
Miguel Cardoso, extremo português do Kayserispor, conta em entrevista a A BOLA como foi ao processo de adaptação na Turquia, na Rússia e em Espanha, onde passou. Diz o jogador que, em Moscovo, acabou por não ter uma passagem tão feliz quanto pretendia e relembra como foi viver o período de COVID-19 em solo russo.
— Como foi a adaptação à vida na Turquia?
— Foi muito fácil. Também já tinha passado pela Rússia, não era a primeira vez que saía de Portugal. Já tinha enfrentado um choque de realidade relativamente aos russos e considero que na Turquia foi mais fácil, por já vir com essa bagagem. Claro que a cultura é diferente, eles são muçulmanos, têm os seus costumes, a culinária também é diferente. Mas levo uma vida muito simples. A culinária do jogador de futebol acaba por ser um bocado restrita para nos cuidarmos. E desse ponto de vista acho que foi uma adaptação muito fácil e tenho gostado muito de viver na Turquia.
— Antes destes anos na Turquia esteve na B-SAD e, antes disso, na Rússia, numa passagem que não foi tão positiva.
— Sem dúvida. Considero que a minha primeira época de Dínamo foi positiva mas depois entretanto meteu-se a COVID-19, o campeonato parou, a direção acabou por mudar, houve uma série de mudanças no clube que ditaram a minha saída na altura por empréstimo para a B-SAD e não voltei a jogar pelo Dínamo, com muita pena minha. Mas é como digo: às vezes há males que vêm por bem e o que é certo é que vim para o Kayserispor e desde aí tenho tido muita regularidade. Os números também falam por si e sinto-me muito feliz por estar aqui e poder sentir-me importante no clube.
— Chegou ao Dínamo Moscovo em 2018. Como é que foi então esse choque de adaptação à vida na Rússia?
— Diz-se que o primeiro inverno é difícil porque as temperaturas são, a partir de fins de outubro, inícios de novembro, muito frias. A própria gastronomia também é diferente. Acho que não estava tão preparado na altura para esse choque, apesar de considerar a minha primeira época muito positiva, joguei quase sempre. Mas gostei muito de estar na Rússia e se não fossem tantas as mudanças no clube por lá tinha continuado. Tinha todas as condições para jogar no Dínamo. Foi um clube onde gostei muito de jogar, por ser um clube grande na Rússia, com todas as condições de clube grande. Foi uma pena, mas o futebol é assim e às vezes temos de seguir caminhos diferentes.
— Fale-me desse tempo de COVID-19 em Moscovo.
— Fechou tudo. Não consegui viajar para Lisboa. A minha família também não conseguiu viajar para Moscovo. Primeiro fechou-se por 15 dias, depois mais 15 e assim sucessivamente. E acabei por ficar cinco meses sozinho. Três deles, quase quatro, mesmo fechado no apartamento, ninguém podia sair de casa. A não ser para fazer compras ou coisas desse género, por questões de segurança. Eles foram bastante restritos nesse aspeto. Depois lá começámos a treinar e acabei por assinar o empréstimo com a B-SAD.
— Foi a segunda passagem que teve pelo estrangeiro. A outra foi pelo Deportivo Corunha, onde jogou na equipa B e depois pela equipa A. E há um jogo que salta à vista. Como foi, para um jovem de 21 anos, mudar de país e estar a enfrentar o Barcelona de Messi, Suárez e Neymar?
—É uma história engraçada, porque eu saio do Real Sport Club para a equipa B do Deportivo. Não foi fácil, foi a primeira vez que saí de Lisboa. Mas do ponto de vista da adaptação as coisas correram muito bem. E nesse jogo de Barcelona… Eu já tinha jogado antes para a Taça, também tinha corrido muito bem, mas foi em Barcelona que me estrei na La Liga e foi a partir daí que parecia que tinha o mundo aos meus pés. Foi um jogo marcante para mim a nível pessoal. Poder estrear-me no campeonato espanhol, ainda mais ser em Camp Nou, contra os jogadores que mencionou, foi muito especial para mim. Depois veio o empréstimo ao União da Madeira, que não correu tão bem. Há que saber reconhecer.
— Porque diz isso?
— Era natural que acabasse por ser emprestado, para poder ter mais minutos, numa competição diferente, mas havia outras opções. Optei por ir para Portugal, para a União da Madeira, que acabou por não ser uma boa opção, porque acabei por nem jogar muito e, ao mesmo tempo, desci de divisão. Penso que acabou por não ser uma boa opção, mas a vida é feita de opções e nem sempre estão de acordo com aquilo que pensamos que vai acontecer.