Ao longo dos anos, Portugal tem visto muitas estrelas cadentes no céu, mas têm sido muito mais comuns nos relvados. Todos os anos parece que um novo meteoro aparece nos relvados portugueses, pronto para iluminar o imaginário de milhões de fãs de futebol.

Contudo, o problema é que cada vez mais, estas estrelas são fugazes, com um tempo de observação pequeno e rapidamente parecem desaparecer dos nossos radares.

Só na última década nomes como Caetano, Iuri Medeiros, Nélson Oliveira, Rony Lopes, Rafael Camacho, Francisco Geraldes, Gonçalo Paciência, Diogo Leite, Tiago Dantas e até Renato Sanches, foram a determinada altura aclamados como o futuro do futebol português.

Apesar de muitos destes terem chegado a ter uma carreira com alguma substância, passando por ligas como a Ligue 1 e a Bundesliga, ficaram muito abaixo das expectativas do público português. Mas há um nome que é a representação total deste flagelo, João Félix.

Quando Félix assumiu a titularidade do Benfica na época 2018/2019 era visto como a próxima grande estrela do futebol mundial. Com apenas 19 anos, Félix tornou-se a figura central do Benfica de Lage, tendo feito 20 golos e oito assistências em 43 jogos.

Seguiram-se prémios e propostas dos maiores clubes do mundo, tendo o português, como todos sabemos, optado por continuar o seu rumo ao estrelato no Atlético de Simeone. O que se seguiu? Desde a sua saída do clube da Luz, João Félix fez 228 jogos, onde marcou 56 golos. Em nenhuma das seis épocas, o avançado marcou mais de 10 golos. Serão estes números assim tão maus? Ao ponto de se especular um regresso ao clube encarnado de onde saiu em 2019 por mais de 120M?

A resposta é não. Os números assim não sãos maus, aliás, até podemos dizer que são minimamente razoáveis, tendo em conta a instabilidade na carreira de João Félix. Então qual é o problema? O que leva o público português e mundial a olhar para o jogador do Milan como uma estrela que não soube voar? E será isto um problema somente de Félix?

Será culpa da pressão atmosférica? Isto é, da pressão que os media, público, treinadores e familiares colocam nestes jovens? Será isto a razão pela qual estas estrelas caem tão depressa? Um jovem faz cinco jogos positivos e rapidamente é colocado pedestal irrealista. Já não há tempo nem paciência. A comunicação social, público e clubes criam mitos com a mesma facilidade que os matam. Fará algum sentido alguém com 17 anos ser o novo Ronaldo e aos 19 já estar acabado?

Ou será mesmo a trajetória escolhida que não foi a melhor? Talvez o caminho traçado não fosse tão perfeito como se visionava. Talvez tenham surgido obstáculos, clubes que não correspondiam às necessidades do jogador, decisões tomadas por agentes mais preocupados com lucro do que com desenvolvimento.

Mas João Félix não será também culpado? Alguém que passa em diversos clubes, diversas ligas e não consegue alcançar a altitude que prometeu não deve ser culpabilizado?

Durante esta crónica deixei algumas perguntas no ar. Tenho esperança que ao ler isto, todos os culpados se possam auto-questionar, pois, no fundo, somos todos culpados. Basta vermos um ponto de luz no céu rapidamente imaginamos que o mesmo é uma estrela.

Todos tentam conquistar esta “estrela”, reclamando-a como deles. Mas depois descobre-se que se calhar temos de dar mais tempo, que por enquanto ainda é só uma nuvem de gás e poeira e que vai demorar até se transformar numa estrela. Mas vivemos no século 21, não podemos perder tempo com coisas como estas. E assim se vão criando e matando estrelas mesmo antes destas
terem tempo para se formarem.

Apesar disso, não podemos esquecer que se a própria nuvem não quiser trabalhar, esforçar-se, disciplinar-se para se tornar numa estrela, então nem os melhores astrónomos o conseguem fazer.

Não criem estrelas se não estão preparados para esperar que deixem de ser nuvens. Não digas que és uma estrela se sabes que não queres te dar ao trabalho de deixar de ser nuvem.