Lauren Holiday nunca tinha sentido uma dor de cabeça como aquela. Estava grávida de três meses e os motivos do desconforto podiam ser vários. Naquele caso, tratava-se de um tumor na cabeça. Ligou ao marido, Jrue Holiday, que lhe transferiu o apelido quando se casaram, em 2013. Pela mulher que, inicialmente, quando ambos estavam a deixar a universidade de UCLA, lhe disse que não o via como uma prioridade na sua vida, o jogador da NBA resolveu fazer uma pausa na carreira para a ajudar a recuperar.
A primeira filha do casal nasceu prematura. Quatro semanas depois, Lauren Holiday estava no bloco operatório para uma cirurgia que durou 10 horas até que os médicos lhe removessem o tumor alojado na parte inferior do crânio. “A única coisa que tenho de errado é que os meus olhos estão um pouco caídos e não ouço da minha orelha direita, mas tenho uma bebé saudável”, suspirou à “ESPN”.
Um ano antes, em 2015, Lauren Holiday tinha terminado a carreira como jogadora de futebol. Dos ostentáveis feitos obtidos, o que mais fresco estava gravado nas botas foi o golo na final do Campeonato do Mundo que ganhou pelos Estados Unidos. O controlo aéreo de Vancouver perdeu o rasto à bola, mas uma pessoa sabia muito bem onde esta ia cair. Aquele meteorito largado a partir do céu numa órbita vertical foi amparado na perfeição pela atenção do pé direito de Lauren. Foi um modesto contributo para uma goleada por 5-2 ao Japão.
Foi o primeiro título mundial de uma geração de ouro dos Estados Unidos que contava também com Carli Lloyd, Alex Morgan e Megan Rapinoe. As duas medalhas olímpicas de Lauren Holiday passavam a estar bem acompanhadas por uma referência à conquista que voltou a empolar a seleção norte-americana como uma referência.
Findada a trajetória como jogadora, mantendo-se dentro do futebol, mudou de perspetiva quanto ao mesmo. Não que se tenha desapaixonado. Se assim fosse não estaria disposta a arriscar alguns dólares para depositar em equipas. Tudo começou pelo Angel City, uma equipa feminina norte-americana cuja propriedade está esmigalhada por um conjunto alargado de investidores que inclui, por exemplo, Natalie Portman. Porém, como disse no “Kickin' It”, programa da CBS, estando “a trabalhar como parceira da Avenue Capital [empresa de investimentos]”, o seu grande sonho é continuar a “comprar equipas desportivas femininas”.
“Quero estar no topo. Culturalmente, há muita coisa que precisa de mudar. Quero criar uma cultura que é positiva para as mulheres. Somos tão competitivas como os homens e as nossas modalidades podem ser tão lucrativas como as deles”, justificou.
Ainda assim, Lauren Holiday não parece interessada em que o portefólio se fique apenas pelo desporto praticado por mulheres. Como avançou o jornal Record e confirmou a Tribuna Expresso junto de fonte do clube canarinho, a antiga jogadora vai entrar na SAD do Estoril Praia, que tutela a equipa masculina a competir na Primeira Liga. A Global Football Holdings continuará a deter a maioria da SAD do clube da linha de Cascais, mas vai ceder parte do capital à Avenue Capital, empresa através da qual Lauren Holiday integrará o grupo de investidores do Estoril (em simultâneo com o dono da Avenue Capital, Todd Richard Marcy).
Ao que o nosso jornal apurou, existe a possibilidade da equipa feminina do Estoril, que compete no principal escalão da vertente, passar a fazer parte da SAD (bem como o futebol de formação). Para já, não passa de uma hipótese em relação à qual Lauren Holiday não teve oportunidade de se manifestar visto que não se deslocou a Portugal para a assembleia-geral onde também ficou definido que Helena Costa, treinadora e recentemente comentadora televisiva, fará parte da direção desportiva.
De resto, têm sido dias particularmente ativos para a vida de empresária de Lauren Holiday. O “The Athletic” escreve que a mulher de 37 anos passou também a fazer parte do grupo de investimentos Mercury/13 que já possui a equipa feminina do FC Como, emblema italiano. Citada pela mesma publicação, a duas vezes campeã da NWSL sublinha que o número de clubes detidos por ex-jogadoras tem que aumentar para que “o jogo continue a crescer”, porque alguém que nunca esteve dentro do campo não vai “servir as atletas da mesma maneira”.
Além dos negócios, a dimensão solidária de Lauren Holiday também tem vindo a ser enaltecida. Em 2023, em conjunto com Jrue Holiday, campeão da NBA ao lado do português Neemias Queta, ganhou Muhammad Ali Sports Humanitarian Award entregue pela ESPN a atletas cuja “liderança contínua e demonstrada criou um impacto positivo na comunidade através do desporto”. Nesse ano, com recurso ao fundo JLH, o casal distribuiu $3 milhões que financiaram 156 pequenos negócios e organizações sem fins lucrativos geridos por membros da comunidade negra.
É também o nome de Lauren Holiday que batiza o NSWL Impact Award, que distingue atletas do campeonato feminino norte-americano que se evidenciem pela sua intervenção social. “Fui operada ao coração aos três anos e a minha família uniu-se para me ajudar. A minha irmã sacrificou-se, o meu irmão sacrificou-se... Saber que as pessoas fizeram isso por mim, fez-me pensar em como podia fazer isso por outros”.
Hall of Famer desde 2023, considerada Futebolista do Ano dos Estados Unidos em 2014, o sentido de missão de Lauren Holiday não se esgotou e Portugal parece que também vai ter oportunidade de notar o seu efeito.