Um dos temas que mais controvérsia gerou esta semana foi a não utilização de Geovany Quenda num dos jogos realizados pela seleção nacional.

A decisão impossibilitou o jovem de quebrar um recorde com mais de quarenta anos: Quenda passaria a ser o mais novo de sempre a estrear-se com a camisola das quinas.

Reconheço que o tema é muito sensível, até porque pressupõe análise em variáveis distintas: a emocional, a técnica e a que mora ali pelo meio de uma e de outra.

Num universo como este, sempre suscetível de gerar mil e uma opiniões, parece-me justo recordar algo factual. Conhecimento de causa e legitimidade técnica só tem uma pessoa: o profissional contratado para tomar decisões. Aquele que tem as ferramentas, os meios e a competência para fazer escolhas. E esse é o selecionador nacional.

Tal como os seus antecessores, Roberto Martinez agarrou este projeto com objetivos bem definidos: conquistar vitórias, mostrar resultados, garantir qualificações e ganhar troféus.

Naturalmente que as suas opções não são à prova de bala, pelo contrário. Elas podem e devem ser elogiadas ou criticadas porque são públicas e, mais importante ainda, porque afetam uma área muito próxima do nosso coração.

Como perceberão, não me sinto qualificado para discutir se Geovany Quenda devia ou não devia ter-se estreado nesta jornada. E não me sinto porque não sou treinador, não sei o que se passa lá dentro, não vi como decorreram os treinos, não conheço o estado físico e anímico dos convocados, não sei qual o seu nível de empenho nem faço ideia de qual é o plano que a equipa técnica terá traçado para os atletas.

A título pessoal, baseado numa perceção que pode não ser a mais justa, penso que estavam reunidas condições para o "menino" estrear-se, não pelo tal recorde individual (esta é a seleção nacional), mas porque isso reconheceria o mérito evidente de alguém que tem-se destacado desportivamente. Além disso, sob o ponto de vista humano, motivacional e até como exemplo para outros jovens, a mensagem seria poderosa.

Mas se há coisa que aprendi ao longo dos muitos anos de vida é que críticas ou opiniões nunca devem ser extremadas. Nunca é aceitável que o desacordo seja expresso pela via do insulto.

Mais uma vez, a linha que separa a reação emocional da ofensa foi esmagada por muita gente que tem obrigação ética de moderar as suas afirmações. E é precisamente esse tipo de posicionamento que (também) contribui para denegrir a reputação do jogo e dos seus protagonistas.

O direito à crítica é fundamental em qualquer sociedade livre e deve ser exercido sempre, até como ferramenta para refletir, reavaliar e melhorar.

Mas a "forma" tem que ter outra elevação e elegância. Outra educação. Quando não tem, não é o alvo que fica em cheque, mas a imagem e credibilidade de quem não se contém.

O jogo precisa de gente lúcida, dentro e fora das quatro linhas. Só assim pode ganhar valor e crescer como produto.

Roberto Martinez não terá tomado aos olhos da maioria (aos meus também) a melhor decisão. Mas daí até ofender a pessoa, atacar o homem, ridicularizar o profissional e negligenciar os resultados estratosféricos que já alcançou para a "nossa equipa" vai uma diferença abissal.

Às vezes é preciso respirar duas ou três vezes antes de dizer coisas certas da forma errada.

Se não for assim, o futebol será sempre um pequeno caos e a obrigação moral de muitos de nós é a oposta.