogadores muito boa, sem dúvida.