Com o progresso das tecnologias da informação as estatísticas têm um grau de apuro cada vez maior no desporto. Se no futebol sabemos sempre quem é o melhor marcador de grandes penalidades ou a equipa que mais golos marca depois do intervalo, no desporto automóvel ficamos a conhecer sem margem para dúvidas quem é mais consistente, mais rápido ou mais atormentado por problemas mecânicos.

No que respeita ao Rali de Portugal, que volta à estrada a partir de quinta-feira, 15 (ainda que os troços em terra só comecem na sexta-feira de manhã, na Lousã), o que nos dizem as estatísticas dos últimos cinco anos?

Em primeiro lugar, definem uma razoável correlação entre a vitória em terras portuguesas e a conquista do título mundial: entre 2019 e 2024, nas cinco edições disputadas (em 2020, o confinamento por causa da covid-19 inviabilizou a realização da prova portuguesa), três dos cinco vencedores foram também campeões do mundo. Foi o caso de Ott Tänak em 2019 e Kalle Rovanperä (2022 e 2023).

Domínio absoluto da Toyota

Depois, que há um domínio esmagador da Toyota nas últimas cinco edições. Todos os vencedores guiavam carros da marca japonesa: Ott Tänak (2019), Elfyn Evans (2021), Kalle Rovanperä (2022 e 2023) e Sébastien Ogier (2024). A Toyota destronou a Lancia, tornando-se na marca com mais vitórias em Portugal (nove, das quais cinco consecutivas).

Tribuna

Finalmente, a edição do ano passado marcou a queda de um recorde. Ogier fez história, gerindo a vantagem de 13 segundos que trazia para o último dia de prova (ronda de Fafe), vencendo a edição 2024 do rali português e desempatando um recorde que partilhava com o lendário Markku Alen, ambos com cinco vitórias, Alen vencera em 1975, 1977, 1978, 1981 e 1987. Ogier, em 2010, 2011, 2013, 2014 (sempre no Algarve) e em 2017 já no atual figurino.

Mas, como escrevi o ano passado, tudo isto é aritmética. O que interessa é a emoção e o coração e isso não há petrodólares que comprem: teremos rali em Portugal pelo menos até 2026 e este público bem o merece.

Duas homenagens

Falando de emoção, duas notas, devidamente documentadas fotograficamente: 2019 marcou a evocação do pai do Rali de Portugal, César Torres (desaparecido em 1997), lembrado por uma tarja de espetadores no circuito de Baltar.

E a edição anterior assinalou a despedida de uma das figuras mais populares de todos os tempos, Michele Mouton, vencedora da prova de 1982 e, nos últimos anos, delegada da FIA para a segurança dos troços. Aplaudida pelos espetadores, saiu do carro guiado pelo antigo campeão nacional de ralis, José Pedro Borges, e despediu-se da prova no mais simbólico dos lugares: a descida do Confurco, no troço de Fafe, junto a Várzea Cova.