Quase 16 anos depois, o novo Mestalla vai voltar a ser construído. Iniciado em 2007, o projeto do novo estádio do Valência foi interrompido em 2009, devido a problemas financeiros. No centro da cidade, ficou o esqueleto. Uma megaestrutura em betão, inacabada, a recordar o fracasso da construção do novo ex-libris da cidade da costa do Mediterrâneo. Assim era até ontem. Mais de 15 anos depois da paragem, as máquinas voltaram à atividade, com mudança de casa marcada para 2027/2028.
«O nosso templo transforma-se em algo muito maior. É o nosso lugar no mundo, criado com um compromisso: honrar o clube e este eterno sentimento.» É assim que o clube anuncia o reinício de um projeto que, em 2009, ficou paralisado por falta de pagamentos. A chegada de Peter Lim, recebido em 2014 pelos adeptos em apoteose, prometeu desenvolvimentos no novo recinto, que nem com várias propostas de concessões e cedências permitiu que os trabalhos fossem reatados.
Dinheiro a menos e estádio a mais
Quando se tornou acionista maioritário do Valência, Lim prometeu que o novo estádio estaria pronto na altura do centenário do clube, em 2019. Uma hipótese que foi posta de parte dois anos depois. O primeiro projeto, que previa 75 mil pessoas nas bancadas, foi reduzido em 2017, para agora permitir 50 mil, sensivelmente o mesmo número de espectadores que o Mestalla recebe agora. O parque de estacionamento seria reduzido nessa nova proposta, bem como a qualidade dos materiais. Decisões feitas em nome da contenção de custos, mas que nem assim permitiram que o projeto avançasse. Uma injeção de capital da Liga que permitia o investimento de 84 milhões de euros em estruturas chegou em 2021, um ano depois do clube ter tentado, sem sucesso, vender o recinto antigo. Tudo parecia correr mal, até que, em 2024, veio a felicidade. Pelo menos, parcialmente.
Há projeto, mas não há Mundial
Em fevereiro de 2024, foi anunciado um novo projeto para o Nou Mestalla. 70 mil lugares, todos cobertos e o «laranja mediterrâneo» como cor principal, de acordo com a identidade do clube e com «a cor do pôr do sol que bate na cidade», que obriga a um investimento superior a 100 milhões de euros, por cima dos cerca de 200 que já haviam sido investidos. Em junho, a Câmara Municipal aprovou esse mesmo projeto, mas, em julho, chegou a novidade que causou revolta: a cidade de Valência estava fora do Mundial 2030, organizado em conjunto com Portugal e Marrocos.
«A medida tomada hoje surpreende depois de o Valência ter anunciado a aceitação das condições, a 28 de junho, e sobretudo depois de ter obtido a licença de construção do Nou Mestalla, que contempla prazos para a execução de obras que mais do que cumprem os requisitos de tempo estabelecidos pela FIFA para as candidaturas à sede do Mundial», disse o clube em comunicado, queixando-se de «a terceira capital espanhola ficar sem um dos eventos futebolísticos mais importantes». «Esperamos que a decisão hoje conhecida não seja definitiva, que seja reconsiderada e, portanto, que não se cometa tamanha injustiça com uma cidade sempre ligada ao desporto de alto nível e reconhecida mundialmente pelo seu sucesso na organização da competição.»
Decisão de vanguarda fica atrás dos rivais... outra vez
Se a data for cumprida, a mudança dar-se-á 21 anos e mais de 300 milhões depois da colocação da primeira pedra. O Valência, que corre atrás de Real Madrid, Barcelona e Atl. Madrid na luta por protagonismo no futebol espanhol, tinha aqui um ponto de vantagem: ia ser o primeiro dos quatro a evoluir o seu recinto. Agora, a data de finalização da obra é de um ano depois do novo Camp Nou ser completado. Ou seja: até neste aspeto, em que podia estar na vanguarda, o Valência fica atrás do novo Bernabéu, dos merengues, do Nou Camp Nou, dos catalães e do Metropolitano, dos colchoneros.
Ainda assim, a nova casa estará acabada. Pelo menos, à partida.