João Rebelo Martins, Bruno Campos, e Marcos Rodrigues, da equipa moçambicana Korridas, conquistaram em 2024 o Campeonato Sul Africano de Endurance, na Class C do South African Endurance Series (SAES).

O título alcançado fez de João Rebelo Martins, o primeiro português a viver em Portugal que alcançou a vitória num campeonato sul africano de automobilismo.

O piloto de Oliveira de Azeméis, falou ao Autogear sobre uma temporada de grande resiliência e aventura que não começou da melhor maneira, mas que acabou em festa.

Autogear – Como é que surgiu a oportunidade de correr no campeonato Sul Africanos de Endurance?

João Rebelo Martins (JRM) – Em dezembro de 2023 fui convidado pela Korridas e pelo Bruno Campos para ser o terceiro piloto da equipa nas 9 Horas de Kyalami – a prova mais importante do continente africano. Fui o piloto mais rápido da equipa, evoluímos muito ao longo do fim-de-semana e a equipa convidou-me então para competir em 2024, em todas as provas.

Autogear – Foi fácil reunir todos os apoios necessários para esta aventura em África?

JRM – Desde 2001 que trabalho diariamente para colocar projetos desportivos de pé e nunca é fácil: selecionar empresas, perceber o que é que elas lucram ao estarem associadas ao meu projeto, convencê-las a investir. Para a África do Sul, que é um mercado enorme e com uma comunidade portuguesa muito grande e orgulhosa do país e dos seus antepassados, contactamos empresas que pudessem ter interesse em se mostrar por lá. Além disso, dado a espetacularidade do campeonato e o retorno mediático que gera, quer no continente africano quer naquilo que conseguimos reproduzir em Portugal, conseguimos atrair empresas que pretendem ganhar notoriedade de marca naquele continente.

Autogear – Como é que foi estar a participar num campeonato que te obriga a viagens constantes entre Portugal e a África do Sul?

JRM – Tenho muitas milhas para gastar nos próximos anos! É cansativo, foram 6 viagens, longas, que me obrigaram a estar muito tempo longe de casa.

Autogear – Para quem não conhece o campeonato sul-africano de Endurance, pode parecer que se trata de uma competição nada competitiva. É essa a realidade?

JRM – É extremamente competitivo! São 4 categorias – GT´s, Protótipos, Turismos e Nacional ( uns Cobra V8 de fabrico sul-africano), nas provas ao redor de Joanesburgo a grelha tem 45 automóveis, 25-30 em Port Elizabeth, tem excelentes pilotos porque a maioria das equipas tem um piloto profissional a fazer equipa com os gentleman drivers. A África do Sul, há décadas, tem excelentes pilotos. A título de curiosidade, o Henk Lategan, que dominou o Dakar 2025 em muitas etapas e acabou em segundo lugar, compete no SAES, com um Porsche.

Autogear – Adaptação a um campeonato pouco conhecido como o sul-africano, foi fácil?

JRM – Não há nada fácil, mas eu tenho curiosidade e normalmente adapto-me bem a novas situações, a novas pistas. Por isso, gostei muito e joguei com isso a meu favor.

Autogear – O facto de teres corrido numa equipa moçambicana sedeada na África do Sul, contribuiu para uma adaptação rápida ao campeonato?

JRM – Apesar de eu estar à vontade com o inglês, falarmos todos português é uma vantagem; especialmente nos momentos de descontração, que também são necessários durante 4 dias de competição.

Autogear – Sendo um país com fãs muito fervorosos pelo desporto automóvel, como foi o primeiro impacto quando chegaste à primeira corrida?

JRM – Fantástico, melhor ainda quando coloquei a bandeira portuguesa na boxe e tive, a cada prova, centenas de pessoas a dizerem que eram portuguesas ou luso-descendentes. Na última prova de 2024, as 9 Horas de Kyalami, o Senhor Embaixador de Portugal esteve connosco na boxe, sendo um verdadeiro fã do desporto motorizado.

Autogear – A temporada teve altos e baixos, qual a corrida que tiveste mais dificuldade?

JRM – A primeira, RedStar. A pista fica no meio de uma região agrícola, Delmas, sem grandes infraestruturas e tivemos que ficar a dormir em Joanesburgo, a hora e meia e viagem. Era a primeira prova do campeonato, tivemos problema nos treinos livres e pouco andei com o carro. Fiz os cronometrados, 4 voltas, e a estratégia seria a de eu entrar para a duas horas finais de prova. Desistimos com problemas mecânicos passados 20 minutos da prova começar.

Autogear – Quando iniciaste a temporada estava, certamente, longe de pensar que iria chegar ao título. Quando é que começaste a acreditar que poderia ser possível?

JRM – Na última prova, a 9 Horas de Kyalami! Nós desistimos nas duas primeiras corridas, RedStar e Zowartkops, tínhamos ganho em Port Elizabeth e a 4 Horas de Kyalami. Num campeonato onde não se deitam resultados fora, as duas desistências eram muito penalizadoras e o título só seria possível se ganhássemos as duas corridas em falta – 3 e 9 Horas de Kyalami – e que os adversários tivessem problema como nós tínhamos tido.

A vitória nas 3 Horas e o 4º lugar nas 9 Horas, com as três primeiras posições a serem ocupada por outsiders, possibilitou-nos conquistar o título.

Autogear – Para 2025, vais defender o título conquistado?

JRM – Eu gostava. Este ano o campeonato vai a Kirlany, na Cidade do Cabo, e gostava muito de competir nessa pista, que me é desconhecida. Mas a decisão é da equipa. E se me chamarem, vou com todo o gosto.